Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Lara Damiane de Oliveira Estevão (UFG)

Minicurrículo

    Bacharela em Cinema e Audiovisual pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), atualmente mestranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás (UFG), pesquisando a história do cinema goiano na década de 1960.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema amador em Goiás: enquanto tudo começou.

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Na escrita da história do cinema goiano, o longa-metragem ficcional tem sido a fonte principal para determinar a existência do cinema em Goiás. Sendo assim, o cinema no estado nasce na década de 1960, com O Ermitão de Muquém, filme não concluído de Cici Pinheiro. Este trabalho, através de uma revisão da historiografia do cinema goiano e da análise de fontes hemerográficas, investiga como esquemas de produção de cinema amador também se atestaram em Goiás nos anos 60.

Resumo expandido

    Se existe uma certidão de nascimento para o cinema mundial, talvez seja mais correto afirmar que o cinema goiano permanece sem cidadania. A partir da década de 1990, e com mais intensidade a partir de 2010, surgem pesquisas sobre o cinema em Goiás. Na tentativa de encontrar precursores e pioneiros para a atividade cinematográfica, o modelo historiográfico adotado, até o momento, liga-se à historiografia clássica (BERNARDET, 2003). Os aspectos de produção do longa-metragem ficcional tem sido o objeto da história do cinema no estado, em detrimento das relações culturais entorno do cinema. Para o trabalho historiográfico, contudo, é fundamental a incorporação da história do cinema na perspectiva da história cultural (LAGNY, 1992), o que significa ampliar o escopo de investigação da história do cinema para além do filme.
    Enquanto Beto Leão e Eduardo Benfica (1995) atribuem o nascimento do cinema goiano às filmagens realizadas no ano de 1912 pelo Major Luiz Thomaz Reis na fronteira entre Goiás e Mato Grosso, Túlio Silva (2018), fazendo da história do cinema goiano a história do longa de ficção, sugere que a atividade cinematográfica em Goiás começou na década de 1960, com a tentativa de filmagem de O Ermitão de Muqém. Esse ato inaugural, segundo o autor, dá início a um ciclo de produção definido pelos filmes O diabo mora no sangue (1968), dirigido por Cecil Thiré, Tempo de violência (1969), dirigido por Hugo Kusnet, Simeão, o boêmio (1970), O azarento, um homem de sorte (1973), ambos dirigidos por João Bennio e A fraude (1968), dirigido por Jocelan Melquíades de Jesus.
    Na composição desse primeiro ciclo, construído como um surto local de produção, Cecil Thiré, Hugo Kusnet e Bennio ligam-se a uma proposta de cinema narrativo clássico e industrial. Já Jocelan, filma em Goiânia um curta-metragem amador, para o IV Festival JB-Mesbla, fotografado por Carlos Reichenbach, seu colega na Escola Superior de Cinema de São Luís. Até o momento existem problemas metodológicos na escrita da história do cinema goiano: há um recorte não enunciado, definido pelo fácil acesso às fontes, que se limitam aos filmes que sobreviveram ao tempo. Nesse ciclo, A fraude é um filme destoante, tido como uma experiência isolada em meio a produção de longas-metragens de ficção com objetivos comerciais. Essa configuração da história do cinema goiano, porém, é imprecisa, uma vez que o filme Antolhos, filmado em Goiânia no mesmo ano, dirigido por Silas Metran Curado, também concorreu no Festival de Cinema Amador.
    Ainda em 1968, uma solicitação foi submetida ao Serviço de Censura e Diversões Públicas Seção Goiás por Hugo Zorzetti, ator da Companhia Teatral de Goiânia, em conjunto com o Grupo Goiano de Cinema Amador para a liberação da apresentação Show Arte 68 n° 3. Já no ano seguinte, em 1969, uma notícia no Jornal do Brasil anunciou que um cineclube de Goiás iria ao Festival de Cinema Amador com 5 filmes. Dentre os realizadores estavam Wander Levy, diretor de produção de A fraude e Carlos Luciano, ator que interpretou o protagonista. Segundo o jornal, os cineastas amadores já possuíam experiência em filmagens de curtas e ligavam-se ao Cinema Novo.
    Na década de 1960, o cinema no estado não apenas existia para além do “primeiro ciclo”, como também era parte da movimentação artística e cultural de Goiás. As fontes levantadas por este trabalho são vestígios da existência de uma atividade cinematográfica amadora na década de 1960, ainda não mapeada, da qual os filmes podem não mais existir. Contudo, existem outras fontes a serem incorporadas no trabalho historiográfico. Concomitante ao nascimento do cinema goiano, com o longa-metragem de ficção, se atestava no estado uma atividade cinematográfica entorno do curta-metragem amador, com relações estéticas e características de produção que vão além das fronteiras do estado.

Bibliografia

    SILVA, T.H.Q. Cinema em Goiás: quando tudo começou… (1960-1970). 2018. 128 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2018.
    BERNARDET, Jean-Claude. Historiografia clássica do cinema brasileiro: metodologia e pedagogia. 2ª Edição. São Paulo: Annablume, 2003.
    LAGNY, Michelle. De l´histoire du cinema: méthodes historique et históire du cinema, 1992.
    LEÃO, Beto; BENFICA, Eduardo. Goiás no século do cinema. Goiânia: Kelpes, 1995.
    LEÃO, Beto; BENFICA, Eduardo. Centenário do cinema em Goiás. Goiânia: Kelpes, 2010.
    VALE, G.H.S. Entre a heresia e a reprodução – em busca do cinema goiano. 2013, 140 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Faculdade de Ciências Sociais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
    CUNHA, M.C.O. “Vou te contar uma história” – Estudo a partir do filme Simeão, o Boêmio, de João Bennio. 2011, 149 f. Dissertação (Mestrado em Cultura Visual) – Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.