Ficha do Proponente
Proponente
- Marta Cardoso Guedes (SME)
Minicurrículo
- Doutora Educação UFRJ. Mestre Educação UFRJ. Especialista Psicomotricidade UNIIBMR. Professora Educação Física UGF. Atriz (DRT 20.318). Professora Educação Física Rede Municipal do Rio de Janeiro (SME). Professora responsável pelo Projeto Cinema para Aprender e Desaprender (CINEAD/LECAV/UFRJ) na Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão no Rio de Janeiro.
Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/7776876291421009
Ficha do Trabalho
Título
- MEMÓRIA DA FAVELA COM O CINEMA NA ESCOLA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES
Formato
- Presencial
Resumo
- Com o cinema na escola e a investigação da história da favela do Vidigal (CINEAD), iniciada em 2015, descobrimos e restauramos em parceria com a Cinemateca do MAM-Rio, imagens Super-8, fotografias e fitas cassete sobre a luta dos moradores da favela contra sua remoção para Antares/Santa Cruz em 1977/78. A partir de então a elaboração de uma memória de luta da favela na escola desenvolve-se como abertura à alteridade. É possível tornar-se essa experiência outra?
Resumo expandido
- Ao pensar que não há luta pelo futuro sem memória do passado (BENJAMIN, 2009), que o conhecimento de luta e resistência de um grupo de pessoas da favela – uma história não oficial – pode ser elaborado na escola, que a emoção faz parte do processo educativo e que habitar os espaços educativos com arte implica na consciência da responsabilidade em transformarmos nós mesmos e o mundo com os outros (FRESQUET, 2013), é que decidimos pesquisar com o cinema na escola a história da favela do Vidigal.
A favela do Vidigal sofreu diversas ameaças de remoção. Em 1977/78, ocorreu a maior delas. Parte da favela seria removida para o Conjunto habitacional de Antares/Santa Cruz. Na época um grupo de dirigentes da Associação dos Moradores da Vila do Vidigal com o apoio da Pastoral das Favelas, de artistas da comunidade e simpatizantes da causa impediu a remoção. Em 2015, a partir da aposta da Escola de Cinema do Djalma com a investigação da história da favela, foi possível realizar o documentário Paraíso Tropical Vidigal, todo gravado por estudantes de 09/13 anos de idade. A partir de então, muitos e valiosos encontros se deram, e com eles, a descoberta e a restauração em parceria com a Cinemateca do MAM-Rio, de filmes super-8, negativos de fotografias e fitas cassete com entrevistas da época. Em 2019, com todo esse material recuperado, realizamos as gravações de Morro do Vidigal. Os arquivos funcionaram como dispositivo de acionamento de lembranças, pretexto para as falas dos ex-presidentes da Associação dos Moradores da Vila do Vidigal (LEANDRO, 2018).
Em março de 2020, com a interrupção das aulas presenciais causada pela pandemia do Covid-19, os estudantes que participaram tanto da restauração do material fílmico de outrora quanto das gravações do filme já não se encontravam mais na escola Djalma Maranhão em 2022. Destarte, foi preciso iniciar uma retomada da Escola de Cinema do Djalma com outros estudantes e novas parcerias. Assim, firmamos uma parceria com IMADIS – Laboratório de Pesquisa Imagens em disputa no Cinema e Audiovisual (CNPQ/ PUC-Rio) coordenado pelas professoras Andrea França e Patrícia Machado. O objetivo foi o de reunir os estudantes da turma 1501 da nossa escola com os estudantes de graduação em Cinema da PUC-Rio para a exibição e debate, tanto da nossa produção com a elaboração de uma memória de luta da favela do Vidigal, quanto para a exibição dos filmes realizados no curso universitário, visando a retomada de nossa Escola de Cinema do Djalma.
Foi surpreendente ver a reação dos estudantes, a maioria com 11/12 anos de idade, que na época da realização dos nossos filmes tinham entre 3/4 anos, e portanto ainda não frequentavam a nossa escola, identificarem-se com as imagens. Era como se o filme tivesse sido realizado por eles.
A última sessão cineclubista com os estudantes da PUC-Rio foi realizada na Cinemateca do MAM-Rio, local de valor inestimável para nossa Escola de Cinema do Djalma, uma vez que lá recuperamos, restauramos e exibimos o material de arquivo sobre a luta da favela do Vidigal em 1977/78. Nesta sessão foi exibido o premiado filme Chico (2015), dos Irmãos Carvalho, egressos do curso de Cinema da PUC-Rio. A exibição, seguida de debate, contou com a presença dos diretores, realizadores nascidos e criados no Morro do Salgueiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O debate foi fecundo, o tema comum aos estudantes e realizadores proporcionou uma rica discussão sobre violência policial nas favelas, racismo e desigualdade social. Além disso, também foram levantadas questões sobre a estética do filme e opções de montagem dos diretores.
Quando a luta dos subalternos é vencedora, existe uma política de apagamento dessa história. A elaboração de uma memória de luta da favela na escola desenvolve-se como abertura à alteridade com a participação dos estudantes e dos moradores da favela em uma continua circulação da palavra e visibilidade de suas histórias. É possível tornar-se essa experiência outra?
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: editora da Universidade Federal de Minas Gerais. 2009.
FRESQUET, Adriana. Cinema e Educação- Reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola – Alteridade e Criação 2. Autêntica Editora LTDA, Belo Horizonte – MG, 2013.
LEANDRO, Anita. Testemunho filmado e montagem direta dos documentos. In. DELLAMORE, Carolina; AMATO, Gabriel; e BATISTA, Natália, orgs. A ditadura na tela. Questões conceituais. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – UFMG, 2018, pp. 219-232.