Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Lia Bahia (UFF)

Minicurrículo

    Lia Bahia é professora e pesquisadora do curso de cinema e vídeo da UFF. Estuda economia política do cinema e do audiovisual, com foco nas políticas públicas. Trabalhou na gestão pública com políticas de fomento, formação e difusão, escreveu o livro “Discursos, políticas e ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro”. Em 2023 foi coordenadora do GT de Distribuição/Circulação do Fórum de Tiradentes.

Ficha do Trabalho

Título

    O quebra-cabeça dos dados e indicadores do cinema e audiovisual

Seminário

    Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.

Formato

    Presencial

Resumo

    O Fórum de Tiradentes trouxe contribuições fundamentais para reinvenções das políticas públicas para o cinema e audiovisual brasileiro. Uma das mais relevantes (e pouco debatida) é a construção de uma nova política de informação, dados e indicadores para o setor no Brasil. Esta comunicação irá avançar na reflexão sobre dados, informações e indicadores considerando o cinema e audiovisual como um ecossistema com múltiplas e variadas arquiteturas produtivas e janelas de exibição.

Resumo expandido

    Em 2023, com a terceira posse de Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente da República, novas imagens, sons, políticas e poéticas para o cinema e o audiovisual são possíveis. O Fórum de Tiradentes surgiu como uma iniciativa de pensar a cadeia do setor de forma transversal e sistêmica. Desta forma reuniu e ampliou conceitos, práticas e trabalhadores em um encontro presencial no Festival de Tiradentes para pensar uma nova cultura política para o campo audiovisual brasileiro.
    O cinema e audiovisual operam em um cenário transitório, com diferentes forças de atuação nos contextos global e local. O que parece certo é que as imagens e sons atingiram um novo paradigma na geopolítica do saber, do poder e do conhecimento.
    Neste contexto, repensar as políticas públicas é fundamental. Se historicamente as políticas públicas tiveram como eixo estruturante o produto audiovisual, precisamos hoje atentar para os processos e suas diversidades e pluralidades de caminhos produtivos e de circulação. E mais ainda, estar em sinergia com as conquistas de movimentos sociais, expansão das universidades públicas, políticas de cotas, territoriais, de gênero, de raça, de classe, entre outras. Nesta direção, novas peças precisam ser inseridas neste ecossistema complexo. Um dos apontamentos mais originais do Fórum de Tiradentes foi levantar necessidade de uma nova política oficial de dados, informações e indicadores para o cinema e para o audiovisual.
    As informações e dados se tornaram o grande ativo do mundo audiovisual. Os grandes estúdios sempre souberam disso, e utilizaram a ideia de Estado Promocional para terem acesso a dados e informações locais e, assim, se consolidarem no Brasil. Hoje se fala em “extrativismo de dados” para pensar o segmento do streaming, A economia de dados é uma realidade do capitalismo contemporâneo.
    Neste sentido, a transparência e o acesso às informações, e a revisão e modernização dos parâmetros de mensuração do impacto de uma obra audiovisual tornam-se urgentes para refletir as novas configurações do setor audiovisual e as políticas públicas. Para o conhecimento da complexidade do audiovisual no contemporâneo, necessitamos, mais do que nunca, da produção e compartilhamento de informações, para que, a partir destes dados, seja possível pensar e produzir dispositivos que permitam construir indicadores e avaliar políticas, processos, projetos e ações.
    Assim, parece importante trabalhar na direção de uma reconceituação oficial de dados e informações do setor que vá além da janela do cinema e lançamentos comerciais. Os festivais de cinema são parte da cadeia valorativa do audiovisual, assim como cineclubes, exibições em escolas, universidades, sindicatos, entre outros espaços têm papel importante na circulação, difusão, formação de público e precisam ser mensurados oficialmente.
    Da mesma forma, é estruturante e urgente que a regulação do streaming inclua a transparência de dados e as metodologias das plataformas de VOD/streaming. As cotas para obras nacionais independentes, a proeminência e a taxação das empresas de VOD no Brasil são fundamentais, mas pouco poderemos avançar sem que tenhamos transparência de dados das plataformas.
    Em um universo de pluralidade de formatos audiovisuais (curta, média e longas-metragens, séries, telefilmes, vídeos, etc.) bem como a diversidade de perfis de profissionais, obras, empresas e territórios uma nova agenda para política de informações, dados e indicadores precisa ser formulada.
    Essa revisão é fundamental na construção um ecossistema audiovisual mais igualitário, justo e democrático e pode (e deve) ser construída em parceria com universidades, pesquisadores, de forma transdisciplinar, plural, critica e independente, criando um circuito virtuoso de geração de tecnologia e conhecimento. Essas sinergias vão ao encontro de uma nova cultura política para o cinema e audiovisual transversal, transdisciplinar e integrada à sociedade.

Bibliografia

    BAHIA, Lia, BUTCHER, Pedro e TINEN, Pedro. O setor audiovisual e os serviços de streaming: da necessidade de repensar a regulação e as políticas públicas in Revista Epetic. VOL. 24, Nº 3, SET.-DEZ. 2022.
    BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, no11. Brasília, maio – agosto de 2013, pp. 89-117.
    BUTCHER, Pedro. Hollywood e o mercado de cinema brasileiro: princípios de uma hegemonia. 2019. Tese de Doutorado em cinema. UFF, Niterói, 2019.
    CALABRE, Lia. Políticas públicas e indicadores culturais: algumas questões. In V ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura UFBa, Bahia, 2009.
    GOMES, Paulo Emilio. Uma situação colonial? São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
    D’ANGELO, Raquel, BORGNETH, Mário e MANEVY, Alfredo (Orgs.). Fórum de Tiradentes encontros pelo audiovisual brasileiro. Universo Produção, Belo Horizonte, 2023.
    ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira