Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Manuela Bezerra Gouveia de Andrade (UFF)

Minicurrículo

    Manuela trabalha com produção, direção, roteiro, pesquisa e educação na área de cinema há mais de 10 anos. Ela é mestre em Culturas Midiáticas Audiovisuais e no momento cursa o doutorado no PPGCine da UFF. No ano de 2017 finalizou o ebook Distribuição do Cinema Pernambucano: um estudo contemporâneo – 2013 à 2017 e atualmente trabalha no ebook de crítica fílmicas “Mulheres em foco: : disputa de espaços e demarcação de protagonismos das realizadoras em PE e no NE na década de 2010”

Ficha do Trabalho

Título

    A luta anticolonial no cinema de realizadoras latino-americanas

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente trabalho contemplará a temática da luta anticolonial travada nas narrativas das diretoras latino-americanas Beatriz Pankararu em Rama Pankararu (2022), Claudia Huaiquimilla em Mala Junta (2016) e Marcela Said em El Verano de los pesces voladores (2013). Em concomitância a essa análise também será realizado um paralelo entre a luta presente nas narrativas dos longas-metragens e a batalha profissional das diretoras para produzirem e distribuírem os seus filmes.

Resumo expandido

    O presente trabalho contemplará a temática da luta anticolonial travada nas narrativas das diretoras latino-americanas Beatriz Pankararu em Rama Pankararu (2022), Claudia Huaiquimilla em Mala Junta (2016) e Marcela Said em El Verano de los pesces voladores (2013), no que concerne aos embates entre povos indígenas e os atuais invasores brancos de seus respectivos territórios. Em concomitância a essa análise também será realizado um paralelo entre a luta presente nas narrativas dos longas-metragens e a batalha profissional das diretoras para produzirem e distribuírem os seus filmes; uma vez que realizadores latino-americanas e ameríndias custaram a conquistar um espaço no cinema e ainda enfrentam diversos obstáculos colonialistas.
    As narrativas dos filmes expõem de diferentes formas os embates herdados pelo colonialismo para cada uma dessas comunidades. Lutas essas que foram impostas como única opção possível para libertarem esses povos indígenas das consequências da invasão colonial nas terras: Pankararu, Zapoteca e Mapuche. Como instrumento basilar para tal análise será utilizado o livro A Sociedade contra o estado, de Pierre Clastres.
    A pesquisa ainda pretende se debruçar nas estratégias estéticas utilizadas pelas diretoras para transpor para as telas tais conflitos partindo-se de uma perspectiva metodológica que vai priorizar observar tais pontos de vista acerca do cinema, ancorando-se em olhares sensíveis à peculiaridades dos cinemas indígenas em trabalhos como a publicação Cosmologias da Imagem: cinema de realização indígena, organizado por Daniel Ribeiro Duarte; Roberto Romero; Júnia Torres, pesquisas como as de Sophia Pinheiro e Clarisse Alvarenga. A luta indígena pelo direito à vida acontece desde os tempos da invasão, mas não encontra espaço de representação no cinema, mesmo no presente, muito menos quando esses espaços dizem respeito ao protagonismo de mulheres. Como as vozes dessas mulheres realizadoras, que foram por tanto tempo silenciadas, narram essas lutas?
    Essa pesquisa também buscará contextualizar a batalha dessas diretoras por espaço nas telas, compreendendo o panorama de produção de cinema em cada de suas regiões e analisando também as estratégias de distribuição como um elemento chave para a disseminação da importância das lutas presentes nessas narrativas. Desse modo, perguntamos: A quem endereçam esses filmes? Onde eles circulam? Como reverberam a luta secular pelos direitos indígenas em seus canais de divulgação?
    Para tal análise será realizada uma revisão de bibliografia relativa aos trabalhos acerca da produção de cinema latino-americano de mulheres não-racializadas e de mulheres indígenas que se debrucem nos contextos de viabilidade econômica e distribuição, assim como será utilizado o conceito de “movimento” Julieta Paredes (2020) para tratar da forma como essas mulheres circulam o seu saber.
    Também serão utilizadas reflexões do artista Jader Esbell (2019) acerca do lugar do indígena no campo da arte. Esbell, pertencente à nação Makuxi, defende que a luta dos indígenas, desde a invasão colonial é pelo bem estar ecológico, este seria o contra-argumento indígena do pensador. Outro intelectual indígena invocado para refletir acerca das ideias de luta e movimento trazidas pelo trabalho é Ailton Krenak (2022) com a noção de “liderança” trabalhada em Futuro Ancestral.

Bibliografia

    ALVARENGA, Clarisse. O caminho do retorno – o cinema das mulheres ameríndias. In: HOLANDA, Karla (org.). Mulheres de cinema. Rio de Janeiro: Numa, 2020, p. 175-190.
    CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1984.
    ESBELL, JAIDER. Jaider Esbell In: Cohn, Sérgio; Kadiwèu, Idjahure (orgs.). Tembetá: conversas com pensadores indígenas. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2019.
    KRENAK, Ailton. Futuro Ancestral. São Paulo: Companhia das letras, 2022.
    PAREDES, Julieta. Para descolonizar el feminismo. Feminismo Comunitário de Abya Yala. La paz, Bolivia, 2020
    PINHEIRO, Sophia. A imagem como arma – o cinema feito por mulheres indígenas. Revista Philos. 2020.
    RIBEIRO, Daniel; ROMERO, Roberto; TORRES, Júnia. (Org.). Cosmologias da Imagem: cinema de realização indígena. 1ed.Belo Horizonte: Forumdoc.bh, 2021, v. 1.