Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Wilson Oliveira da Silva Filho (PPGCINE/UFF e UNESA)

Minicurrículo

    Doutor em memória Social (PPGMS/UNIRIO) com Bolsa Capes PDSE (doutorado sanduíche sob supervisão de Tom Gunning – University of Chicago). Em 2018, concluiu pós-doutorado na ECO/UFRJ onde também foi professor substituto entre 2014 e 2016. Professor auxiliar II e Pesquisador do programa Pesquisa Produtividade na UNESA. Docente credenciado permanente do PPGCINE/UFF, com pesquisa sobre cinemas expandidos e teorias da mídia. Artista multimídia no DUO2x4 e autor de “McLuhan e o cinema” (Verve, 2017).

Ficha do Trabalho

Título

    De Symbiosis e Cine Planta a Botannica Tirannica: Natureza e cinema

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Do cinema ao vivo de “Symbiosis”, de Roberta Carvalho e “Cine Planta”, de Paola Barreto, Marlus Araújo e Guto Nóbrega aos vídeos “Flora Rebelis”, parte da exposição “Botannica Tirannica”, de Gisele Beiguelman podemos ao mesmo tempo pensá-los como experimentos ecológico-midiáticos, mas literalmente compreendê-los na relação entre cinema e uma natureza expandida. Analisar tais obras é o objetivo do trabalho, atentando para a relação entre cinema e natureza, entre meio e ambiente no contemporâneo

Resumo expandido

    O cinema possui direta relação com o meio ambiente. Durante mais de um século, o cinema foi uma atividade fotoquímica que lidava com produtos industriais abrasivos e perigosos. Da querela do nitrato de prata aos desafios do cinema digital que, com chips de silício e gastos energéticos para manter serviços de exibição em funcionamento, também se relacionam com o meio, tentamos aqui pensar a necessidade de uma compreensão ecológica das mídias (BRAGA, LEVINSON, STRATE, 2020), em nossa leitura, uma ecologia midiática do cinema.
    A associação entre cinema expandido e meio ambiente se faz também e mais e mais necessária nos estudos da arte cinematográfica experimental. Entre alguns experimentos sustentáveis para o cinema no campo de exibição como o Cinemão, de Cid Cesar Augusto, os principais estudos sobre cinema e ambiente parecem vir da cena dos cinemas expandidos – no plural como estamos frisando em nosso atual projeto de pesquisa no PPGCINE/UFF –, em especial nos trabalhos de live cinema ou nas obras a partir do fenômeno da Inteligência artificial (IA), que estendem o cinema para dimensões inexploradas. Experimental, por excelência, o live cinema (MAKELA, 2007) lida com a dimensão material, estrutural e com um claro entendimento do cinema como uma mídia, apresentado em tempo real e co-criado com o público.
    Os Vj’s e demais performers desse liveness contemporâneo prolongam o cinema experimental para novos terrenos. Finalmente com a IA, algumas obras problematizam não só a natureza das imagens, mas as imagens da natureza.
    Na obra de Roberta Carvalho “Symbiosis” (2011), a copa das árvores torna-se superfície para projeções mapeadas. O mapping, esta técnica de performance audiovisual em tempo real na qual softwares leem as superfícies como tela e projetores digitais, geralmente de alta luminosidade permitem o cinema ir além da sala de exibição, estendendo o cinema para espaços outros. Cinema experimental heterotópico. O trabalho de Roberta Carvalho faz as árvores se tornarem tela para desenhos e projeção de rostos de povos originários, relacionando o rosto, também uma paisagem, a uma encantaria tecnológica (HERKENHOFF, 2021).
    A obra de Paola Barreto, Marlus Araújo e Guto Nóbrega, “Cine Planta” (2012), se relaciona a uma espécie de “xamanismo tecnológico” que ganha força em parte da cena das live images. Trata-se de um experimento que associa um dragoeiro a uma interface de edição de imagens em tempo real, criando um organismo híbrido” (V MOSTRA Live cinema, 2012). Captação e exibição em rede que se retroalimentam desse sistema vivo do vegetal. A integração da planta aos circuitos eletrônicos e digitais, recoloca, para os artistas, “a questão dos limites entre vivos e não vivos” (Id., Ibid).
    Mais de 10 anos depois dessas obras live, a exposição “Botannica Tirannica” (2022), de Gisele Beiguelman nos fornece, através de inteligência artificial, uma ótima crítica ao preconceito no próprio nome de certas espécies do mundo vegetal. Através de imagens criada com IA, Beiguelman problematiza através de cinco vídeos na parte da mostra chamada “Flora rebelis” um cinema digitalmente expandido (SHAW, 2005) que amplia mais ainda as relações entre audiovisual e natureza, expandido as imagens da inteligência artificial através de fusões e anamorfoses como metáforas da visão para lembrarmos Stan Brakhage.
    Abrir caminho ao pensamento complexo, para ampliar a noção de sistema e de organização da relação entre o sistema terra e o antropoceno (ELI, 2019) parece ser o interesse desses trabalhos. Parece também ser uma possibilidade para compreender como obras tão diferentes dialogam e amplificam ideias do cinema expandido. Se Youngblood pensava um cinema cósmico como elemento decisivo para a expansão do cinema, hoje em dia esse cosmocinema não é mais somente o espaço e a atmosfera dos filmes de Jordan Belson, mas as superfícies e naturezas que nos cercam mais abaixo e se articulam com outras cosmovisões.

Bibliografia

    BARRETO, P. Do cine vivo ao cine fantasma. Anais do 22º Encontro Nacional da ANPAP. Belém, 2013.

    BRAGA, A, LEVINSON, P.; STRATE. L. Introdução à ecologia das mídias. Rio de Janeiro: Edições Loyola, 2019.

    HERKENHOFF, P. A arte da Amazônia no século XXI. In: HERKENHOFF, P; FINGUERUT, S (orgs). Amazonia XXI. Rio de Janeiro: FGV Conhecimento, 2021.

    ELI, J. O antropoceno e a ciência do sistema gaia. São Paulo: Editora 34, 2019.

    MAKELA, M. Minima, live cinema. Barcelona: Espacio publicaciones, 2007.

    MURARI, L.; Noce, E D (eds.). Expanded Nature: Écologies du cinéma expérimental. Paris: Light Cone, 2022.

    OLIVEIRA FILHO, W. McLuhan e o cinema. Rio de Janeiro: Verve, 2017.

    V MOSTRA Live Cinema. Rio de Janeiro: Oi Futuro, 2012. Disponível em http://www.livecinema.com.br/. Acesso em: 22 dez. 2013.

    YOUNGBLOOD, G. Expanded cinema. New York: E.P. Dulkton & Co, 1970.

    SHAW, J. O cinema digitalmente expandido. In: LEÃO, L. (org.) O chip e o caleidoscópio. São Paulo: Senac, 2005.