Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Catarine Mendes da Silva (Unicamp)

Minicurrículo

    Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Bacharela em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Membro do Grupo de Estudos sobre Gêneros Cinematográficos e Audiovisuais (GENECINE/UNICAMP).

Ficha do Trabalho

Título

    Medusa (2021) e o feminino-monstruoso no cinema de horror brasileiro

Formato

    Presencial

Resumo

    Como a mulher é representada no cinema brasileiro contemporâneo de horror? Partindo deste questionamento, elege-se como objeto de estudo o filme Medusa (2021), de Anita Rocha da Silveira. A pesquisa proposta objetiva compreender a representação da mulher no cinema brasileiro contemporâneo de horror, diante de um contexto patriarcal e discriminatório, utilizando em seu corpo teórico os estudos de identidade de gênero e feminismo, da mulher no cinema e de cinema de horror.

Resumo expandido

    Ao focarmos no audiovisual brasileiro, identifica-se um aumento nos estudos sobre a participação feminina nesse nicho, apesar de ainda ser uma quantidade mínima de publicações, se comparado aos papéis desempenhados pelas mulheres na cinematografia nacional até o momento (HOLANDA; TEDESCO, 2016). Ao realizar um recorte ainda mais estreito, identificando a forma como a imagem da mulher é construída no cinema de horror, observa-se uma intensificação de personagens femininas nas produções desse gênero (CÁNEPA; CARREIRO, 2020). Dessa forma, torna-se possível observar características bastante específicas, no qual essas personagens são estereotipadas, segundo Gabriela Müller Larocca (2016), como perigosas, loucas ou violentas; seus corpos são submetidos a violência extrema; ou elas são representadas como as “últimas sobreviventes”, ou seja “[…] heroínas que resistem a todas as adversidades e assassinatos, […] fortemente associado a uma visão tradicional e conservadora de juventude e feminilidade” (LAROCCA, 2016, p. 123).
    É importante evidenciar também como, muitas vezes, a mulher pode ser representada como uma figura monstruosa nessas produções. Para Cohen (2000), o monstro sempre significa algo diferente dele, representando um deslocamento da sua própria narrativa, dessa forma, “[…] os monstros devem ser analisados no interior da intrincada matriz de relações (sociais, culturais e lítero-históricas) que os geram” (COHEN, 2000, p. 28). Podemos complementar esse pensamento a partir dos estudos de Nöel Carroll (1999), que diz que uma criatura horrenda nem sempre tem suas características explícitas para serem percebidas a olho nu, sendo que, frequentemente, “[…] o ser horrendo é rodeado de objetos que tomamos previamente como objetos de repulsa e/ou de fobia” (CARROLL, 1999, p. 73). Pode-se utilizar como exemplo, nesse caso, contextos sociais e valores impostos em determinada sociedade.
    Para Barbara Creed (1993), os filmes de terror são povoados por mulheres monstros, que evoluíram de imagens que assombravam os sonhos, mitos e práticas artísticas de nossos antepassados ​​há muitos séculos. É importante evidenciar, ainda, que Creed (1993) dialoga sobre o monstruoso feminino lado-a-lado com o conceito de abjeção, da autora Julia Kristeva (1982). Segundo a autora, há uma abundância de elementos de abjeção em obras de horror, que causam esse sentimento de repulsa – seja nos personagens, seja no espectador. Pode-se citar, por exemplo, a presença de cadáveres (geralmente mutilados), seguido por uma série de dejetos corporais como sangue, vômito, saliva, suor, lágrimas e carne em putrefação (KRISTEVA, 1982).
    Com base nas análises iniciais da obra, identifica-se que a personagem Mariana, protagonista do filme, é submetida desde o início a uma sociedade no qual a mulher é vista como monstruosa e pecadora. Dessa forma, ela e suas amigas da igreja devem a todo o momento demonstrarem serem submissas e perfeitas. No começo do filme, a principal característica explicitada da personagem é o seu cabelo, que é alisado para se aproximar da aparência de outras meninas do culto da igreja. Além disso, quando Mariana sofre um acidente, recebendo um machucado no rosto, diversas ocorrências começam a acontecer: a personagem perde o emprego em uma clínica de estética, devido a não ter mais a aparência esperada pelo seu chefe; escuta reclamações de outras meninas da igreja, que dizem que ela não está mais se cuidando como antes; e também começa a identificar que as atividades noturnas do grupo (no qual elas perseguem outras mulheres), talvez não seja tão positivas quanto imaginava.

Bibliografia

    CÁNEPA, L.; CARREIRO, R. A Nova Inglaterra como paisagem para o horror feminino em A Bruxa. Aniki, v. 7, n. 1, p. 115-134, 2020.

    CARROLL, N. A filosofia do horror ou Paradoxos do coração. Campinas, SP: Papirus, 1999.

    COHEN, J. J.. A cultura dos monstros: sete teses. In: JAMES, Donald et al. (org.). A pedagogia dos monstros: os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

    CREED, B. The Monstrous-Feminine: Film, Feminism, Psychoanalysis. Nova York: Routledge, 1993.

    HOLANDA, K.; TEDESCO, M. C.. Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro. São Paulo: Papirus, 2017.

    KRISTEVA, J. Powers of Horror. An essay on abjection. Nova Iorque: Editora Columbia University Press, 1982.

    LAROCCA, G. M. O Corpo Feminino no Cinema de Horror: Gênero e sexualidade nos filmes Carrie, Halloween e Sexta-Feira 13 (1970-1980). Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2016.