Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Priscilla Schimitt Huapaya (UFES)

Minicurrículo

    Pesquisadora de audiovisual, graduada em Comunicação Social pela UESC e mestranda em Comunicação e Territorialidades na Universidade Federal do Espírito Santo, gosta de explorar as diversas ferramentas do cinema, da arte e da ciência. Referente à prática profissional, atua na Direção de Arte e Figurino em projetos de cinema de longa-metragem, curta-metragem e séries de televisão.

Ficha do Trabalho

Título

    Tensões, conflitos de classe e territorialidades no cinema de KMF

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho é parte de uma pesquisa em andamento que busca problematizar as territorialidades geradas no universo ficcional da cinematografia do cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho, especificamente em seus três longas-metragens de ficção, “O som ao Redor” (2012), “Aquarius” (2016) e “Bacurau” (2019) .Pretende-se identificar o modo como as territorialidades e os conflitos de classes e alteridade são estabelecidos em cada um dos espaços diegéticos apresentados nessas obras.

Resumo expandido

    Este trabalho é parte de uma pesquisa em andamento que busca problematizar as tensões e conflitos de classe permeados pelo medo, opressão e as relações de poder a partir das territorialidades geradas no universo ficcional da cinematografia do cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho, especificamente em seus três últimos longas-metragens de ficção,“O som ao Redor” (2012), “Aquarius” (2016) e “Bacurau” (2019), este último dirigido em parceria com o cineasta Juliano Dorneles. Pretende-se refletir sobre as formas como as narrativas audiovisuais do diretor estabelecem relações de opressão e resistência nos territórios representados. As obras de Kleber Mendonça Filho abordam inúmeros aspectos e trazem reflexões acerca das territorialidades, seja em sua dimensão física ou simbólica (HAESBAERT,1997), problematizando em suas narrativas fílmicas os espaços de disputas na cidade e no campo, abordando questões como especulação imobiliária, gentrificação, grilagem, mas também, por outro lado, machismo, misoginia e outras formas de colonialismo e dominação. Tendo como corpus de investigação as três obras citadas, este trabalho tem como objetivo identificar o modo como as territorialidades são estabelecidas (RAFFESTIN,1993) em cada um dos espaços diegéticos apresentados nessas obras. Para tanto, usaremos de um método de análise fílmica que prioriza a caracterização do espaço-tempo e da ação dos personagens sobre os territórios, ancorando-se nos seguintes autores: Ismail Xavier no que diz respeito à perspectiva comparatista, o autor enxerga “virtudes dos métodos comparativos, para mim, fazer análise é comparar. São as comparações que definem o eixo do meu trabalho” (XAVIER, 2003, p. 16). Robert Stam (2007), que trata do cinema do chamado Terceiro Mundo, categoria na qual incluímos o cinema de Mendonça Filho; e Jacques Aumont (1996), que nos traz um método de descrição e análise da obra fílmica. Considerando os aspectos territoriais e geopolíticos apresentados nas narrativas dessas obras, e a própria configuração do contexto no qual é produzido o cinema do recifense KMF, a abordagem da pesquisa também se ancora em propostas teóricas decoloniais latino-americanas (MIGNOLO,2007). Analisamos nos três filmes quais fatores nos fazem chegar a uma estética do medo e da violência ordinária, a violência que perpassa o convívio com o outro de classe social, refletida por meio dos limites e disputas de poder nos territórios. Um tema recorrente nos filmes de Kleber Mendonça Filho é a relação entre poder, opressão e medo (CHAUÍ, 2013). Em seus filmes, ele mostra como o poder é usado para subjugar minorias e como o medo é utilizado como uma ferramenta de controle social. Ele também expõe as violências e o cinismo que muitas vezes acompanham o exercício do poder. Mendonça em seus filmes coloca a vida cotidiana e situações corriqueiras da vida, “fantasmas” de classes e grupos sociais que se toleram, ou se exploram e são explorados(SOUZA,2009). O diretor confronta e traz para a cena a violência ordinária, que nem sempre é dita frontalmente, que é disfarçada e muitas vezes maquiada numa espécie de cinismo coletivo. (XAVIER, 2020). O cinema de Kleber Mendonça nos remete a um tipo de violência que faz parte da formação antropológica do país, discutindo território e apresentando os confrontos, às vezes sangrento, ou às vezes silencioso, que oprimem e ferem diferentes classes, grupos sociais e territórios. Ademais, o cineasta sempre se declarou fascinado pelo modo como a agressão existe, mas não é óbvia. As personagens do cineasta fluem e, transitam entre territórios ora fechados, ora abertos, mas sempre espaços tensionados, espaços presentes na vida cotidiana e demarcados por rigores e autoritarismos estruturais (CHAUÍ,2013) que muitas vezes na rotina do dia a dia permanecem silenciados. Quando Kleber Mendonça Filho constrói sua narrativa, ele “rasga” na tela os dilemas da violência e do autoritarismo nas experiências ordinárias do viver num país como o Brasil.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques; MARIE, Michel et al. A Estética do Filme. Campinas, SP: Papirus, 1995.
    BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón. (Org.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2019.
    CHAUÍ, Marilena. Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
    MENDONÇA FILHO, Kleber. Três roteiros: o som ao redor:Aquarius:Bacurau/Kleber Mendonça Filho.São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
    MIGNOLO, Walter D. La idea de América Latina. Barcelona: Gedisa, 2007.
    RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. SP: ed. Ática,1993.
    SOUZA , Jessé. A ralé brasileira: quem é e como vive . Belo Horizonte , Editora UFMG,2009.
    XAVIER, Ismail. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, cinema novo.Nelson Rodrigues.São Paulo:Cosac&Naif,2003.
    ___A figura do ressentimento no cinema brasileiro dos anos 90. Em J. Gatti, F. Ramos, A. Catani e M.D. Mourão (Orgs.)Estudos de cinema 2000– Socine