Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Isabella Loureiro Khaled Poppe (UFRJ)

Minicurrículo

    Graduada em História (UNIRIO), mestra em História, Política e Bens Culturais (CPDOC/FGV) e doutoranda em História Social (PPGHIS/UFRJ). Estudou Roteiro Audiovisual na Escola de Cinema Darcy Ribeiro e Dramaturgia na Universidad Nacional de las Artes de Buenos Aires. Integrou o Laboratório de Estudos da Cultura Visual (LECV/CPDOC) e atualmente faz parte do Laboratório de Imagem, Memória, Arte e Metrópole (IMAM/PPGHIS). Atuou como colaboradora do projeto de extensão Cineclube Cinelatino da UNILA.

Ficha do Trabalho

Título

    O PEQUENO EXÉRCITO LOUCO E AS IMAGENS DE UMA UTOPIA LATINO-AMERICANA

Seminário

    Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Esse trabalho irá apresentar o resultado da análise do filme O Pequeno Exército Louco, sobre a revolução sandinista nicaraguense, com o cruzamento da análise de entrevista feita com a realizadora Lucia Murat. Através deste método, que leva em consideração a trajetória política da cineasta, o reemprego crítico das imagens de arquivo e a costura dos depoimentos e imagens na linha argumentativa da montagem, investiga-se a busca por imagens que façam reviver a(s) utopia(s) na América Latina.

Resumo expandido

    Filmado entre os anos de 1978 e 1980, O Pequeno Exército Louco combina a captação direta de sons e imagens tomadas em película 16mm nas ruas da Nicarágua, com imagens de arquivos pré-existentes, construindo um relato fílmico sobre o processo revolucionário sandinista. Em um contexto onde as esquerdas latino-americanas haviam sido duramente reprimidas e encontravam-se desmobilizadas em grande parte dos países, Lucia Murat, ex-guerrilheira da luta armada contra a ditadura militar no Brasil, decide reunir uma pequena equipe para filmar a efervescência daqueles acontecimentos, em uma experiência que culminou na realização de seu primeiro filme, um média-metragem de 49 min, que aborda desde o confronto entre a guarda nacional e a Frente Sandinista de Libertação Nacional, até a vitória sandinista e o início do novo governo formado pela Junta de Reconstrução Nacional. O filme também se desloca até o Paraguai, onde o ditador Anastasio Somoza foi posteriormente assassinado, em 1980, por militantes argentinos. Já o processo de montagem do filme, realizado somente quatro anos após a captação direta, acaba sendo influenciado por um novo contexto, marcado pelo movimento contra revolucionário financiado pelos Estados Unidos sob o governo de Ronald Regan, balançando as esperanças com os rumos futuros do processo revolucionário nicaraguense. De acordo com Enzo Traverso “o ‘princípio esperança’ inspirou as lutas do século passado, de Petrogrado em 1917 a Manágua em 1979”. Neste sentido, houve experiências históricas em que a esperança de um mundo melhor ganhou concretude e formatos coletivos, orientaram ações, organizações políticas, movimentos de massas. Se entre os séculos XVI e XVIII a utopia se caracteriza como um jogo intelectual no qual o possível é imaginário, no século XIX ela deixa de lado esse aspecto para tornar-se um projeto político concreto para o qual o movimento da história caminhava. A utopia então se transforma em uma possibilidade objetiva inscrita na marcha progressiva da história. A Revolução Sandinista foi o último desses movimentos de massa na América Latina do século XX, pondo fim a mais de 40 anos de uma violenta ditadura e enfrentando os desafios diante de um futuro em aberto a ser construído. É neste contexto que Murat parte para a Nicarágua em busca não exatamente do cinema, mas de sua geração na América Latina que, em suas próprias palavras, “se encontrava muito derrotada e perdida”. Sendo as imagens de arquivo também sintomas das mentalidades de uma época, isto é, de suas maneiras de pensar, de formar a opinião, de construir memórias e fixar os imaginários, o presente trabalho irá apresentar o resultado da análise do filme O Pequeno Exército Louco com o cruzamento da análise de entrevista de história oral feita com a realizadora Lucia Murat através de um método que leva em consideração a trajetória política da cineasta, o reemprego crítico das imagens de arquivo e a costura dos depoimentos e imagens na linha argumentativa da montagem. O intuito é, então, o de desmontar o filme para então remontá-lo sob o signo da palavra escrita, investigando ao longo desse processo, a busca por imagens que façam reviver a(s) utopia(s) na América Latina.

Bibliografia

    BRENEZ, Nicole. “Montage intertextuel et formes contemporaines du remploi dans le cinéma expérimental”. Cinémas: revue d’études cinématographiques, v. 13, n. 1–2, p. 49–67, 2002.
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    12.
    FREDRIGO, Fabiana de Souza. “Prefácio”. In: PRADO, Maria Ligia (org). Utopias latino-americanas: política, sociedade, cultura. São Paulo: Contexto, 2021.
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    TRAVERSO, Enzo. Imágenes melancólicas: el cine de las revoluciones vencidas. Acta Poética 38-
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    ZIMMERMANN, Matilde. A Revolução Nicaragüense. 1. ed. Tradução de Maria Silvia