Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Danielle dos Santos Borges (UFF/RJ)

Minicurrículo

    Jornalista formada pela UERJ/RJ (2000), doutoranda em Cinema e Audiovisual (PPGCine/UFF) e mestre em Ciências da Comunicação (UAB – Barcelona-2007), com uma análise da indústria cinematográfica brasileira a partir da retomada, entre 1995 e 2005. Na mesma área, realizou, para a FilmeB, um estudo sobre as políticas de regulação de cinema em 20 países, material que integrou revista para o Festival do Rio de 2011. Desde 2014, trabalha na Ancine como Técnica em Regulação do Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Recepção e EPC: um caminho para políticas públicas para o audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente artigo revisa algumas críticas feitas às pesquisas de recepção mais recentes do país para defender uma retomada das instâncias econômica e política nesses estudos, a partir da Economia Política da Comunicação, no intuito de aproximá-los da proposição de políticas públicas para o setor do audiovisual.

Resumo expandido

    De um modo geral, os estudos de recepção recentes realizados sob a perspectiva das mediações (abordagem sociocultural), vêm se concentrando no sujeito, muitas vezes de forma isolada, sem considerá-lo em seu contexto social e cultural, e têm deixado de lado questões relevantes relacionadas à Economia Política da Comunicação (EPC). Ou seja, embora a aproximação ao conceito de mediações tenha permitido voltar o olhar das pesquisas para o sujeito, que, naquele momento, era subsumido nos trabalhos sobre os emissores e os processos de produção, agora parece acontecer um problema inverso, em que as mediações dos emissores e o contexto econômico de produção e circulação vêm sendo negligenciados nos estudos de recepção mais recentes no país, gerando pesquisas pouco engajadas com a realidade social.

    Nesse sentido, Escosteguy (2008) apresenta um protocolo teórico-metodológico que reivindica uma visão global e complexa do processo comunicativo, sustentada na ideia de integração do espaço da produção e da recepção, com base nas propostas de autores como Martín-Barbero e Stuart Hall, alegando que a maioria dos trabalhos no campo não têm analisado esses âmbitos de forma articulada e a aplicação dessas teorias nos estudos realizados têm deixado um pouco de lado as mediações dos emissores e o contexto de produção e circulação dos produtos audiovisuais analisados.

    “A proposta do autor (Hall) tenta preservar a dinâmica do processo, desafiando a ideia de hierarquia entre produção e recepção, e de correspondência obrigatória entre elas, embora admita que é a produção que constrói a mensagem e que o circuito aí se inicia. Na estrutura de produção contam tanto a estrutura institucional, as rotinas de produção, a interferência de ideologias profissionais e hipóteses sobre a audiência como o meio social de onde são retirados “assuntos, tratamentos, agendas, eventos, equipes, imagens da audiência, ‘definições de situação’ de outras fontes e outras formações discursivas” (Hall 2003: 389). Forças que, também, constituem a audiência.” (ESCOSTEGUY, 2008, p. 214)

    A pesquisadora complementa chamando a atenção para a mediação da “institucionalidade”, como aspecto que daria conta “das relações de poder dos grupos sociais, políticos e econômicos e suas tentativas, sucessos e fracassos na instância da produção”, destacando ainda que “a materialidade desta mediação está profundamente relacionada com a estrutura econômica e os conteúdos ideológicos” (idem, 2008, p. 130).

    Na mesma direção, Florencia Saintout e Natalia Ferrante (2011), ao escreverem sobre os estudos de recepção realizados na Argentina, apontam a despolitização como um aspecto problemático dessas pesquisas, característica que pode ser dita a respeito também dos estudos realizados no Brasil. Na visão delas:

    “(…) o que sucede agora nos estudos contemporâneos poderia assinalar-se como um esquecimento da estrutura e do poder em prol da ênfase da vida cotidiana, de atores que parecem situar-se sem relação com a estrutura do espaço social, não porque se desconheça que ela exista, mas porque simplesmente não se trabalha a articulação com ela.” (SAINTOUT; FERRANTE, 2011, p. 34, apud JACKS, 2015, p. 246)

    No Brasil, sobretudo, é importante considerar que “os meios atuam como reforço do status quo e das relações de poder estabelecidas, posicionando-se ao lado das lideranças políticas, quando deveriam ser porta-vozes da sociedade mais ampla. Portanto, os estudos das audiências também teriam que enfocar o aspecto mais ‘político’ da relação entre meios e sociedade” (Jacks et al, 2014, p. 112). Em nosso ponto de vista, nesse sentido, a consideração de fundamentos da Economia Política da Comunicação e da Cultura nos estudos de recepção pode contribuir à inclusão das instâncias de política e de poder nas análises realizadas, instâncias essas cruciais para a aproximação das pesquisas do campo à proposição de políticas públicas para o audiovisual que possibilitem um cenário cultural mais democrático.

Bibliografia

    BOURDIEU, María Victoria. La mirada interdisciplinaria en la reflexión sobre contenidos televisivos. In: IV Congreso Asociación Argentina de Estudios de Cine y Audiovisual. Rosario: Universidad Nacional de Rosario, Argentina, Março de 2014.

    ESCOSTEGUY, Ana Carolina. Circuitos de cultura/circuitos de comunicação: um protocolo analítico de integração da produção e da recepção. Comunicação Mídia e Consumo, v. 4, n. 11, p. 115-135, 2008.

    JACKS, Nilda et al. Estudar a recepção: uma agenda coletiva. In: Estudos de recepção Latino-Americano: métodos e práticas. Institut de la Comunicació, 2014. p. 108-121.

    SAINTOUT, Florencia; FERRANTE, Natalia. La recepción no alcanzó: aportes para pensar una nueva agenda de comunicación. Análisis de recepción en América Latina: un recuento histórico con perspectivas al futuro. Quito: Quipus-CIESPAL, p. 21-43, 2011.