Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Jorge Cardoso Filho (UFRB)

Minicurrículo

    Docente do Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB onde coordena do Grupo de Estudos em Experiência Estética, Comunicação e Artes (GEEECA/UFRB), em parceria com Angelita Bogado. É professor permanente do POSCOM-UFBA, onde integra o TRACC – Centro de Pesquisa em Estudos Culturais e Transformações na Comunicação.

Coautor

    Gustavo (UFRB)

Ficha do Trabalho

Título

    Atmosferas decoloniais em “Um real a hora” (2022), de André Alcântara

Seminário

    Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir da experiência proporcionada por “Um real a hora”, de André Alcântara, o artigo discute a construção de uma atmosfera decolonial para uma cultura gamer que se pretende globalizada e personificada nas arenas gamers, a partir da apresentação das locadoras de videogames, muito comuns na décadas de 90 e 2000, em várias cidades periféricas do Brasil. O foco da análise é a narrativa audiovisual e seus transbordamentos para os elementos da cultura gamer apresentados nos corpos da cena/em cena.

Resumo expandido

    Desde de que se constituiu enquanto um elemento cultural relevante na cultura pop, os jogos digitais ainda são produtos caros e inacessíveis a boa parte das pessoas que não fazem parte da população do Norte Global. No entanto, para o acesso de parte dessa população, estratégias para facilitar o acesso foram sendo buscadas, a exemplo da pirataria, emulação e das locadoras (espaços, normalmente caseiros, adaptados para que fosse possível jogar videogames com a cobrança de dinheiro, na relação com o tempo de jogo). Sobre essa última é que o documentário de curta-metragem “Um real a hora” (2022) de André Alcântara tematiza.
    Partindo de um lugar íntimo do diretor, a obra se propõe a apresentar e contextualizar os lugares conhecidos por locadoras (gamehouses, Top game, entre outras denominações ao redor do Brasil), pensando no seu apogeu e no seu declínio, a partir das performances de memória (SANTOS JÚNIOR, 2017) de atuais e/ou antigos donos desses espaços, na região metropolitana de Aracaju.
    Considerando os corpos enquanto locais de memória, Leda Maria Martins (2021) aponta na performance o lugar onde essa “memória do corpo” se apresenta. Essas performances podem ser encontradas desde lugares da socializações cotidianas a lugares como expressões de arte. Acreditamos que as marcas que André Alcântara traz em seu filme, através das relatos de seus atores sociais, dão a ver traços das práticas de consumo de jogos em parte das cidades do Brasil muito próprio, marcado por essas memórias do corpo.
    Não se trata apenas das memórias corporais dos sujeitos filmados, que ali apresentam seus depoimentos, mas as próprias memórias dos objetos que compõem a mise-en-scène do filme (controles, pôsteres, capas de jogos) e fazem transbordar da cena parte de suas características enquanto tecnologias e suas próprias agências para a experiência do espectador. Daí nossa atenção especial ao que chamamos de corpos da cena/em cena (BOGADO, SOUZA, SANTOS JÚNIOR, 2023). Ao mesmo tempo, a agência desses objetos nos revela a ideia de gambiarra (MESSIAS & MUSSA, 2020) enquanto forma driblar as adversidades da falta de acesso ao consumo dessa experiência estética, sobretudo quando se apresenta uma prática de jogar que privilegia determinada sociabilidade e ritualidade dentro do espaço das locadoras, prática que é coletiva, partilhada e de gosto estético particular.

Bibliografia

    BOGADO, A; SOUZA, S; SANTOS JÚNIOR, F. Sob a constelação da umbigada no samba de roda: imagens decoloniais, o cruzar de pontes entre nós. Revista Ação Midiática, vol. 01, 2023, p. 01-20.

    MARTINS, Leda Maria. Performances do Tempo Espiralar – Poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2021.

    MESSIAS, J.; MUSSA, I. Por uma epistemologia da gambiarra: invenção, complexidade e paradoxo nos objetos técnicos digitais. MATRIZes, [S. l.], v. 14, n. 1, p. 173-192, 2020. DOI: 10.11606/issn.1982-8160.v14i1p173-192. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/157539. Acesso em: 21 de abr. de 2023.

    SANTOS JÚNIOR, Francisco. Tudo sobre meu pai: rastros de filiação nos documentários Rocha que voa, Person e Histórias Cruzadas. 154 páginas, ilustrada. 2017. Tese (Doutorado) – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.