Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Amanda Victoria Decothé da Silva Ferreira (UFF)

Minicurrículo

    Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF, na linha de pesquisa Narrativas e Estéticas. Com pesquisa focada no desenvolvimento de significados audiovisuais em representações sobre identidades de gênero dissidentes, no cinema brasileiro contemporâneo. Graduada com Bacharelado e Licenciatura plena em História pelo Instituto de História da UFRJ, com pesquisa nas áreas de História do Cinema e Audiovisual, História das Mulheres e ênfase em processos culturais.

Ficha do Trabalho

Título

    Representatividade e identificação no coming of age queer brasileiro

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação tem como objetivo analisar a representação de personagens que performam feminilidades dissidentes, no cinema de formação brasileiro. Os filmes popularmente conhecidos como coming of age, concentram sua narrativa na trajetória de amadurecimento de seus protagonistas. Em uma sociedade onde as performances de gênero se complexificam cada vez mais cedo, essas produções podem representar um veículo de construção de identificação para jovens brasileiros, a partir do cinema.

Resumo expandido

    A partir da análise do longa Meu nome é Bagdá (Caru Alves, 2020), o presente trabalho se propõe a identificar como ocorre a representação dos jovens queer no cinema brasileiro, mas especificamente a representação de experiências de feminilidade não-hegemônicas. Em uma realidade social e cultural onde esses padrões vêm sendo cada vez mais desafiados, o audiovisual brasileiro abre espaço para tais narrativas, porém ainda foca a maior parte de suas produções em histórias com protagonistas masculinos, mesmo dentro do cinema queer.
    Podem existir muitas formas de entender o que define o cinema queer, mas aqui será utilizado como parâmetro produções que apresentam personagens LGBTQIAP+ como protagonistas, em uma representação sem estereótipos. Esse cinema de narrativas que desafiam as noções de heteronormatividade tem ganhado espaço no Brasil. Filmes como “Tatuagem” (2013), “Hoje eu quero voltar sozinho” (2014) , “Beira-mar” (2015), são alguns dos títulos de destaque da última década.
    Já na tradição literária ocidental, o século XVIII marca o surgimento do gênero romanesco chamado de Bildungsroman, que em portugês ficou conhecido como romance de formação e em inglês como, coming of age. Esse gênero literário foi adaptado para o cinema e é conhecido até hoje por seu nome anglófono. Se destacam títulos como Juventude transviada (1955), Os incompreendidos (1959), Clube dos Cinco (1985) e no caso do cinema brasileiro, filmes como, As melhores coisas do mundo (2010), Confissões de adolescente (2013) e Califórnia (2015), dentre muitos outros que todos os anos ocupam as salas de cinema. A persistência desse estilo de narrativa, que se transformou e vem ocupando os mais diversos meios de mídia, desde o século XVIII, pode mostrar um apego, ou até mesmo necessidade em contar e ouvir tais histórias.
    Sendo assim, é possível pensar na importância dos filmes de coming of age para a representação dos jovens de cada geração. Contudo, ao longo da história do cinema, essas produções assim como a grande maioria dos gêneros audiovisuais, focou suas narrativas no protagonismo masculino, tendo apenas nos últimos anos surgido uma leva de filmes que carregam em seu centro, o processo de formação de jovens mulheres.
    Este tipo de narrativa tem como característica a centralidade da subjetividade da personagem protagonista, apurando sua relação com o mundo à sua volta. Algo que dita a experiência de corpos marginalizados dentro da sociedade patriarcal-heteronormativa em que vivemos.
    Como estabelecido por Christian Léon (2019, p. 67), o cinema age como uma ferramenta que “atualiza a colonialidade do ver”. As representações culturais da experiência queer foram atravessadas pela teoria queer branca, mas é possível notar o movimento da crítica queer racializada, sendo traduzidas para os signos culturais das novas gerações de realizadores.
    Para a mulher LGBTQIAP+, periférica e racializada, esse movimento representa o ganho de um espaço imaterial, representado pelo ver. O cinema, como um produto da sociedade da qual faz parte, pode servir de diagnóstico sobre a mesma, a partir das questões que aborda ou ignora. A teoria queer branca universalizante, se faz também por meio de signos culturais. É possível então, atrelar a crítica queer racializada aos estudos sobre a representação queer no cinema brasileiro, buscando entender como essa representação acontece, ou não acontece.
    É possível, então, que esses filmes de formação possam servir como produtores de identificação para os indivíduos que buscam representar? Uma análise a partir da crítica queer racializada e da teoria decolonial da cultura audiovisual brasileira pode nos conduzir a uma ideia de representatividade de experiências não-hegemônicas a partir de um ponto de vista central, que leva os corpos marginalizados ao lugar de sujeitos e não objetos de ações externas. Quando o espectador é convidado a vivenciar o mundo a partir da subjetividade das personagens, onde o “outro” se torna o mundo opressor.

Bibliografia

    LEÓN, Christian. Imagem, mídias e telecolonialidade: rumo a uma crítica decolonial dos estudos visuais. Revista Epistemologias do Sul, v. 3 n. 2, 2019.

    LUGONES, María. Rumo a um Feminismo Descolonial. Estudos Feministas, 22, 3, 2014.

    MORAIS, Fernando Luís de et al. De Queer a Quare: uma proposta interseccional entre gênero, raça, etnia e classe. Itinerários, Araraquara, n. 8, p. 61-76, jan. 2019.

    MORETTI, Franco. O romance de formação. São Paulo: Todavia, 2020.

    NETO, Flavio Quintale. “Para uma interpretação do conceito de Bildungsroman.” Pandaemonium Germanicum, no. 9 (2005): 185–205.

    REA, Catarina. Crítica Queer Racializada e deslocamentos para o Sul global. In: HOLLANDA, Heloísa B. Pensamentos feministas – Sexualidades no Sul global. RJ: Bazar do Tempo, 202

    SOUSA, Ramayana; BRANDÃO, Alessandra. Inventário de uma infância sapatão em um mundo de imagens. Dossiê Temático: Tornar-nos Criança: Auto-Etnografias, Cuidados e Reparações v. 3 n. 9 (2020): REBEH V.3 N.9 (2020).