Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Butcher (ESPM)

Minicurrículo

    Professor do curso de cinema e audiovisual da ESPM-Rio. Em 2019, defendeu a tese “Hollywood e o mercado de cinema no Brasil: princípios de uma hegemonia” (UFF). É um dos curadores da Mostra CineBH e integra a equipe do encontro de coprodução Brasil CineMundi. Desde 2017 é mentor do Talent Press do Festival de Berlim e coordenador do Talent Press Rio, realizado no âmbito do Festival do Rio. Assina a coluna Janela Crítica, no Valor Econômico.

Ficha do Trabalho

Título

    Como pensar políticas públicas em tempos de mudanças de paradigma

Seminário

    Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.

Formato

    Presencial

Resumo

    Em janeiro de 2023, o Fórum de Tiradentes reuniu profissionais do audiovisual com o objetivo de propor novas matrizes para a formulação de políticas públicas para o setor. O grupo de trabalho dedicado à exibição/difusão apresentou um desafio em particular, na medida em que as transformações mais profundas provocadas pela digitalização se deram na forma como as obras são difundidas e apreciadas. A questão principal que se impôs foi: como pesar um segmento que atravessa mudanças paradigmáticas?

Resumo expandido

    Em janeiro de 2023, o Fórum de Tiradentes reuniu dezenas de profissionais do audiovisual com o objetivo de refletir e propor novas matrizes de pensamento para a formulação de políticas públicas para o audiovisual brasileiro. Foram organizados cinco grupos de trabalho na tentativa de dar conta da complexidade e transversalidade de diferentes áreas da atividade, procurando uma visão sistêmica que contemplasse setores historicamente omitidos: formação, preservação, produção, distribuição/circulação e exibição/difusão.

    O GT dedicado à exibição/difusão apresentou um desafio em particular, na medida em que as transformações mais recentes e profundas provocadas pela digitalização se deram na forma como as obras são exibidas, difundidas, apreciadas e consumidas. A questão principal que se impôs foi: como pesar um segmento que atravessa mudanças paradigmáticas?
    Por diversos motivos, o setor da exibição/difusão foi o último a enfrentar o longo processo de digitalização da cadeia produtiva do audiovisual. O modelo digital permite novas possibilidades de relações com obras ligadas à convergência das mídias, à interatividade e à apropriação, à multiplicidade de telas e de formas de apreciação e consumo. As Tecnologias de Informação e Comunicação provocaram alterações profundas que incluem a entrada de novos grandes “players” já não mais ligados às estruturas tradicionais da indústria do cinema e da televisão, mas que integram uma economia que tem como centro a captura e exploração de dados comportamentais (a “economia de dados”) e se baseia na disputa pela atenção do público (a “economia da atenção”).
    Viabilizada, do ponto de vista tecnológico, pela banda larga e a possibilidade de tráfego de arquivos pesados pela internet, a consolidação e expansão do streaming transformaram o ambiente midiático e, como sempre, geraram dúvidas sobre o futuro das mídias predecessoras. Vivemos um momento em que convivem salas de cinema comerciais, culturais e universitárias, canais de televisão comerciais de sinal aberto, canais de televisão comerciais de acesso condicionado, televisões públicas, plataformas se streaming de diferentes tamanhos e propostas, plataformas de compartilhamento de vídeos, redes sociais, festivais de cinema e cineclubes (físicos e online), circuitos escolares – sem que esteja definido, sobretudo do ponto de vista comercial, quais desses meios se estabelecerão e com que força, e quais perderão espaço. Atravessamos, enfim, um cenário transitório, em que diferentes mídias protagonizam disputas e buscam novas hegemonias com mídias antecessoras.

    Nesse sentido, cabe recuperar a forma de abordar a história proposta por Rick Altman em “Uma outra forma de pensar a história” (1992), no qual o autor afirma que a história tradicional se preocupa com “fenômenos coerentes” e “opera exclusivamente na continuidade” e propõe um outro modelo em que, no lugar de considerar “momentos de crise como casos especiais à espera do estabelecimento do repouso, é preciso partir da crise, ver nela o modelo através do qual todo o sistema deve ser compreendido” (ALTMAN, 1992, p. 8).

    Da mesma forma, é preciso entender exatamente o que representam as transformações trazidas pelo digital. Gaudreault e Marion (2016, p. 62) questionam se a passagem para o digital significa uma revolução, uma ruptura, uma mutação, uma virada, ou uma mudança radical. Os autores sugerem que as transformações trazidas pela digitalização não são unívocas e podem ser de intensidades diferentes. Para medir essas intensidades seria preciso “confrontar um certo conjunto de impactos com outros conjunto de impactos” (GAUREAULT, MARION, 2016, p. 63). A partir dessas premissas, faz-se necessário mapear o ambiente midiático e as formas de circulação e apreciação das obras em sua multiplicidade e, sobretudo, garantir a transparência de dados e elaborar novas metodologias de cruzamento e análise de informações.

Bibliografia

    ANCINE. Anuário Estatístico Ancine, 2022.
    ALTMAN, Rick. “Outra forma de pensar la historia (del cine): un modelo de crisis”.
    Archivos de La Filmoteca, Valencia, fev. 1992.

    D’ANGELO, R. H.; BORGNETH, M.; MANEVY, A. Fórum de Tiradentes: Encontro pelo Audiovisual Brasileiro. Belo Horizonte: Universo Produção, 2023.

    GAUDREAULT, A., MARION, P. O fim do cinema? Uma mídia em crise na era digital. São Paulo: Papirus, 2016.
    ZUBOFF, S. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.