Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Plaza Pinto (UFPR)

Minicurrículo

    Professor do departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor colaborador do Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo da UNESPAR. Coordenador do curso de História-memória e imagem.

Ficha do Trabalho

Título

    Visão de Brasília: a crítica e o projeto de cinemateca ao redor de 64

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Estudo da crítica e do diálogo entre a Cinemateca Brasileira e os cineastas Nelson Pereira dos Santos e Paulo César Saraceni em torno da marca histórica de 1964. Cultura cinematográfica, revistas e festivais de cinema como meios de ação específica. A singularidade da obra de Nelson após Vidas secas e o desafio dos acontecimentos entre 1964 e 1965. Brasília como um registro real e imaginário para a crítica cinematográfica brasileira.

Resumo expandido

    A pesquisa em curso destaca a correlação e a cronologia de fatos sobre a presença em Brasília da Cinemateca Brasileira. Desde a proposição do Projeto de Lei 711/1959, as viagens São Paulo-Brasília de integrantes do órgão acontecem com mais frequência até a crise de 1965. Mesmo depois disso, mantêm-se o trabalho de intervenção na Semana do Cinema Brasileiro (1965) e ainda no já então Terceiro Festival de Brasília (1967). O projeto de publicação e conhecimento do trabalho da instituição forma pessoas e multiplica as perspectivas de inserção de autores e autoras para além de Paulo Emílio Sales Gomes desde o final dos anos 1950 no Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo.
    A ação política e institucional da Cinemateca Brasileira no projeto de universidade da UNB (Universidade de Brasília) não se restringia à pesquisa de projetos similares de ensino público superior na área de cinema e comunicação, projetava também a presença de assuntos e temas anteriores ao período de tensão política entre 1963 e 1964. Se existe desde a proposição do projeto de apoio à instituição da década anterior, projeto retirado de pauta em 1961, a presença do conservador-chefe da Cinemateca Brasileira na realidade brasiliense também dizia respeito à inserção na vida cultural da cidade que ele notabilizou com uma série dispersa de artigos com referência direta no título a “Brasília”. É também na revista Visão, na revista Realidade e em documentos do Congresso Nacional que encontramos os sinais da ação do trabalho e da literatura cinematequeira.
    Nelson Pereira dos Santos dará aulas na UNB por um período entre 1964 a 1965 a convite de Pompeu de Sousa. A relação com Nelson Pereira com a Cinemateca Brasileira, então, é particular. Antecede o Cinema Novo e tange o percurso que se realiza de modo completo desde o escrito de 1958, “Rascunhos e exercícios”, no Suplemento Literário, documento de recepção dos primeiros filmes do cineasta, até quando, em 1963, o crítico Salles Gomes acolhe Vidas secas como obra madura em alentado datiloscrito para a revista Visão, no qual compara os aspectos criativos do romance de Graciliano Ramos e do filme, mas descarta proximidade estética com a bandeira revolucionária do “chamado” Cinema Novo.
    O interesse em integrar Nelson ao quadro desta pesquisa aparece a partir de duas leituras, não à toa uma bem recente, da análise que Nuno Ramos faz do “palco de Corisco” em seu ensaio sobre cultura brasileira, Glauber, Tunga e Caetano Veloso no livro Verifique se o mesmo. Aqui a referência ao Romance de 30, a referência ao Romance de Graciliano e a referência ao filme de Nelson são centrais na tese do ensaio.
    A outra leitura traz o pareamento que perpassa, dois anos depois, a situação de O Desafio na Primeira Semana do Cinema Brasileiro. Também aqui Salles Gomes traduz em artigo a defesa e solidarização com o filme do amigo e jovem pupilo para o último artigo que publicará no Suplemento Literário, “Novembro em Brasília”. Momentos de proximidade diante do autoritarismo, como será o caso também da defesa contra a censura ainda também no festival de 1967, motivo pelo qual o artigo “Brasília: o diabo solto no cinema” na revista Realidade expõe a estratégia de persistência do trabalho mesmo em situação tão adversa.
    É curioso que também em Visão, no começo de 1963, Porto das caixas fora assunto entre outros filmes presentes no festival do cinema brasileiro realizado em Salvador, evento que é o assunto principal do escrito. Trata-se um dos poucos textos que traz alguma interpretação de filme relativo ao Cinema Novo, mas numa chave de comparação com outros materiais por ocasião de um evento, onde o filme foi exibido paralelamente a Tocaia no asfalto, Assalto ao trem pagador e Três cabras de lampião. Do mesmo modo, em Visão também aparecerá a nota favorável sobre Vidas secas no final de 1963 e a defesa de O Desafio em 1965.

Bibliografia

    GOMES, Paulo Emílio Sales. Uma Situação colonial? 1.ed. São Paulo, Companhia das Letras, 2016.
    ______. Cinema para Visão. Datilografado. São Paulo, 3ff. Cinemateca Brasileira (PE/PI. 0190). 1963a.
    ______. Cinema para Visão. Datilografado. São Paulo, 3ff. Cinemateca Brasileira (PE/PI.0784). 1963b.
    JOHNSON, RANDAL. Cinema Novo x 5. Masters of contemporary brazilian film. Austin, University of Texas Press, 1984.
    JOHNSON, Randal e STAM, Robert. “The cinema of hunger: Nelson Pereira dos Santos’s Vidas secas”. In.: JOHNSON, Randal e STAM, Robert (ed.). Brazilian cinema. Austin, University of Texas Press, 1988. p. 120-127.
    PAPA, Dolores (org.). Nelson Pereira dos Santos. Uma cinebiografia do Brasil. Rio, 40 graus 50 anos. Rio de Janeiro, Centro Cultural Banco do Brasil, 2005.
    RAMOS, Nuno. Verifique se o mesmo. São Paulo, Todavia, 2019.
    SARACENI, Paulo César. Por dentro do Cinema Novo. Minha viagem. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1993.