Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Guimarães Blunck Schuina (Ufes)

Minicurrículo

    Mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com pesquisa sobre os impactos da pandemia de Covid-19 nos cineclubes do Espírito Santo, e graduado em Comunicação Social – Jornalismo, também pela Ufes (2008-2013). Tem experiência como jornalista, sobretudo na cidade de Cachoeiro de Itapemirim (ES), e atua em projetos culturais, seja coordenando ações cineclubistas ou assessorando grupos e coletivos.

Ficha do Trabalho

Título

    Cultura digital, pandemia e o cineclubismo conectado

Formato

    Presencial

Resumo

    Apresentamos os resultados parciais de uma pesquisa em andamento sobre as ações on-line de cineclubes do Espírito Santo durante a pandemia de Covid-19. Para isso, descrevemos brevemente o conceito de cineclube como espaço de “autoformação do público”, e apresentamos as reflexões de Bamba (2005) sobre cibercineclubismo e as análises de van Dijck (2013) sobre “cultura da conectividade”. Os dados empíricos incluem a identificação de 117 cineclubes capixabas, 26 deles com ações durante a pandemia.

Resumo expandido

    Este trabalho apresenta os resultados parciais de uma pesquisa em andamento que trata das práticas cineclubistas no estado do Espírito Santo durante a pandemia de Covid-19, com o objetivo de mapear as estratégias de manutenção das atividades por parte dos cineclubes capixabas diante da impossibilidade de se agregar pessoas em espaços físicos. Por meio de novos dispositivos tecnológicos, a dinâmica do “assistir juntos à distância” se tornou uma possibilidade, e a pesquisa investiga também como essas mudanças tecnológicas e de sociabilidade afetaram a prática cineclubista.

    O cineclube é um tipo organização coletiva do campo cinematográfica que se formou no início do século XX, definindo-se como um espaço associativo de “autoformação do público” (MACEDO, 2010), um local privilegiado para que os espectadores desempenhem papel ativo nos modos de distribuição e fruição dos bens audiovisuais – sempre de forma democrática e sem visar lucro. Em geral, costuma ser identificado pela realização de sessões de filmes seguidas de debates em locais como centros culturais, praças públicas ou escolas.

    Bamba (2005) reflete sobre o que chama de cibercinefilia e cibercineclubismo, duas práticas do público que se retroalimentam na internet. Para Bamba, os ambientes de troca entre cinéfilos em blogs, fóruns e sites de compartilhamento de filmes em redes peer to peer (P2P) representaram uma renovação das práticas cineclubistas dos anos 1960 e 1970. As facilidades de acesso a bens culturais proporcionadas pelas novas tecnologias e o maior poder dado aos usuários na comunicação digital dariam nova vida ao cineclubismo.

    Mas, conforme José van Dijck (2013), passamos de uma cultura participativa, que marcou os primeiros anos de entusiasmo com a nascente internet, para uma cultura da conectividade. A autora lembra que, em seus primeiros anos, a internet era representada por blogs, listas de e-mail e comunidades online para oferecer serviços aos cidadãos offline, mas a mídia não era ela mesma conectável. Isso mudou com o advento da chamada “Web 2.0”, na virada do milênio, quando as mídias passaram a se tornar cada vez mais interativas, não servindo apenas como um instrumento de comunicação, e sim como forma de manter todos os processos cotidianos conectados. Esse panorama se aprofundou ainda mais com o surgimento da pandemia de Covid-19, em março de 2020, e a necessidade de distanciamento social para conter a propagação do vírus.

    Os cineclubes também se tornaram mais conectados. Quando a pandemia se revelou como uma situação de longo prazo, uma das principais questões rondando a mente dos cineclubistas dizia respeito a descobrir qual seria melhor plataforma para se reunir e assistir a filmes juntos, ainda que à distância. Em julho de 2020, a Organização dos Cineclubes Capixabas (OCCA, 2020) divulgou um documento em que apresenta orientações para a realização de sessões a partir de plataformas na internet, como Jitsi Meet, Google Meet, Discord e YouTube.

    A partir de informações disponíveis em bancos de dados da Organização dos Cineclubes Capixabas, nas listas de projetos contemplados em editais de cineclubismo da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult-ES) e em mídias sociais, nossa pesquisa identificou 117 grupos cineclubistas que tiveram algum tipo de atividade no Espírito Santo entre 2003 e 2022. Desse total, 26 realizaram ações on-line diversas durante a pandemia. Isso inclui sessões no formato de watch parties, festivais e mostras, atividades de formação (oficinas, minicursos e workshops), transmissões ao vivo (lives) e até mesmo ações em formato híbrido em escolas (parte dos alunos de forma remota e outra parte presente na sala de aula).

Bibliografia

    BAMBA, Mahomed. Ciber-cinefilia e outras práticas espectatoriais mediadas pela internet. In: XXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 28., 2005, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos […]. São Paulo: Intercom, 2005. Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/5291467650208080735289821775409547853.pdf. Acesso em: 19 abr. 2023.

    MACEDO, Felipe. Cineclube e autoformação do público. In: ALVES, Giovanni; MACEDO, Felipe (org.). Cineclube, cinema & educação. 1. ed. Londrina: Praxis; Bauru: Canal 6, 2010. p. 27-54.

    ORGANIZAÇÃO DOS CINECLUBES CAPIXABAS (OCCA). OCCa lança guia “Como fazer cineclube na pandemia. Blog da OCCa, 7 jul. 2020. Disponível em: https://occapixabas.wordpress.com/2020/07/07/cineclubedigital/. Acesso em: 21 abr. 2023.

    VAN DIJCK, José. The culture of connectivity. A critical history of social media. New York: Oxford University Press, 2013.