Ficha do Proponente
Proponente
- Fabián Rodrigo Magioli Núñez (UFF)
Minicurrículo
- Professor Associado do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde também é credenciado ao Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCine). É líder do grupo de pesquisa CNPq Plataforma de Reflexão sobre o Audiovisual Latino-Americano (PRALA) e pesquisador vinculado ao Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (LUPA).
Ficha do Trabalho
Título
- Abordagens sobre a favela no Nuevo Cine Latinoamericano
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Ao compartilharmos do entendimento da cidade “periférica” como arena cultural, a partir do célebre conceito de Morse, entendemos o cinema como um dos agentes importantes dentro do jogo de forças que forma tal arena. Com esse propósito, analisaremos dois curtas: “Buenos Aires” (Argentina, 1958), de David José Kohon e “Herminda de La Victoria” (Chile, 1969), de Douglas Hübner.
Resumo expandido
- Os anos 1960 e 1970 se caracterizaram pelo amplo debate na área das ciências sociais e humanas sobre a pobreza dos países da América Latina, entendida como um efeito provocado pela “superurbanização”, ocasionada por fluxos migratórios, taxas de expansão demográfica e crescimento desordenado de suas cidades. Como assinala Valladares, esse processo ocorrido, sobretudo nos anos 1940 e 1950 na América Latina, possui uma singularidade própria, diferenciando-se assim dos processos de urbanização na Europa, o que chamou a atenção de geógrafos e cientistas sociais na ocasião. O propósito de compreender os fenômenos sociais latino-americanos, para além de modelos forâneos, é uma postura que se coaduna com as ideias dos cineastas do Nuevo Cine Latinoamericano, que também propunham um cinema no qual a(s) identidade(s) latino-americana(s) fosse(m) o motor estético de seus filmes.
Uma das faces mais visíveis do fenômeno da “superurbanização” ocorrido na América Latina é a formação nas cidades de aglomerações de habitações precárias construídas de modo irregular. Ao longo do subcontinente latino-americano, esse tipo de espaço urbano recebeu diversas nomeações: favela, mocambo, villa miseria, callampa, cantegril, barriada, chabola, etc. Estigmatizadas como locais de pobreza e criminalidade, tais aglomerações não apenas possuem historicidades próprias, do ponto de vista urbano e social, como também em termos simbólicos. Encaradas inicialmente por governantes e pela opinião pública como um quisto rural no meio urbano e como um foco de doenças e antro de preguiçosos e criminosos, conforme um discurso higienista e racista típico do início do século passado, essas aglomerações foram sendo ressignificadas, entre outros aspectos, devido à ação do Estado em incorporar as massas urbanas às práticas políticas, além da atitude de artistas e intelectuais de aproximação às manifestações culturais populares. Durante décadas, as classes dirigentes dos países latino-americanos encararam a remoção como única solução a essas aglomerações urbanas, transferindo os seus habitantes a conjuntos habitacionais construídos, em geral, conforme os moldes arquitetônicos modernistas, em locais afastados. No entanto, graças a fatores como um maior conhecimento sobre quem são e como vivem esses habitantes, com a consolidação das ciências sociais e humanas na América Latina, e de um entendimento mais democrático e menos paternalista, surgiram outras propostas e ações. Assim, ao deixar de serem encarados apenas como um problema habitacional, esses aglomerados passaram a ser entendidos como algo incorporado ao tecido social e econômico da cidade, uma vez que os seus habitantes participam da vida urbana, como trabalhadores e cidadãos. Desse modo, as políticas públicas devem se voltar para a adequada urbanização desses espaços, ao garantir saneamento, infraestrutura e serviços, além de outras medidas voltadas ao combate à pobreza. Como afirma Valladares, é a passagem da favela-problema para favela-solução. No entanto, como a autora frisa, a expressa maioria dos governos latino-americanos nos anos 1960 ainda praticavam a remoção, o que se manteve ou se acentuou na década seguinte, com o autoritarismo das ditaduras civis-militares.
Assim, nosso propósito é analisar dois curtas, “Buenos Aires” (Argentina, 1958), de David José Kohon e “Herminda de La Victoria” (Chile, 1969), de Douglas Hübner, partindo do entendimento de que o fazer artístico é parte constituinte da arena cultural que compõe uma cidade.
Bibliografia
- CERDÁ, Marcelo. Los directores de la Generación del 60 y las relaciones permeables frente al contexto político y social. In. LUSNICH, Ana Laura; PIEDRAS, Pablo (Org.), Una historia del cine político y social en Argentina: formas, estilos y registros (1896-1969), Buenos Aires, Nueva Librería, 2009, p. 311-346
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