Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Demian Albuquerque Garcia (UPJV – UNESPAR)

Minicurrículo

    Demian Garcia é doutorando em Cinema na UPJV, professor do curso de Cinema e Audiovisual da UNESPAR. Sua pesquisa se concentra na construção de emoções através do som no cinema japonês. Seus centros de interesse são: a escritura sonora, processo de criação de som, cinema de horror e cinema japonês. Integra o Laboratório de Pesquisa CRAE, UPJV, França; e o grupo de pesquisa LAPIS – Laboratório de Pesquisa de Imagens e Sons (UFPE/CNPq). www.demiangarcia.com

Ficha do Trabalho

Título

    A concepção sonora em Os Inocentes e sua influência na J-Horror

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação quer examinar a concepção sonora em Os Inocentes (1961). Este filme é quase uma exceção no cinema ocidental, não apresentando uma escritura sonora atracional. Isso faz com que se torne uma grande referência para um grupo de cineastas japoneses contemporâneos. Silêncios abundantes e economia na música orquestral. Vozes, ruídos vocais, efeitos sonoros e ambiências reverberam no fora de quadro sem que seja possível determinar se são de natureza diegética, extra diegética ou subjetiva.

Resumo expandido

    Esta comunicação apresenta a importância da concepção sonora do filme Os Inocentes, de 1961, dirigido por Jack Clayton, e sua influência na geração de diretores japoneses contemporâneos da chamada J-horror. O filme é uma adaptação cinematográfica do livro The Turn of the Screw de Henry James, e inspirou Kiyoshi Kurosawa na maneira de pensar a representação de fantasmas em seus filmes.
    O design sonoro é o principal responsável pela criação uma atmosfera perturbadora e assustadora. Além da canção “O Willow Waly”, que é o principal leitmotiv do filme, cantada ou murmurada pelos personagens, a partitura orquestral composta por Georges Auric é bem econômica, dando muito espaço para momentos de silêncio ou de sons ambientes. Por outro lado, a criação sonora eletrônica de Daphne Oram, que não foi creditada, acompanha principalmente os momentos mais tensos que podem significar a materialização do sobrenatural ou do desequilíbrio psicológico da personagem de Deborah Kerr. Essas sonoridades se misturam às vezes com a música de Auric ou aos efeitos sonoros, deformando também risadas infantis, sussurros ou o som do vento.
    A localização dos elementos da trilha sonora do filme nos espaços sonoros é muito precisa, sendo a música de Auric extra diegética e a canção tema diegética, enquanto os trechos criados por Oram estão sempre situados no espaço subjetivo/interno de Miss Gibbens. Com isso, a participação da música orquestral é mínima, enquanto os sons eletrônicos presentes no filme representam a manifestação dos fantasmas que assombram a casa ou, talvez, o leitmotiv do desequilíbrio progressivo da governanta: seriam realmente fantasmas ou fantasias?
    Regazzi (2013) aponta que “nesse ‘entremeio’ do fantástico, que apresenta uma necessária e persistente incerteza entre uma abordagem racional (alucinação, demência, distúrbios psicológicos…) e uma abordagem sobrenatural (hipótese de um surgimento real, da existência comprovada de fantasmas…), cria-se uma ambiguidade que aparece muito no cinema ocidental, e neste filme é reforçada pelo tratamento sonoro. As vozes e ruídos vocais, os efeitos sonoros e as ambiências reverberam no fora de quadro, sem que seja possível determinar se são de natureza diegética, extra diegética ou subjetiva. Os reverbs são usados sem moderação e acrescidos de um flanger e um delay nos encontros (ou alucinações) de Miss Giddens com espíritos.
    A comunicação quer examinar a utilização dos silêncios e dos sons no filme e também como Os Inocentes é quase uma exceção, no sentido de se pensar a construção sonora e a composição musical como elemento atracional, que é habitual no cinema ocidental, e como, por esse motivo, acaba contribuindo para se tornar uma grande referência para um grupo de cineastas japoneses contemporâneos que trabalham com cinema de fantasmas.

Bibliografia

    CARVALHO Taynan, « O estranho prazer no medo », dans Demian GARCIA (dir.), Cinemas De Horror, 2ª edição., São José dos Pinhais, Estronho, 2016.
    CHEVALIER-CHANDEIGNE Olivia, La philosophie du cinéma d’horreur: effroi, éthique et beauté, Paris, Ellipses, coll. « Culture pop », 2014.
    DESHAYS Daniel, « Conférence à la BNF – Matière de Silence » 2017.
    KUROSAWA Kiyoshi, « Interview with Kiyoshi Kurosawa about his Double Feature choices, Entrevues Belfort International Film Festival ».
    LEUTRAT Jean-Louis, Vie des fantômes: le fantastique au cinéma, Paris, Éd. de l’Étoile, coll. « Collection Essais Cahiers du cinéma », 1995.
    REGAZZI Jean, L’enfance de la peur: dans le hors-champ de Bob Clark, Jack Clayton et Richard Loncraine, Paris, L’Harmattan, coll. « Esthétiques », 2013.
    WHITTINGTON William, « Horror Sound Design », dans Harry M. BENSHOFF (dir.), A companion to the horror film, Chichester, West Sussex ; Malden, MA, John Wiley and Sons, Inc, 2014.