Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    PEDRO ARTUR BAPTISTA LAURIA (UFF)

Minicurrículo

    Doutor em Cinema e Audiovisual pela UFF com pesquisas sobre o Suburbanismo Fantástico. Mestre em Comunicação Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Graduado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Tem formação complementar em Direção Cinematográfica pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Editor chefe no Observatório de Cinema e Audiovisual (OCA-UFF). Diretor do pré-vestibular social PECEP.

Ficha do Trabalho

Título

    Tornar-se Homem: A Garota Final e o Garoto Injustiçado

Seminário

    Estudos do insólito e do horror no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a proximidade sintática entre dois dos mais influentes arquétipos do cinema estadunidense oitentista: a “garota final” dos slashers e o “garoto injustiçado” do suburbanismo fantástico. Ao fazê-lo, o trabalho também destaca as proximidades semânticas, estéticas e conjunturais entre estes dois subgêneros que, apesar de mercadologicamente dissociados durante os anos 1980, apresentam também uma origem em comum: o suburbanismo gótico.

Resumo expandido

    O presente trabalho tem como objetivo demonstrar as proximidades semânticas, narrativas, estéticas, conjunturais e, principalmente, sintáticas entre dois dos mais influentes subgêneros cinematográficos estadunidenses da década de 1980: os slashers e o suburbanismo fantástico. Tal esforço de aproximação se faz importante uma vez que ambos os subgêneros são historicamente e popularmente dissociados. Afinal, enquanto os slashers são filmes repletos de sangue e violência em que jovens são perseguidos e mortos por seriais killers como Halloween (John Carpenter, 1978) e Sexta Feira 13 (Sean Cunnighan, 1980), o suburbanismo fantástico é normalmente marcado por filmes voltados para família, onde jovens se metem em aventuras para lidar com situações fantásticas como E.T. – O Extraterrestre (Steven Spielberg, 1982) e Jogos de Guerra (John Badham, 1983).
    Apesar dessa primeira impressão dissonante, o slasher e o suburbanismo fantástico compartilham um grande número de similaridades: ambos costumam ser protagonizados por jovens brancos de classe média, se passar em subúrbios ou cidades pequenas, ter tramas que se pautam na ineficiência das autoridades, na família desestruturada e na figura desestabilizadora do “Outro”, além, é claro, da utilização de elementos comuns a obras de Horror e Fantasia. Outro aspecto que aproxima ambos os subgêneros é o momento histórico em que se originam: seus principais filmes são lançados em plenos anos Reagan, na conjuntura a que Robin Wood vai definir como entretenimento reaganista (2003). Suas raízes também são compartilhadas: tanto o slasher quanto o suburbanismo fantástico são desdobramentos do suburbanismo gótico, subgênero de origem literária categorizado pela pesquisadora Bernice Murphy (2011).
    Com tantas similaridades, a dissociação histórica dos subgêneros se deve principalmente ao seu modelo de produção e ao público alvo de seus filmes. Enquanto os filmes slasher, desde o primeiro momento, foram produzidos de forma industrial tendo em mente um público adolescente ávido por violência e nudez, o suburbanismo fantástico ficou marcado por sua ligação com os chamados “filmes família”, muito vinculado à Amblin (produtora de Steven Spielberg). Além disso, seus protagonistas são praticamente sempre de gêneros opostos – a garota virginal e o jovem garoto.
    Esta última diferença, porém, é o foco desse trabalho – que busca demonstrar que o slasher e o suburbanismo fantástico também compartilham a mesma sintaxe – sendo seus heróis parte essencial dessa constatação. Apesar de serem personagens de gênero e idades diferentes, a garota final e o garoto injustiçado são ambas figuras restaurativas, ou seja, que precisam retomar o status quo, se tornando “homens” no processo. A garota final, o fazendo a partir de uma transformação de uma figura passiva para uma figura ativa, tal qual é discutido pela crítica feminista Carol Clover (2015), e o garoto injustiçado ao cumprir as expectativas daquela sociedade em que está inserido como apontado por Eric Lars Olson (2011) e Angus McFadzean (2019).
    Quanto ao referencial teórico, este trabalho além de partir da categorização do suburbanismo gótico feita por Bernice Murphy, também traz para discussão as pesquisas de Carol Clover e David Greven sobre o slasher e de Angus McFadzean, sobre o suburbanismo fantástico. Metodologicamente, este trabalho utiliza como principais objetos de análise os três primeiros filmes da franquia Brinquedo Assassino, entendendo-a como a primeira franquia de sucesso que se desenvolve a partir de uma “hibridização” entre os dois subgêneros. A franquia não apenas incorpora elementos do suburbanismo fantástico ao slasher – mas também traz a garota final e o garoto injustiçado como co-protagonistas, o que permite uma análise comparativa do desenvolvimento desses personagens dentro de uma mesma obra.

Bibliografia

    CLOVER, Carol. Men, Women and Chainsaws. Gender in the Modern Horror Film. New Jersey: Princeton University Press. 2015
    GREVEN, David. Representations of Femininity in American Genre Cinema.. New York: Palgrave Macmillian, 2011, p.141-178
    OLSON, Lars. Great Expectations: The Role of Myth in 1980s Films with Child Heroes. Blacksburg: Virginia Polytechic Institute, US. 2011
    McFADZEAN, Angus. The suburban fantastic. Science Fiction Film and Television, Volume 10, Issue 1 Liverpool University, Uk., pp. 1-25 2017
    ___________. Suburban Fantastic Cinema. Wallflower Press. Columbia Univesity, NY. 2019
    MURPHY, Bernice. The Suburban Gothic in American Popular Culture. Palgrave McMillian, Uk. 2009
    WOOD, Robin. Hollywood from Vietnam to Reagan… and beyond. Columbia University Press, 2003.