Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    JOSE CLAUDIO S CASTANHEIRA (UFF)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação (Universidade Federal Fluminense – Brasil), com estágio de doutorado na McGill University – Canadá. Professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC). Realizou um período de pesquisa no Departamento de Comunicação da Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, em 2021-2022. Líder do grupo de pesquisa GEIST (Grupo de Estudos em Imagens, Sonoridades e Tecnologias).

Ficha do Trabalho

Título

    O cinema tardio: cinefilia, modelos tecnológicos e neoliberalismo

Formato

    Presencial

Resumo

    O discurso tecnocientífico pensa as tecnologias a partir de parâmetros autocentrados. A agenda neoliberal promoveu profundas mudanças na cadeia produtiva mundial e, consequentemente, redesenhou a experiência do filme pautando-se por objetivos bem definidos como eficiência, previsibilidade, racionalização e datificação tanto de conteúdos quanto das ações do espectador. Esta proposta traz algumas reflexões iniciais sobre tais modelos de produção e circulação de produtos audiovisuais.

Resumo expandido

    Antoine de Baecque (2010) define a cinefilia como um fenômeno cultural construído em torno do cinema, suas práticas, técnicas e atitudes historicamente contextualizadas. Publicações como Cahiers du Cinéma funcionaram como uma espécie de legitimação do cinema, promovendo, por um lado, a distinção entre assistir e fazer filmes de outras formas de entretenimento e, por outro, uma aproximação com campos mais legítimos de criação artística. A cinefilia, considerada, por muitos de seus praticantes, uma forma de “aprender a ver”, manteve uma postura crítica em relação às manifestações mais populares da indústria cultural, tidas como “vulgares”.
    Devido a esse complexo processo de constituição de uma práxis fílmica específica, o pensamento cinematográfico assumiu uma orientação dúbia em relação ao papel da técnica como elemento determinante do objeto fílmico. Parte dessa dubiedade vem da disputa discursiva entre o campo das artes, com argumentos que podem ser considerados um tanto elitistas e autocentrados, e o campo da indústria com o desenvolvimento de rígidos protocolos de padronização e mercantilização dos bens culturais. A porosidade e a volatilidade dos argumentos em torno de questões técnicas podem ser percebidas em muitos autores da teoria clássica do cinema por meio de perspectivas conflitantes que muitas vezes não chegam a um consenso sobre a própria natureza do filme.
    Por sua vez, o discurso tecnocientífico definiu, ao longo do tempo, uma forma autossuficiente de pensar as tecnologias a partir de parâmetros propostos pelas próprias tecnologias. Dessa forma, as tecnologias são consideradas ferramentas para um fim predeterminado e vistas como elementos incontornáveis dentro do modelo de produção do capitalismo tardio. A criação cinematográfica e a autoria ainda são conceitos norteadores que suscitam debates e permeiam grande parte da discussão acadêmica ou das muitas ações promocionais em nível mais superficial e comercial da indústria audiovisual. No entanto, os possíveis conflitos entre tecnologias e criação artística são resquícios de uma ideia romantizada a respeito de ambas categorias que não é mais a realidade dos estúdios e sets de filmagem.
    A agenda neoliberal promoveu profundas mudanças na cadeia produtiva mundial e, consequentemente, redesenhou a experiência do filme (e, junto com ela, a noção de espectatorialidade) pautando-se em objetivos bem definidos como eficiência, previsibilidade, racionalização e datificação tanto de conteúdos quanto das ações do espectador, além da oferta vitualmente ilimitada de títulos.
    Esta proposta traz algumas reflexões iniciais sobre os novos modelos de produção e circulação de produtos audiovisuais baseados nas premissas mencionadas, sua relação com a ideia nostálgica de cinema e atividades ligadas ao cinema e com o próprio conceito de cinefilia, de construção de repertórios, de arquivos e memória.

Bibliografia

    Baecque, A. de. Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura, 1944-1968. São Paulo: Cosac Naify. 2010

    Castanheira, J. C. S. The ephemeral blink of an eye: material archives, digital files and the framing of memory. In: Revista FAMECOS, Porto Alegre, v. 29, p. 1 -12, jan-dez. 2022 DOI: https://dx.doi.org/10.15448/1980-3729.2022.1.43298

    Santini, R. M. O algoritmo do gosto: tecnologias de controle, contágio e curadoria de si; volume 2. Curitiba, Appris, 2019.

    Santini, R. M. O algoritmo do gosto: os sistemas de recomendação on-line e seus impactos no mercado cultural; volume 1. Curitiba, Appris, 2020.