Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Furtado Mendes Machado (PUC-Rio)

Minicurrículo

    Patrícia Machado é professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e da graduação em Estudos de Mídia da PUC-Rio. Jovem Cientista do Nosso Estado- FAPERJ (2023) e líder do Grupo de Pesquisa “A pesquisa das imagens de arquivo e o desenvolvimento de um método” (CNPQ). Membro do Conselho de Administração da OS-Sociedade Amigos da Cinemateca.

Coautor

    Thais Blank (FGV CPDOC)

Ficha do Trabalho

Título

    A saída da prisão: um filme amador de Norma Bengell

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Propomos a análise de um filme em Super-8, produzido em 1979, guardado na Cinemateca Brasileira, recém digitalizado e nunca exibido no país. Nele, a atriz Norma Bengell alterna-se entre filmar e participar em cena no momento em que a militante política Inês Etienne é libertada da prisão. Damos prosseguimento a uma pesquisa apresentada na última Socine que tem por objetivo analisar os caminhos seguidos por imagens produzidas na ditadura civil-militar: a produção, a circulação e os usos variados.

Resumo expandido

    No exato momento em que sai da prisão, a militante política Inês Etienne é flagrada por uma câmera amadora Super-8, para a qual posa e sorri no calor da emoção. Sequestrada, encarcerada, torturada barbaramente e ameaçada de morte pelos agentes do Estado brasileiro, Inês Etienne foi a única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis e teve um papel fundamental no processo de resistência e denúncia dos crimes cometidos na ditadura.

    A trajetória de Inês Etienne representa de forma única esse momento traumático do país e goza de reconhecimento no campo político e histórico. Norma Bengell é aquela que filma Inês. Apesar do engajamento político e da longa carreira de atriz e cineasta, ela sobrevive no imaginário coletivo como vedete, símbolo sexual, um clichê sobre o qual paira apenas uma vaga lembrança do seu engajamento político. Norma também foi perseguida por um discurso moralista, sequestrada por agentes disfarçados, presa e teve que viver no exílio durante o período da ditadura.

    O tema central de comunicação é falar do encontro dessas mulheres pelas imagens do cinema. Em especial, interessa pensar no gesto de Norma em filmar Inês no mesmo ano em que realizaria o seu primeiro curta-metragem como diretora. Em Maria Gladys, uma atriz brasileira, Norma entrevista a atriz e traz questões sobre a presença e a invisibilidade da mulher no cinema. No filme, elas conversam e falam das censuras que sofreram por conta do moralismo da época e da militância política. O que as imagens que realiza de Inês têm em comum com esse primeiro curta-metragem dirigido por Norma Bengell?

    Nosso intuito é mostrar, a partir de diferentes imagens e documentos de arquivos privados e público, as semelhanças e diferenças entre essas mulheres: enquanto Inês permanecia escondida em uma casa clandestina, Norma aparecia em reportagens e capas de revistas colando-se frontalmente contra o autoritarismo. Documentos da polícia política e entrevistas, que utilizamos no cruzamento com as imagens, revelam ainda o lado mais politizado da vedete, atriz e símbolo sexual, como o sequestro, prisão pelos militares e o exílio. Sobre o período da ditadura, a personagem do filme de Norma, Maria Gladys, conta em entrevista para o site Mulheres do cinema brasileiro, concedida há cinco anos: “Sou filha do golpe de 1964…veio a censura e acabou a minha profissão, justamente quando eu estava cheia de fôlego”.
    Construir uma espécie de mosaico de imagens e sons dessas personagens pode nos levar a uma compreensão mais profunda da participação de mulheres na resistência à ditadura militar no Brasil mas, sobretudo, do papel que as imagens exercem na construção dessa memória.

Bibliografia

    BENGELL, Norma. Norma Bengell. São Paulo: Versos Editora, 2014
    BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Brasília: CNV, 2014
    CIFOR, Marika e WOOD, Stacy. Critical Feminism in the Archives. Jornal of critical Library and Information Studies. Vol. 1 No. 2 (2017): Critical Archival Studies.
    FICO, Carlos. Como eles agiam: os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia política. Rio de Janeiro: Record, 2001
    Gladys, Maria. “Entrevista com Maria Gladys”. Mulheres do Cinema Brasileiro, 13 de setembro de 2019. https://www.mulheresdocinemabrasileiro.com.br/site/entrevistas_depoimentos/visualiza/78/Maria-Gladys
    MACHADO, Patricia, & BLANK, Thais. (2020). Musas insubmissas: Estudo de “Inês” (1974), um filme de coletivo sobre uma presa política brasileira. Revista Eco-Pós, 23(3), 34–54. https://doi.org/10.29146/eco-pos.v23i3.27608
    PERROT, Michelle. Minha história das das mulheres. São Paulo: Contexto, 2019.