Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Ricardo Tsutomu Matsuzawa (USP/UAM)

Minicurrículo

    Graduação em Comunicação Social – Rádio e TV e Especialização em Fundamentos das Artes e Cultura pela UNESP. Mestre em Comunicação Contemporânea e professor da Universidade Anhembi Morumbi. Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na Escola de Comunicação e Artes – USP. Experiência em várias áreas da produção audiovisual com ênfase em Fotografia. Participando de festivais e mostras. Pesquisou a produção do cineasta Wim Wenders.
    http://lattes.cnpq.br/9120849992278402

Ficha do Trabalho

Título

    Resistência coletiva em Bacurau frente ao horror da desumanização.

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação tem por objetivo discutir o filme Bacurau (2019) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles em sua fabulação, a perspectiva de um futuro possível calcado na resistência coletiva frente a luta contra o horror de um colonialismo que se atualiza não como um lucro mercantilista escravagistas ou de preparação de território a ser dominado, é sim como uma satisfação individualista compensatória da sociedade do desempenho.

Resumo expandido

    O filme Bacurau (2019) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles trabalha uma mescla de gêneros cinematográficos e apontamentos nostálgicos da cinematografia brasileira. Apresenta um desfecho em que os seus protagonistas apenas coletivamente e como uma comunidade unida podem sobreviver frente a luta contra um inimigo que em sua barbárie deseja o seu apagamento.
    A comunidade de Bacurau se defende de um colonialismo predatório extremista em um jogo de caça desumanizante. A caça aparentemente se configura como um elemento insólito do terror, mas infelizmente também como uma alegoria das práticas históricas recorrentes do colonialismo, se configurando e se atualizando não como um lucro mercantilista escravagistas ou de preparação de território a ser dominado, é sim como uma satisfação individualista compensatória da sociedade do desempenho – termo cunhado e trabalhado pelo filosofo Byung-Chul Han (2015).
    Obra elaborada sobre um momento histórico de “horror” sobre o comando do poder executivo brasileiro na figura antidemocrática de Jair Messias Bolsonaro que com agressividade e violência comandou o país e representa uma figura mítica que promovia para uma parcela da sociedade desesperança e a sensação de angústia exacerbada, gerando inconformismo e o sentimento de indefensibilidade.
    Horror que transparece do mundo histórico para o filme, Kleber Mendonça Filho um dos realizadores do filme, que abertamente é crítico ao governo Bolsonaro em entrevista comenta: “Um filme futurista com repetições históricas do Brasil”.
    O mal no filme se apresenta com a desumanização em que a comunidade de Bacurau é alvo com a violência fascista recreativa de “estrangeiros” em seu individualismo niilista predatório. A comunidade é considerada descartável, resistindo entre o arcaico e o moderno de um Brasil dependente e inserido ao mando e desmando do mercado e da economia neoliberal onde a desumanização é modus operandi.
    O ponto central da reflexão na obra Bacurau na comunicação discorre sobre o coletivo, o indivíduo, a individualidade e o individualismo nos agrupamentos sociais e a sua resistência diante ao horror contemporâneo da destruição do senso comunitário com a ascensão da extrema direita e o as imposições neoliberais. O confronto entre o pensamento moderno da individualidade e o individualismo egoísta propagado pelo neoliberalismo e o consumo como uma classificação identitária.
    Na interpretação do filme e sua reflexão recorro a Theodor W. Adorno e o seu olhar sobre o fascismo e a ascensão da extrema direita radical na obra: Aspectos do novo radicalismo de direita (2020). Aparentemente anacrônico ao contexto atual, aqui tenho a pretensão de apontar a atualidade da discussão com um olhar crítico sobre o possível caminho dos horrores do passado e atuais e a contrapelo a possibilidade de grupos sociais e comunitários no atual contexto de uma sociedade do desempenho.
    Adorno viveu sobre o inimaginável das barbáries nazistas, se colocou em prontidão ao potencial retorno fascista. Uma postura defensiva as possíveis transformações sociais no horizonte das crises eminentes do capitalismo. Os frankfurtianos que carregam a alcunha do pessimismo, mas Adorno clama por um futuro, a resistência frente a ascensão da extrema direita autoritária com uma ação de ir contra a irracionalidade com a verdade sem o peso da ideologia. A alternativa a barbárie é um engajamento coletivo, uma luta de todos: “Como essas coisas vão evoluir e a responsabilidade sobre como elas vão evoluir – isso depende em última instância de nós” (ADORNO, 2020, pg 77).
    A resistência talvez tenha morada na possibilidade do senso comunitário diante ao horror contemporâneo seja na fabulação de Bacurau da destruição de sua comunidade mesmo disfuncional ou na sobrevivência as imposições do neoliberalismo a todos nós.

Bibliografia

    ADORNO, Theodor. Aspectos do novo extremismo de direita. São Paulo: Unesp, 2020.
    BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. V.1. São Paulo: Brasiliense, 1994.
    CANEPA, Laura; NASCIMENTO, Gênio. Narrativas insólitas no século XXI: Novo realismo e horror no cinema contemporâneo. IN: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Joinville, 2018. Disponível em: https://www.portalintercom.org.br/anais/nacional2018/resumos/R13-2497-1.pdf. Acesso em: 10/04/2023.
    HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Editora Vozes, 2015.
    _____________O que é o poder. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.
    KANT, Immanuel. À paz perpétua. Porto Alegre: L&PM, 2016
    SAID, Edward. Humanismo e a crítica democrática. São Paulo: Cia das Letras, 2007.
    STREECK, Wolfgang. Tempo Comprado: a crise adiada do capitalismo democrático. São Paulo, Boitempo, 2018.