Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

Erick Felinto de Oliveira (UERJ)

Minicurrículo

Erick Felinto é pesquisador do CNPq e Professor Titular da UERJ, onde realiza pesquisas sobre cinema, cibercultura e política. Foi professor visitante na Universität der Künste Berlin e na NYU. É autor dos livros A Religião das Máquinas: Ensaios sobre o Imaginário da Cibercultura (Sulina), O Explorador de Abismos: Vilém Flusser e o Pós-Humanismo (Paulus) e A Imagem Espectral: Comunicação, Cinema e Fantasmagoria Tecnológica (Ateliê Editorial), entre outros.

Ficha do Trabalho

Título

Terra Plana: Vídeos do Youtube e Mundos Alternativos

Mesa

Multiverso: o audiovisual na construção de mundos compartilhados

Formato

Presencial

Resumo

Resumo expandido

Segundo líderes e defensores da hipótese terraplanista (teoria segundo a qual o real formato da Terra seria achatado e não redondo), os vídeos do Youtube vêm sendo instrumentais na difusão de suas ideias (Cf. Landrum, Olshanski & Richards, 2021, p. 136). Não obstante o absurdo científico da crença em uma Terra plana no século XXI, a tese segue ganhando força a cada dia, especialmente entre o público com inclinações conservadoras e crenças conspiracionistas. Esse fenômeno precisa ser entendido em contexto mais amplo, através de parâmetros ideológicos, políticos e sociais, e como expressão de uma profunda descrença nas instituições tradicionais de produção de conhecimento. Graças à operação de algoritmos que são característicos não apenas do Youtube, mas da internet como um todo, os usuários da plataforma são expostos continuamente a produtos audiovisuais elaborados para reforçar seus vieses ideológicos e visão de mundo. O objetivo deste trabalho é analisar as estruturas desses discursos audiovisuais, que contribuem para a constituição de uma espécie de “mundo alternativo”, divorciado das percepções e convicções normativas da sociedade. Uma simples busca pelo tema na plataforma revela dezenas de centenas de vídeos, seja em defesa acirrada da tese, seja tomando-a como objeto de sátira impiedosa, todos com milhões de visualizações. De que modo tais vídeos acabam configurando um ecosistema midiático no qual a visão conspiracionista é estruturada e alimentada? Que recursos técnicos e narrativos são convocados para seduzir o espectador? Como os discursos e a “ciência” da Terra plana são traduzidos em imagem e som nesses vídeos? Essas são as questões centrais com as quais este trabalho pretende se defrontar. Partindo da ideia da análise do imaginário com as ferramentas da “mitocrítica” (Durand, 1996), da investigação retórica dos discursos conspiratórios (Rice, 2020) e da teoria da “política imaginal”, de Chiara Bottici (2019), pretende-se buscar explicações para a popularidade desse fenômeno e o papel das plataformas digitais (especialmente de imagem e som) em sua difusão. O que se almeja, em última instância, é o esboço de elementos constitutivos de uma cartografia da imaginação reacionária. Se os produtos midiáticos são essenciais na construção de tais “mundos alternativos”, é fundamental compreender de que forma eles atuam como arcabouços de um multiverso em que a normatividade dos discursos sociais é violentamente posta em questão, e a possibilidade dos consensos comunicacionais e ideológicos se fragiliza radicalmente.

Bibliografia

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