Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    diogo cavalcanti velasco (UFS)

Minicurrículo

    Diogo Cavalcanti Velasco, professor do departamento de Comunicação Social (DCOS), habilitação Cinema e Audiovisual, da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ministra as disciplinas Direção de arte e Direção em cinema e vídeo. Bacharel em publicidade e propaganda pela Universidade Federal de Goiânia UFG, mestre e doutor pela Universidade Estadual de Campinas em Multimeios (Unicamp) e pós-doutorado na Universidade de Sorbonne, Paris 4.

Ficha do Trabalho

Título

    As Imagens-Espaço de temporada

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação pretende apresentar a análise da abertura espacial no filme Temporada (2018), de André Novais. A determinação espacial, seja pela nominação de onde Contagem está, para além das suas práticas espaciais formadas por suas ruas e edificações, é desformada pela criação de outras imagens-espaços, por meio da utilização de agentes estéticos. A metodologia a ser utilizada é a previamente publicada em artigo (VELASCO, 2020).

Resumo expandido

    Trabalhar com a categoria espacial sempre foi um desafio, primeiro pela carga do seu pensamento teórico hegemônico, que o considera como entidade fixa, estática, divisível e homogênea (MASSEY, 2012) e, segundo, pela primazia do tempo como uma categoria mais relevante e contemporânea para campos do conhecimento como a do cinema (GARDIES, 2009; GAUDIN, 2015). O tempo seria o novo, a mudança, a qualidade, o heterogêneo, a condição para que a matéria mude, em oposição ao espaço. Não negamos tais características do tempo, mas elas não estão em desacordo com o espaço, mas atrelado a ele, que posiciona, ordena o que provoca a mudança, além de ser ele também qualitativo e aberto, pois ele é o lugar da relação. Ademais, o espaço cinematográfico, uma dobra espacial, não pode ser colocado nem como o mesmo do mundo percebido, embora o tente reproduzir e lide com os sentidos, nem com o concebido, que tenta racionalizá-lo, para citar duas categorias de divisão do espaço de Lefebvre (2006). Essa relação direta faz parte do que a ilusão da reprodução da realidade deixou ao cinema. Na verdade, ele faz muito mais parte do espaço vivido, outra categoria do autor, não pensado na sua forma de como nos situamos no espaço, mas como ele é sempre criação. Ao final, temos, nos filmes, sempre uma simultaneidade dos espaços percebidos, concebidos e vividos, com domínio do último, por se tratar de um meio artístico.
    Logo, o cinema cria realidades espaciais, suas imagens-espaço (Velasco, 2020), por meio dos seus agentes estéticos, recriando novos códigos e, por isso, provocando novas sensações, que evidenciam devires e mundos nunca dantes vividos. São assim forjados por causa de sua abertura (MASSEY, 2009), deflagrando uma coetaneidade imagética e, por isso, uma política imagética. Enquanto constituição de uma linguagem que tenta encerrar, no clássico, seus códigos definidos pela prática do capital e da reprodução do entretenimento, negócio, é subvertido pela quebra e criação de novas formas de espacialização, papel fundamental enquanto arte. O espaço no cinema se tornou determinado em seu começo, como afirma Deleuze (1985), os mundos criados tentaram mimetizar a matéria, a percepção. Por isso, houve a necessidade do seu encontro com a história, o enredo, com o que conforma o drama, ou a ação. Isso mostra a limitação da percepção, reforça um projeto concebido de linguagem, reforça a caracterização, encerra um caráter hegemônico de se comunicar e apelar por emoções. Porém, escondido, subsumido, a produção do espaço esteve sempre presente. Tivemos que olhar para além da narrativa para a descoberta de que existia uma produção espacial.O cinema moderno coloca novos parâmetros e dessacraliza os códigos. O espaço euclidiano se tornou riemasiano, as coordenadas cartesianas se desfizeram, voltando ao grau zero da produção do espaço, sua forma mais verdadeira de produção. Espaços fragmentados, espaços vazios, naturezas mortas, foram sendo produzidos para realçar sua potência. O espaço virou o lugar da deriva, pois ele pode ser e produzir qualquer paisagem, espacialidade, pode revirar conjuntos, construir novas relações entre elementos.
    Tendo em consideração o que foi dito acima, essa comunicação pretende apresentar a análise dessa abertura espacial no filme Temporada (2018), de André Novais. Na obra, a cidade de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, se torna um lugar de deriva de seus personagens. A determinação espacial, seja pela nominação de onde Contagem está, para além das suas práticas espaciais formadas por suas ruas e edificações, é desformada pela criação de outras imagens-espaços, pelo fora e dentro, o quintal e o interior, o privado e o público, o subjetivo e o objetivo, reinventado por meio da utilização de agentes estéticos como elipses, a fragmentação, o som off fora de campo, a utilização de sua trilha fabular, a desnarrativização, a utilização pontual de planos na protagonista, o ponto de vista que observa, sua paleta de cor, etc…

Bibliografia

    BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. São Paulo: Editora Martins e Fontes, 1990.
    DELEUZE, Gilles. Cinema 1: a imagem-movimento. Tradução de Stella Senra: São Paulo: Brasiliense, 1985.
    ______. Cinema 2: a imagem-tempo. Tradução de Eloisa de Araujo Ribeiro: São Paulo: Brasiliense, 2009.
    GAUDIN, Antoine. L’Espace Cinématographique. Malakoff: Armand Colin, 2015.
    GARDIES, André. L’Espace au Cinema. Paris: Klincksieck, 2019
    LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins (do original: La production de l’espace. 4e éd. Paris: Éditions Anthropos, 2000). Primeira versão : início – fev.2006
    MASSEY, Doreen. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
    VELASCO, Diogo. Imagem-Espaço. (p. 148-167) Rebeca – Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. Vol. 9, no. 1 (jan./jun. 2020), p.148-167. Florianópolis: SOCINE, 2020.