Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Suzana Reck Miranda (UFSCar)

Minicurrículo

    Bacharel em música (piano) pela UFSM, mestre e doutora em Multimeios (cinema) pela UNICAMP. Professora Associada do Departamento de Artes e Comunicação (DAC) e do Programa de Pós-Graduação de Imagem e Som (PPGIS), ambos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É pesquisadora e autora de vários textos (artigos e capítulos de livros) sobre som e música no cinema.

Coautor

    GEÓRGIA CYNARA COELHO DE SOUZA (UEG/UFG)

Ficha do Trabalho

Título

    Nas trilhas delas: compositoras para o cinema no Brasil e no mundo.

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação apresenta resultados parciais de um amplo levantamento sobre o cenário brasileiro em relação à autoria de trilhas musicais cinematográficas. Em diálogo com alguns estudos mundiais que demonstram as consequências de uma lógica patriarcal na invisibilidade da carreira das compositoras de música para cinema, nossa investigação objetiva valorizar e dar visibilidade às compositoras que, num meio tão dominado por homens, enfrentam dificuldades em dar continuidade às suas carreiras.

Resumo expandido

    Embora tenha havido um aumento expressivo de pesquisas que apontam a desigualdade de gênero na realização cinematográfica, ainda são raros, no Brasil e no mundo, os estudos sobre a presença de compositoras de trilha musical original para filmes. No entanto, algumas pesquisas têm demonstrado as consequências de uma lógica patriarcal na invisibilidade da carreira das compositoras de música para cinema, apontando caminhos possíveis para combater a baixa representatividade, sobretudo através da valorização do trabalho dessas mulheres no cinema mundial ao longo da História.

    O estudo da espanhola Olarte Martínez (2009) estima a presença de 58 compositoras de música de cinema e televisão de maior reconhecimento mundial (registradas e remuneradas por direitos autorais): 22 europeias (8 britânicas, 2 espanholas, 2 gregas, 2 alemãs, 3 francesas, 1 norueguesa, 1 sueca, 1 tcheca), 24 norte-americanas, 8 japonesas (que têm se destacado na indústria de games) e 4 australianas.

    Dentre as compositoras mais experientes está Delia Derbyshire (1937-2001), pioneira da música eletrônica britânica, além da estadunidense Shirley Walter (1945-2006), autora da trilha de Batman – A Máscara do Fantasma (1993), e da compositora pioneira na música para cinema no mundo, Germaine Tailleferre (1892-1983). Estas e outras mulheres estão no levantamento mundial realizado pela autora, demonstrando a presença de compositoras em trilhas cinematográficas em todas as décadas da História do cinema, com maior recorrência a partir da década de 1950.

    A pesquisa Australian Women Screen Composers: Career Barriers and Pathways, desenvolvida por Catherine Strong e Fabian Cannizzo (2017), evidencia a desigualdade de oportunidades entre compositoras e compositores como consequência de um fenômeno social mais amplo. Diante da maioria esmagadora de trilhas compostas por homens, as mulheres australianas se sentem obrigadas a buscar mais qualificação, e suas carreiras tendem a ser comprometidas a partir da escolha pela maternidade. Elas têm menos oportunidades de criar o tipo de música que gostariam e de serem reconhecidas e/ou premiadas pelo seu trabalho.

    Strong e Cannizzo acreditam que o combate ao cenário desigual demanda medidas como: envolver os homens em iniciativas de equidade de gênero, convidando-os a examinar como suas crenças e práticas podem impactar negativamente suas colegas mulheres; criar networking e oportunidades de parceria para a organização e ampliação das redes de profissionais emergentes e veteranas; traçar estratégias para aumentar a autoconfiança e a visibilidade das compositoras; ampliar/aprofundar as pesquisas sobre mulheres e produção musical, entre outras.

    Nesta comunicação, apresentaremos resultados parciais sobre o cenário brasileiro em relação à autoria de trilhas musicais cinematográficas. Além de amplo levantamento, nossa investigação objetiva valorizar e dar visibilidade às compositoras que, num meio tão dominado por homens, enfrentam dificuldades em dar continuidade às suas carreiras. Desta forma, esperamos produzir dados que subsidiem reflexões futuras e que favoreçam a promoção de políticas de combate à desigualdade.

Bibliografia

    ALVES, Paula. Cinedemografia, população que filma e população filmada: hierarquias de gênero e raciais na produção cinematográfica brasileira contemporânea. 2019. Tese de Doutorado. ENCE/IBGE. Rio de Janeiro.

    MIRANDA, Suzana Reck. e TAÑO, Debora. Nas trilhas das mulheres: compositoras e cinema no Brasil. TEDESCO, M.C. (Org.). Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção. Rio de Janeiro: Nau, 2021.

    OLARTE MARTÍNEZ, Matilde. “Música de cine compuesta por mujeres. La utopía del universo femenino”. Reflexiones en torno a la música y la imagen desde la Musicología española. Salamanca: Plaza Universitaria Ediciones, 2009.

    STRONG, Catherine; CANNIZZO, Fabian. Australian Women Screen Composers: Career Barriers and Pathways [research report]. Melbourne: APRA AMCOS/RMIT University, 2017.

    WILCOX, Felicity (ed). Women´s music for the screen: diverse narratives in sound. New York: Routledge, 2022.