Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Filipe Brito Gama (UFF / UESB)

Minicurrículo

    Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCINE) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Professor Assistente do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e Realizador Audiovisual especializado na produção de documentários.

Ficha do Trabalho

Título

    A Companhia Kudara e a exibição itinerante: Viagem à Lua pelo Brasil

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Nas pesquisas sobre a exibição cinematográfica no Brasil, fica evidente a importância da atuação dos exibidores itinerantes nos primeiros anos do século 20, circulando por diversos territórios brasileiros. Algumas companhias de variedades também atuavam de forma itinerante, exibindo filmes entre as funções de seus espetáculos. A presente comunicação analisa a atuação “Kudara – Imperial Companhia Japonesa de Variedades” no país, destacando a exibição pioneira do filme “Viagem a Lua”, de Meliès.

Resumo expandido

    A presente comunicação trata da exibição cinematográfica no início do século 20, tomando como objeto de análise a passagem da “Kudara – Imperial Companhia Japonesa de Variedades” pelo território brasileiro em 1902 e 1903. Entre os espetáculos de variedades apresentados pela companhia, estava a projeção de filmes, com destaque para Viagem à Lua (Le Voyage Dans La Lune, Georges Meliès, 1902). Para isto, levantou-se informações em diferentes pesquisas sobre exibição cinematográfica no período, complementadas pela busca em jornais e outros documentos.
    Os exibidores itinerantes exercem papel importante na projeção de fitas no Brasil entre o fim do século 19 e início do 20, circulando por diversos territórios. Rafael de Luna Freire (2022, p 20) informa que “a projeção de fitas foi logo incorporada aos espetáculos de companhias de variedades e excentricidades, sendo entremeada a números de canto, dança, mágicas lutas, acrobacias ou animais amestrados”. Nos primeiros anos da década de 1900, essas companhias, assim como os exibidores itinerantes, já possuíam aparelhos “aperfeiçoados” em comparação aos utilizados no fim da década anterior, e um estoque de fitas mais variadas, fazendo com que essas projeções passassem a ser destaque entre as funções (FREIRE, 2022).
    A Kudara é um ótimo exemplo dessas companhias, sendo empresariada no Brasil por Max Rosenthal e dirigida por Yosaku Kudara, descrita por Alice Trusz (2010, p. 170) como “uma companhia de ginástica e de variedades originária do Teatro Kabuki, de Tóquio, cuja especialidade eram números de equilíbrio, acrobacias e cães amestrados, além das projeções”. O filme de destaque da companhia era o Viagem à Lua, lançado em 1902 pela Star Film, obra que fez enorme sucesso na Europa (SADOUL, 1963) e nos EUA, inclusive com a comercialização de cópias piratas pelo território estadunidense (ABEL, 1999). Filmado nos estúdios de Meliès, a produção, de elevado custo para o período, é uma narrativa fantástica que apresenta, em 30 quadros, uma viagem exploratória à lua por parte de um conjunto de cientistas. O aparelho utilizado para projeção do filme pela Kudara foi o Captotricon (o nome variou bastante na imprensa) e gerador de energia elétrico Aster, que nos anos seguintes foi importante na exibição cinematográfica itinerante.
    A companhia Kudara inicia sua trajetória no Norte do país, em novembro de 1902, em Belém, no Teatro da Paz. Segue no mês seguinte para o Teatro Amazonas, de Manaus, e, no início de 1903, para São Luís, deslocando-se de navio. De acordo com jornais de São Luís, não se apresentam em Fortaleza por falta de condições naquela capital, seguindo para Maceió enquanto esperam a liberação para ocupar o Teatro Santa Isabel, em Recife. Em fevereiro, atuam na capital pernambucana e, em março, em Salvador, no Teatro Politeama.
    No Sudeste, passam por Vitória, no Teatro Melpômene, depois partem para o Rio de Janeiro, no São Pedro de Alcântara, com apresentações em abril. Na Capital Federal o fato curioso é que, dias antes da chegada da Kudara, Viagem à Lua foi exibido pela “Empreza Parque Fluminense”, sugerindo a presença de outra cópia do filme em território nacional. Em maio, continuam viagem de trem para Juiz de Fora (Teatro Juiz de Fora) e depois São Paulo (Teatro Santana), encerrando sua trajetória em Porto Alegre, como trata Trusz (2010). Do Brasil, partem em julho para Argentina e Chile, seguindo turnê.
    Do trajeto, destaca-se a ocupação de importantes teatros dessas cidades, contando com elogios recorrentes da imprensa à programação, em especial para a qualidade da projeção e para Viagem à Lua, como ocorre por exemplo em Recife (SILVA, 2018). Além disso, é relevante destacar os meios de transporte utilizados naquele momento para o deslocamento, em especial as rotas marítimas e ferroviárias, e o perfil das cidades escolhidas, todas já fazendo parte do circuito de outros exibidores, permitindo criar conexões com a trajetória de outros itinerantes como Watry, Filippi e Hervet.

Bibliografia

    ABEL, R. The Red Rooster Scare: Making Cinema American, 1900-1910. Berkeley, L. Angeles, London: University of California Press, 1999.
    LEITE, A. B. Memória do cinema: os ambulantes no Brasil. Fortaleza: Premius, 2011.
    FREIRE, R. de L. O negócio do filme: a distribuição cinematográfica no Brasil 1907-1915. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna, 2022.
    FREIRE, R. de L. (coord). Base de dados “Exibidores ambulantes no início do cinema no Brasil”. LUPA-UFF: Niterói, 2022. https://lupa.uff.br/exibidores-ambulantes-no-inicio-do-cinema-no-brasil/
    SADOUL, G. História do Cinema Mundial: das origens aos nossos dias, vol. I. São Paulo: Livraria Martins, 1963.
    SILVA, F. D. P. da. Novidade, imaginário e sedentarização: o espetáculo cinematográfico no Recife (1896-1909). Dissertação (Mestrado). UFRPE. Recife, 2018.
    TURSZ, A. D. Entre lanternas mágicas e cinematógrafos: as origens do espetáculo cinematográfico em Porto Alegre 1861-1908. São Paulo: Editora Terceiro Nome: Instituto Iniciativa Cultural,