Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Ruy Cézar Campos Figueiredo (UFF)

Minicurrículo

    Artista-pesquisador. Doutor em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro|UERJ. Mestre em Artes pela Universidade Federal do Ceará|UFC. Bacharel em Audiovisual e Novas Mídias pela Universidade de Fortaleza|UNIFOR. Atualmente é pós-doutorando no Programa de Pós Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes – Universidade Federal Fluminense|UFF, com apoio de bolsa FAPERJ/CNPQ.

Ficha do Trabalho

Título

    Enquadramentos decoloniais sobre a invasão russa e sua infraestrutura

Seminário

    Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas

Formato

    Presencial

Resumo

    Apresenta-se uma seleção de práticas audiovisuais deepfake da artista-pesquisadora Anna Engelhardt que elaboram uma crítica decolonial sobre aspectos infraestruturais e tecnológicos da Invasão Rússia da Criméia (2014) e da Ucrânia (2022). Hardwired Essence of Russial Colonialism (2022), Circuits of Truth (2021) e Adversarial Infrastructure (2020) oferecem, ainda, base para se refletir sobre práticas de pesquisa baseadas em audiovisual.

Resumo expandido

    Maior conflito militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, a Invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 acirrou os ânimos geopolíticos no começo da atual década, deixando possivelmente mais de 300,000 mortos (entre militares e civis dos dois lados da guerra) em um ano de conflito, além de cidades como Mariupol, Rubizhne e Kharkhiv devastadas. O conflito é o agravamento do contexto belicoso que se iniciou em 2014 com a invasão e anexação da península da Criméia e os confrontos envolvendo o separatismo pró-Rússia na região de Donbas desde então.

    Através de práticas audiovisuais deepfake que ganham a forma de vídeos, instalações, websites, hologramas e performances, a artista-pesquisadora (de origem russa) Anna Engelhardt tem enquadrado a dimensão tecnológica e infraestrutural da invasão a partir de uma crítica decolonial. Por essa razão, destaca-se a relevância de sua pesquisa para a continuidade de discussões presentes em edições anteriores do Seminário Temático “Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas”, mais especificamente os debates envolvendo tecnologia, infraestrutura, decolonialidade e pesquisa baseada em audiovisual.

    A partir de uma análise de textos e artigos escritos pela artista, bem como de suas obras audiovisuais, pode-se aprofundar a reflexão sobre os modos estratégicos que as infraestruturas são empregadas em um contexto de exercício de poder colonial tanto em termos representacionais quanto belicosos para a dominação de um território e/ou uma população.

    Retomando o que foi discutido na edição de 2021 do Seminário Temático, as infraestruturas realizam, desse modo, o que Brian Larkin chama de “sublime colonial”: o uso da tecnologia para representar um senso esmagador de grandeza e veneração à serviço do poder colonial e a construção de projetos tecnológicos complexos como parte de um espetáculo do regime colonial.

    Larkin se utilizou do filme “A ponte sobre o Rio Kwai” para elaborar tal conceito e é justamente sobre a colonialidade da Ponte do Estreito de Kerch que trata o trabalho Adversarial Infrastructure (2020), de Anna Engelhardt. A obra é um ensaio com imagens deepfake da ponte e atual ocupação russa da Criméia. A artista analisa o histórico de conflitos envolvendo os russos e esse território desde o século XIX, destacando a resistência dos povos originários Tatars.

    Através da obra, ela desenvolve o conceito de “infraestruturas adversárias”, que envolveria o uso de infraestruturas para impedir ou dificultar o fluxo de bens e pessoas adversárias. A partir da análise de casos de pescadores ucranianos que foram impedidos de passar por baixo da ponte em direção ao porto de Mariupol, antes da invasão de 2022, Engelhardt teoriza sobre infraestrutura demonstrando seu emprego em um sentido contrário ao que normalmente o define: o conceito de infraestrutura foi ideologicamente desenvolvido como parte do projeto do Esclarecimento de organizar o mundo racionalmente de acordo com a livre circulação de bens e ideias. Conforme Larkin, esse é um dos dois modos que as infraestruturas funcionam na arena colonial. Elas criam um tecido conectado territórios separados, criando um estado que facilita o estabelecimento de uma administração política centralizada. Por um lado, a Ponte do Estreito de Kerch (construída pela Rússia após a invasão da Criméia em 2014), realiza esse projeto embutido no próprio conceito de infraestrutura ao construir a ponte como representação da anexação da península ao seu território. Por outro, utiliza a ponte como instrumento de restrição e agressão aos seus adversários, indicando a escalada do conflito, como ocorreu em 2022 (tendo a ponte sido alvo de um atentado a bomba no mesmo ano, tal qual como ocorre com A Ponte Sobre o Rio Kwai).

    Já em Hardwired Essence of Russial Colonialism (2022) e Circuits of Truth (2021), Engelhardt expande o conceito de infraestrutura para pensar sobre o digital e a dimensão cibernética da guerra, colaboração singular para pensar a decolonialidade

Bibliografia

    LARKIN, Brian. “Infrastructure, the Colonial Sublime, and Indirect Rule.” Signal and Noise. 16-47. Duke University Press, 2008.
    ENGELHARDT, ANNA. Shestakova S. Crimean Tatar Infrastructures of Decolonial Care. European Review. 30(4):532–44. Cambridge University Press; 2022.
    ENGELHARDT, ANNA. Adversarial Infrastructure. 00:09:47. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=r1cD5TiTZkY
    ______________. Circuits of Truth. 00:34:51. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MEO89TrL1I8
    ______________, Anna. Hardwired Essence of Russial Colonialism 00:24:27. Disponível em: 2022