Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    debora regina opolski (UFPR)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação e Linguagens, com a tese “A fragmentação da performance vocal do personagem no cinema a partir da perspectiva da edição de diálogos”. Pesquisa processos de criação e produção sonora, captação e edição de som para cinema e artes do vídeo. Autora dos livros “Introdução ao desenho de som” (2013, UFPB) e “Edição de diálogos no cinema” (2021, UFPR). Professora do curso de Licenciatura em artes da UFPR e do PPG-CINEAV, Pós-graduação em cinema e artes do vídeo, da UNESPAR.

Ficha do Trabalho

Título

    ANÁLISE DA PERFORMANCE VOCAL EM FILMES DE CONVERSAÇÃO BRASILEIROS

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação tem o intuito de apresentar uma pesquisa que relaciona dois temas que são de interesse da autora: as formas da fala na cinematografia brasileira e o espectro do som como ferramenta de análise. A comunicação pretende compartilhar dados que podem nos ajudar a compreender de quais formas a fala é um elemento cinematográfico que estrutura a mise en scène nos filmes de Conversação, conceito cunhado pelo pesquisador Alexandre Garcia (2022).

Resumo expandido

    Nos últimos anos, pesquisadores brasileiros do campo de estudos do som no cinema vêm se dedicando a estudar questões relacionadas ao elemento da voz no audiovisual. Neste contexto, a fala e os traços sonoros materiais que a constituem enquanto performance (Zumthor (2007 [1990]) no cinema ficcional narrativo, vêm sendo amplamente estudados.
    Mas fora do campo de estudo do som, a interlocução resultante destas vozes, a conversa entre os personagens, também está sendo discutida como elemento audiovisual potente o suficiente para engendrar o conceito de um estilo de audiovisual, intitulado por Alexandre Garcia (2022), filme de conversação. Para Garcia, existe um conjunto de filmes que marcam a filmografia mundial por utilizarem a fala prosaica como um elemento semântico e sonoro definidor da cena e das ações da mise en scène.
    A partir do contato com o conceito e do Interesse no elemento sonoro da fala enquanto constituinte da performance, surgiu a pergunta que delineou esta pesquisa: seria possível realizar uma análise fílmica da voz da trilha sonora, para comprovar a hipótese de Garcia e contribuir para a solidificação do conceito de filmes de conversação?
    Considerando que os filmes de conversação utilizam a fala como elemento cinematográfico que estrutura a mise en scène e que a forma da fala (incluindo todos os elementos expressivos que compreendem a entonação, os sotaques e dialetos) é um elemento importante para a comunicação, propomos, fazer uma análise comparativa de performances vocais de personagens, em cinematografias de duas partes do Brasil. Utilizamos a análise espectral como ferramenta metodológica (CARREIRO, OPOLSKI, 2022), para que seja possível verificar visualmente os elementos expressivos que constituem as performances da fala espontânea planejada no audiovisual brasileiro contemporâneo e estabelecer as relações entre as conversas e os outros elementos que compõem o audiovisual.
    Elencamos dois filmes para a análise, o curta-metragem paranaense Sobrenatural de 2012, dirigido por Alexandre Rafael Garcia e o longa-metragem baiano Voltei, dirigido por Glenda Nicácio e Ary Rosa, de 2020. Ao comparar trechos das performances vocais destas duas produções, levantamos dados que podem comprovar a hipótese de que as falas espontâneas planejadas dos filmes de conversação são fortes indícios estruturadores da mise en scène.
    Os dados analisados nos provam que existe uma característica temporal impregnada nesses filmes, que não pode ser desvinculada da localização geográfica da produção e do tipo de emissão vocal das personagens/atrizes e atores. Se as conversas são a ação dos filmes de conversação, o ritmo das conversas gera, em grande parte, para não dizer completamente, o ritmo do audiovisual. Sendo assim, focalizamos em dois aspectos: presença de dialetos e característica do tempo empregado na emissão da performance (abordando os conceitos de pausas lógicas e psicológicas elaborado por Stanislavski (2006 [1989]).
    A análise do espectro das falas nos mostrou que a quantidade de palavras emitidas por minuto, a entonação e o tempo de fala de cada personagem se relaciona intrinsecamente com os cortes da imagem, gerando o ritmo do audiovisual. Provou que estamos diante de dois filmes nos quais a conversa é a mise en scène. Filmes que são constituídos por formas de falas de partes diferentes do Brasil, sendo portanto, filmes de conversação diversos e plurais justamente porque o que os organiza, potencialmente como obra artística audiovisual, é a performance vocal.
    Por fim,esta comunicação pretende avançar na discussão sobre a importância da sonoridade da fala como um elemento fundante da trilha sonora e, assim sendo, elemento fundamental para a estrutura da cinematografia narrativa de ficção, neste caso específico, nos filmes de conversação, na medida em que prova que o tempo da emissão vocal, os dialetos, sotaques, entonação e tudo que compreende a forma das falas das personagens, organiza o ritmo da encenação e a narrativa.

Bibliografia

    CARREIRO, Rodrigo; OPOLSKI, Débora. O espectro do som como ferramenta de análise fílmica. PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, v. 12, n. 24, p. 388–414, 2022.

    GARCIA, Alexandre. Filmes de conversação: conceito, história e análise de um discurso cinematográfico. Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação em História. UFPR, 2022.

    OPOLSKI, Débora. Os diálogos dos personagens como geradores da violência: estudo sobre filmes brasileiros. Revista Brasileira de Música, 33(1), p.337-360, 2020.

    OPOLSKI, Débora. Edição de diálogos no cinema. Curitiba: Editora da UFPR, 2021.

    ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Cosac Naify, 2007 [1990].