Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Lucas (UFF)

Minicurrículo

    Mariana Lucas é doutoranda em Cinema e Audiovisual pela UFF, com o projeto Genealogia da imagem do progresso na Amazônia brasileira. Mestre em História Social pela PUCSP. Especialista em História, Cultura e Sociedade pela Faculdade de Ciência Sociais da PUCSP (2016). Graduada pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) (2012). Desde 2016 atua como professora na FAAP (São Paulo)

Ficha do Trabalho

Título

    À margem da imagem: Amazônia e ditadura militar

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    A proposta deste trabalho consiste em realizar uma análise comparativa dos filmes: O projeto Jarí, Jean Manzon (1977) e Jarí, Jorge Bodanzky e Wolf Gauer (1979). Busca-se compreender a maneira como o imaginário desenvolvimentista é formalizado , contrapondo uma produção que compactua com a visão do regime a um documentário crítico. O objetivo é analisar os diferentes regimes de historicidade que atravessam a imagem em seu constructo enquanto imaginário social e expressão cultural.

Resumo expandido

    No Plano de Desenvolvimento Nacional(1975-1979), a Amazônia é identificada como um desafio agrícola de proporções gigantescas. O documento reconhece a necessidade de tirar proveito da infraestrutura promovida pelo Estado para viabilizar a ocupação produtiva da região. Era preciso “integrar para não entregar”, nestes termos, a parceria dos militares com agentes do capital privado (nacional e internacional) apresentaram-se enquanto intermediários aptos a solucionar o problema amazônico e por fim, colonizar a última fronteira que impedia o Brasil de entrar em compasso com a ordem do capital mundial.
    A partir de 1966, distanciando-se de uma atuação paternalista, característica das políticas varguistas, o Estado passa a direcionar sua atuação ao investimento infraestrutural, pesquisa e planejamento, que demandam um montante de capital elevado com retorno a longo prazo. Criando, assim, condições favoráveis para ampliar a escala social da reprodução geral do capital. Desestimulando a produção extrativista, promovendo iniciativas para que esta fosse substituída por atividades mais rentáveis, iniciativas ligadas ao desenvolvimento agrícola, pecuária, mineral e metalúrgica, passam a protagonizar a agenda econômica na região. O Projeto Jarí talvez tenha sido a apoteose do imaginário desenvolvimentista, que norteou a política econômica durante a ditadura militar.
    Na presente proposta, será realizada uma análise comparativa a partir das obras : O projeto Jarí, Jean Manzon (1977) e Jarí, Jorge Bodanzky e Wolf Gauer (1979).
    No documentário de Jean Manzon é possível identificar a formalização do imaginário desenvolvimentista na Amazônia, a imagem positivada (CARDENUTO, 2009, p. 71) da empreitada privada, que representa o empresariado enquanto vanguarda responsável pelo desenvolvimento nacional: “Projeto Jarí fez desse rio um caminho natural para os pioneiros”, anuncia o narrador. O filme de Manzon, retrata o Projeto Jarí em todo seu virtuosismo, a promessa de bem-estar não apenas beneficia o trabalhador, que finalmente teve acesso à educação, moradia e alimentação de qualidade, graças à “consciência social” do empresariado, mas toda a nação celebra e enriquece com a derrubada do último enclave ao avanço do progresso nacional.
    Já no filme de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, a noção do desenvolvimentismo enquanto ação catastrófica é o que estrutura a obra. Os diretores, à convite do então senador Evandro Carreira (MDB), o acompanharam na primeira CPI da Amazônia. O documentário se contrapõe às imagens do discurso oficial captadas por Gauer e Bodanzky durante a CPI, com aquelas que serão gravadas ao término da mesma, quando os senadores deixam o Projeto Jarí e os diretores decidem ficar para entrevistar os trabalhadores. A partir destas entrevistas, um desmanche do discurso desenvolvimentista triunfalista é operado. A imagem que emerge é um contra-arquivo do progresso.
    A análise destes dois filmes almeja: compreender a construção discursiva dos militares em torno da Amazônia, sobretudo, a maneira como o imaginário desenvolvimentista foi formalizado em filmes produzidos na região. Por meio desta metodologia comparativa, ao analisar uma produção que compactua com a visão do regime, contrapondo-a a um documentário crítico à ação dos militares, uma arqueologia da imagem revela-se, tão urgente quanto necessária, em um movimento aparentemente ambíguo, em que observar os nexos relacionas de regimes de historicidades pregressas permite compreender a maneira que estes corroboram para construção discursiva e visual dos militares em torno da Amazônia.

Bibliografia

    ANDRADE, Rômulo de Paula. Amazônia: Ciência, Saúde e Tecnologia nas produções de Manzon Films. XXVIII Simpósio Nacional de História: Lugares dos historiadores , velhos e novos desafios, Florianópolis. 27 a 31 de julho de 2015.

    CARDENUTO, Reinaldo. O golpe no cinema: Jean Manzon à sombra dos Ipes. In Revista ArtCultura, Uberlândia, v.11, n.18, p.59-77, jan-jun 2009.

    CARDOSO, Fernando Henrique e MÜLLER, Geraldo. Amazônia: expansão do capitalismo. Centro Edelstein de pesquisas sociais: Rio de Janeiro, 2008.

    DOS SANTOS, Rodrigo Wallace. Pioneiros e duendes: desenvolvimento e integração da Amazônia a partir dos filmes documentários de Jean Manzon. Dissertação apresentada no Programa de Pós Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da. Universidade Federal do Pará. Belém, Pará, 2018.

    SALLES, João Moreira. Arrabalde: Em busca da Amazônia. Editora Companhia das letras, São Paulo, 2022.

    PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio. Editora Ufmg, Mina Gerais, Belo Horizonte, 2012.