Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Christian Jordino Antonio Ferreira Alves da Silva (FCA/UFMT)

Minicurrículo

    Mestre em Cinema e Audiovisual pelo PPGCine/UFF, com a dissertação “Cine Globo de Três Passos: uma história de resistência”, Christian Jafas participou da primeira edição do FCTP, em 2014, com o filme “Cine Paissandu: histórias de uma geração”, retornando como jurado, em 2015 e 2018; como oficineiro, em 2015 e 2016; e como integrante da equipe de Comunicação, em 2019. Atualmente, está como professor do curso de Cinema e Audiovisual, na Faculdade de Comunicação e Artes, da UFMT.

Ficha do Trabalho

Título

    Festival de Cinema de Três Passos: um projeto de formação de plateia

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho pretende observar como as ações voltadas para a educação audiovisual, criadas pelo Festival de Cinema de Três Passos, contribuíram (e contribuem) para a formação de plateia na cidade e para o crescente número de produções locais a cada ano. Desde 2014, o FCTP acontece no Cine Teatro Globo, única sala de exibição em Três Passos, interior do Rio Grande do Sul, atraindo cineastas de várias partes do Brasil, com o intuito de interagir com o público durante a semana do evento.

Resumo expandido

    Sonho de dois cinéfilos, o Festival de Cinema de Três Passos é criado com único pensamento: “Acabar com o marasmo cultural daqui, sabe?” A frase é do jornalista – e agora cineasta – Carlos Roberto Grün que aceitou o convite de Nelson Brauwers para criarem o festival, em meados de 2013. Médico de formação e cineasta de coração, Nelson já tinha feito dois curtas-metragens que percorreram alguns festivais pelo interior. A vontade de Brauwers era fazer com que a isolada Três Passos entrasse no cenário cultural do estado (GRAFFITTI, 2004).
    Construído em 1955, com o intuito de ser uma casa de exibição cinematográfica, o Cine Teatro Globo amargava um longo período de sala vazia e resistia ao inevitável fechamento dos cinemas de rua (GONZAGA, 1996). Com um variado leque de estratégias, os Levy estavam na terceira geração de gestores que mantinham o cinema vivo. Quando a ideia do festival chegou até a família, Levy Filho, atual gestor, acreditou na empolgação de Nelson.
    Brauwers mostrou um projeto de festival de caráter competitivo, com premiação e troféu, voltado para o curta-metragem nacional e com a possibilidade de trazer cineastas para a cidade, gerando uma troca de experiências com o público. Os Levy viram uma oportunidade de divulgar o nome do cinema, da família e do município Brasil afora. A primeira reunião para instituir a comissão organizadora acontece no Cine Globo, em novembro de 2013, com a presença de doze pessoas. A peça que faltava para construir o que seria o futuro FCTP é encaixada por Elvídia Zamin, na segunda reunião.
    Respeitada pela comunidade, Zamin fez carreira como professora em colégios públicos e privados da região, além de ter sido pró-reitora da Unijuí, no campus de Três Passos (ALVES DA SILVA, 2022). Com ampla experiência acadêmica, Zamin propõe o que seria o diferencial do FCTP: a inclusão de mostras paralelas voltadas para o público infantojuvenil, além do projeto de ofertar oficinas de formação audiovisual nos meses que antecedem o evento. No primeiro ano, em 2014, a Oficina de Introdução ao Cinema e ao Roteiro é oferecida de forma gratuita para docentes e discentes das escolas públicas do município – mas não restrito somente a esse nicho.
    O sucesso do primeiro festival vai além dos números: 251 filmes inscritos, de 24 estados do Brasil, uma produção de Três Passos, 71 curtas exibidos, participação de dois cineastas de fora do estado, um público estimado em 1.800 espectadores e ainda 26 alunos formados na primeira oficina. A intenção do coletivo que organiza o festival é contribuir para a permanência do cinema através do engajamento da sociedade três-passense (FERRAZ, 2017).
    Dessa forma, o próximo passo é ter a ocupação na sala durante o ano e não somente na semana do FCTP. Em 2016, surge o projeto #Cidade Cinematográfica que engloba oficinas de formação e um cineclube com 26 sessões e com público registrado de 1.170 pessoas em seu primeiro ano. Ainda em 2016, inspirada nas ações do festival, Deca Krugel, professora da rede pública municipal, cria o projeto Aprendizagem em Movimento e, em 2019, organiza o Dia da Família no Cinema com exibição da produção dos alunos no telão do Cine Globo.
    Se na edição de 2014, só uma produção da cidade foi inscrita e exibida no festival, esse número sobe para três no ano seguinte e, dobrando, chega a seis, em 2016. Com a criação de mais projetos de formação, a quarta edição, de 2018, recebe 25 obras produzidas na região. Na edição mais recente, em 2019, esse número alcançou a marca de 33 curtas-metragens que retratam cenários e contam histórias de personagens tanto de Três Passos quanto de cidades vizinhas, sempre com sessões lotadas.
    Assim, esse “espaço do sonho”, essa “caixa-mágica” (VIEIRA e PEREIRA, 1982) entra no imaginário cultural três-passense para além da cinefilia. Nelson e Carlos, por exemplo, tiveram suas obras exibidas no festival, indo de cinéfilos a cineastas. Qual o impacto disso em futuras gerações que estão crescendo com as ações do festival?

Bibliografia

    ALVES DA SILVA, Christian J. A. Ferreira. Cine Globo de Três Passos: uma história de
    resistência. Dissertação – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2022.

    FERRAZ, Talitha. A memória da ida ao cinema e a mobilização das audiências no caso do Cine Belas Artes. In: 26° Encontro Nacional da Compós, 2017, São Paulo. Anais…

    GONZAGA, Alice. Palácios e poeiras: 100 anos de cinemas no Rio de Janeiro. Rio de
    Janeiro: Funarte; Record, 1996.

    GRAFFITTI, Luis Gustavo. Três Passos: colonização e imigração. Ijuí: (s/n). 2004.

    VIEIRA, João Luiz e PEREIRA, Margareth Campos da Silva. Espaços do sonho: arquitetura dos cinemas no Rio de Janeiro 1920-1950. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1983.