Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Welton Florentino Paranhos da Silva (ECA/USP)

Minicurrículo

    Tom Paranhos é ator e pesquisador. Mestrando em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP onde pesquisa o trabalho do performer em plataformas on-line. Pós-graduação em Técnica Klauss Vianna pela PUC/SP. Graduação em Letras pela FFLCH/USP. Formado no curso de Introdução ao Método do Ator do CPT/SESC e de Atuação na SP Escola de Teatro. Integrou o núcleo de criação do Grupo Atocontínuo. Realiza projetos artísticos com diálogos entre teatro, vídeo e literatura. E-mail: tomparahos@gmail.com

Ficha do Trabalho

Título

    Performer e persona: Teresa Cristina nas plataformas on-line

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação propõe uma reflexão sobre o modo como o performer forja e articula uma persona pública na tarefa de estabelecer conexão com o público. A Persona é um dos elementos da atuação performativa que vem ganhando destaque, inclusive, por abarcar o trabalho de atores, cantores, performers, dançarinos e outros artistas. O estudo baseia-se na observação de transmissões ao vivo realizadas pela cantora e compositora Teresa Cristina em plataformas on-line durante a pandemia.

Resumo expandido

    Esta comunicação tem como questão central a investigação da atuação performativa em plataformas on-line, portanto, parte da hipótese de que a atuação de artistas como Teresa Cristina em suas transmissões ao vivo realizadas durante a pandemia, pode ser aproximada de práticas performativas que abarcam contextos diversos como jogo, ritual, espetáculo ou acontecimento, nos quais, o performer é entendido como aquele que incorpora a tarefa de ser/estar; fazer e mostrar. Nesta acepção ampla, podemos nos referir a cantores, atores, dançarinos, entre outros artistas do corpo, como performers que realizam ações vocais, físicas e instrumentais.
    A atuação performativa tende a mobilizar um arcabouço do performer que inclui: corporeidade, musicalidade, depoimento pessoal etc. A proposição aqui é de refletir acerca de um desses elementos: A constituição da persona. É comum em uma primeira aproximação referir-se a persona como caráter mobilizado por figuras públicas: Políticos, apresentadores de TV, celebridades e pessoas em geral quando expostas a situações que exijam ativar uma versão pública de si. Na psicologia analítica, utiliza-se o termo para referir-se à personalidade que o indivíduo apresenta aos outros como real, mas que, na verdade, é uma variante às vezes muito diferente da verdadeira. Já na orelha do livro Persona Performática (CARVELHAES, 2012) Peter Pal Pelbart afirmará que a persona se distancia do eu, do sujeito, da personagem sendo que para ele: “a persona performática é antes uma “plataforma”: figura capaz de estranhamento, de improviso, de erro, que persegue e incorpora alteridades, abre-se a devires incertos, articula elementos polifônicos. Carvalhaes (2012, XVII) propõe persona como a “pessoa cênica”, “que traduz essa ambivalência pessoa/personagem/máscara como assunto, de forma ontológica, que revela a ilusão e produz estranhamento”. Na atuação performativa podemos observar que o artista recorre à constituição de uma “persona” que materializa sua face pública e evidencia um estado especificamente mobilizado para o encontro com o espectador.
    Quando observamos o trabalho de Teresa Cristina em suas “lives” notar-se que apesar de não estarem ali representando uma personagem podemos identificar: Alteração de seus estados de presença em função da situação pública; Jogo com filtros de figuras, máscaras e figurinos disponibilizados pelo Instagram; jogo com arquétipos e a ritualização do espaço a partir da persona. A artista modifica sua postura corporal e voz em função de estar diante da câmera falando para uma audiência. Há claramente uma intenção de comunicar-se com o público que é produtivo de um novo estado de presença. Além disso o espaço se reconfigura em função de suas proposições. Teresa Cristina, propõe em suas transmissões uma atmosfera de bar, onde suas ações estão coerentes com as de uma sambista, anfitriã que poderia ser encontrada em uma quadra de samba, ou terreiro, por exemplo. Ao comer salgados e beber cerveja tanto a construção de certa espacialidade do boteco quanto a alteridade vivenciada nestes espaços são delineadas. Na proposição da valorização da tradição, da religiosidade e da cultura brasileira, a artista corporifica uma persona popular, carismática, “do povo”. Sua persona evoca arquétipos da cultura popular, desenha figuras da comunidade carioca e remete a outras figuras públicas que também operaram esta aproximação com o popular como Regina Casé (especialmente em seu trabalho como apresentadora de televisão) e Hebe Camargo.

Bibliografia

    ALLOA, Emmanuel. Pensar a imagem. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
    ANDREA, Carlos D. Pesquisando plataformas on-line: Conceitos e métodos. Salvador: EDUFBA, 2020.
    BASTOS, M. & MORAN, P. (2020). Audiovisual ao vivo – Tendências e conceitos. São Paulo: Intermeios.
    CARVALHAES, Ana Goldstein. Persona Performática. São Paulo: Perspectiva, 2012.
    COHEN, Renato. Performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2011.
    DUBATTI, Jorge. O teatro dos mortos. São Paulo: Edições SESC São Paulo, 2016.
    MARTINS, Leda Maria. Performance do tempo espiralar – poéticas do corpo-tela. Rio de janeiro: Cobogó, 2021.
    SIBILA, Paula. O show do eu: A intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.