Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Claire Allouche (Universidade Paris 8)

Minicurrículo

    Claire Allouche é doutoranda e professora de cinema na França (Université Paris 8), crítica (Cahiers du Cinéma) e programadora (Doc&Doc, CLaP – festival de cinema latino-americano de Paris). Formou-se em estudos cinematográficos (Paris 8 e ENS Ulm na França, Universidad San Martín na Argentina) e em antropologia (EHESS em Paris). A sua pesquisa de doutorado centra-se num diálogo entre os cinemas argentino e brasileiro contemporâneos de ficção produzidos fora dos eixos tradicionais (2008-2019).

Ficha do Trabalho

Título

    Do cinema argentino ao brasileiro, estradas para o contemporâneo

Seminário

    Cinema Comparado

Formato

    Presencial

Resumo

    Propomos um dialogo entre o filme argentino Historias Extraordinarias (2008) de Mariano Llinás e o longa metragem brasileiro Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009) de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes. Um duplo objetivo nos move: mostrar porque esses filmes podem ser considerados como “contemporâneos” na relação entre estética e modelo de produção; e revelar nesse impulso o fosso historiográfico do cinema contemporâneo desses dois países, impactando o pensamento cinematográfico no presente.

Resumo expandido

    Na historiografia recente dos cinemas argentino e brasileiro, quando poderíamos dizer que saímos, respectivamente, do Nuevo Cine Argentino (NCA) e da Retomada? Em outras palavras, quando se percebe o início de um novo período de criação, um período que poderíamos designar como “contemporâneo”?
    Do lado brasileiro, múltiplas expressões surgiram para tentar dar conta de filmes com um modelo de produção e uma estética que se afastavam da Retomada: novíssimo cinema brasileiro (Ikeda), cinema de garagem (Ikeda, Lima), cinema pós-industrial (Migliorin), e em menor medida, cinema de brodagem (Mansur), com vários filmes de referência. Do lado argentino, pelo contrario, predominam ou a incapacidade de declarar a morte do NCA (Prividera) ou a incerteza da expressão “depois” (Bernini). Pensamos que a abordagem comparatista, ousando nesse caso “comparar o incomparável” (segundo a proposta metodológica do antropólogo Marcel Detienne) nos ajuda a pensar a especificidade do cinema contemporâneo independente de cada país. Como pensar esse período cinematográfico dos anos 2010 não só como um momento geracional, seguindo um contexto histórico compartilhado, mas também como um espaço de experimentações formais e processuais particulares? Neste sentido, que ponto de partida considerar para abraçar um horizonte de possibilidades em vez de um catálogo formatado?
    Pensamos que a abordagem comparatista é ainda mais fértil quando abraçamos a múltiplas escalas que compõem um filme. Por esse motivo, nessa apresentação, propomos nos deixar guiar por dois filmes que, cada um a sua maneira, instiga um ponto de virada na história do cinema da Argentina e do Brasil. Parece nos que esses dois filmes dialogam conscientemente com tradições do século XX de cada país e tomam em consideração novas ferramentas audiovisuais, bem como uma flexibilização do modelo de produção ao longo do tempo. São duas ficções elaboradas a partir da experiência do automóvel em um território geográfico significativo para o imaginário nacional, trabalhando no limiar entre era analógica e idade digital: do lado argentino, Historias Extraordinarias (2008), de Mariano Llinás, percorre os pampas da província de Buenos Aires durante quatro horas de narrativas inesgotáveis; do lado brasileiro, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009), de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, compõe uma cartografia nordestina além das fronteiras entre os Estados, assumindo um ponto de vista subjetivo.
    Acreditamos que esses dois filmes encarnam um projeto vivaz do cinema contemporâneo e se iluminam mutuamente. A proposta estética de ambos é inerente a um modelo de produção, e o presente de suas narrativas dialoga com um espectro de histórias possíveis e descartadas, escancarando o horizonte de uma “obra aberta” no sentido de Umberto Eco. A esse respeito, tentaremos abraçar as inquietudes historiográficas contemporâneas dos dois países prestando atenção particular à análise de zonas de contato entre os dois filmes, mais especificamente na forma como ressignificam os pampas e o sertão no presente, a partir de um lugar próprio, e na forma como questionam, através da ficção, a “imagibilidade” dos vestígios do século passado.

Bibliografia

    • Claire Allouche, « Depuis l’Argentine et le Brésil. Reflets cinématographiques du présent », Cinémas d’Amérique Latine n°31, 2023, pp. 160-165.
    • Emilio Bernini (dir.), El cine después del Nuevo Cine Argentino: diez miradas en torno al cine argentino contemporáneo, Universidad de Buenos Aires, 2018.
    • Irene Depetris Chauvin, Geografías afectivas. Desplazamientos, prácticas espaciales y formas de estar juntos en el cine de Argentina, Chile y Brasil (2002-2017), Latin American Research Common, 2019.
    • Cléber Eduardo (dir.), O cinema brasileiro em resposta ao país (2016-2021), Universo Produção, 2022.
    • Marcelo Ikeda, O cinema independente brasileiro contemporâneo em 50 filmes, Editora Sulina, 2020.
    • Paulo Antonio Paranaguá, Le cinéma en Amérique Latine : le miroir éclaté, historiographie et comparatisme, L’Harmattan, 2000.
    • Nicolás Prividera, Otro país. Muerte y transfiguración del Nuevo Cine Argentino, Editorial Los Ríos, 2021.
    • Luc Vancheri, Cinémas contemporains, Aleas, 2009.