Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Daniela Pereira Strack (UFRGS)

Minicurrículo

    Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS), com bolsa CAPES, possui graduação em Produção Audiovisual – Cinema e Vídeo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2014). Trabalha como assistente de direção cinematográfica desde 2014, com destaque para os longas-metragens “Tinta Bruta” (2018), “Raia 4” (2020) e “A Nuvem Rosa” (2021).

Ficha do Trabalho

Título

    O primeiro plano frontal nos filmes de Helena Ignez

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação propõe uma aproximação entre o uso de primeiros planos frontais nos filmes dirigidos por Helena Ignez e nas produções da Belair, através da análise comparativa entre cenas de Ralé (2015), A Moça do Calendário (2018), A Família do Barulho (1970) e A Mulher de Todos (1969). Nesses filmes, o plano do rosto das personagens opera à serviço de uma “reviravolta performática” (ELSAESSER e HAGENER, 2018), cujo o efeito é a perturbação na distância segura entre filme e espectador.

Resumo expandido

    Em seu trabalho como diretora, Helena Ignez mantém um diálogo com os filmes que protagonizou na Belair Filmes, empreitada artística criada por ela em parceria com Júlio Bressane e Rogério Sganzerla no início dos anos 1970. Isto se dá através da reapropriação em seus filmes contemporâneos de uma série de temáticas, personagens e procedimentos estético-formais presentes nos filmes produzidos pela Belair dentro do contexto do Cinema Marginal. Esta comunicação propõe a análise de um dos diversos mecanismos de reapropriação utilizados por Ignez: o uso de primeiros planos frontais enquanto elemento desestabilizador da relação entre filme e espectador.

    No caso da Belair, esta perturbação acontece pela via dos procedimentos de agressão característicos do Cinema Marginal (RAMOS, 1987; XAVIER, 2012). É a partir do uso do primeiro plano do rosto das personagens que o horror impresso nas imagens e no gestual das atrizes e atores assume os contornos de uma ameaça real, capaz de saltar da tela em direção ao espectador para efetivamente atingi-lo. Vejamos o próprio caso das personagens interpretadas por Helena Ignez: mesmo que seu programa de atuação seja marcado por movimentos exasperados e pela sustentação de uma postura histérica que mobiliza todo o seu corpo na relação de jogo com a câmera (GUIMARÃES; DE OLIVEIRA, 2021), algumas das cenas mais expressivas de suas personagens nesse período são justamente construídas através de close-ups. Esse é o caso de duas das imagens mais recorrentes associadas ao trabalho de Ignez, nas quais a postura violenta que a atriz assume em cena atingem o ápice em planos do seu rosto em A Família do Barulho (1970) e A Mulher de Todos (1969) – este último filme realizado em parceria com Sganzerla pouco antes da estruturação da Belair.

    Nos filmes dirigidos por Helena Ignez, o uso do primeiro plano frontal assume função similar. Embora não atue como vetor para procedimentos de agressão direcionadas ao espectador, o plano do rosto das personagens ainda sim parte do desejo de ruptura do invólucro ficcional do filme. Em Ralé (2015) e A Moça do Calendário (2017), por exemplo, a inserção do primeiro plano frontal não obedece à lógica narrativa relacionada à demanda por aproximação. Ao contrário, o close-up é utilizado como estratégia formal para interrupção do fluxo narrativo. São momentos em que as personagens rompem com a diegese do filme e voltam o seu olhar diretamente para a câmera, a fim de dirigir suas angústias e/ou desejos íntimos diretamente àqueles que assistem ao filme. Tal qual propõem Thomas Elsaesser e Malte Hagener (2018, p. 88-91), o uso do primeiro plano frontal nesse conjunto de filmes assume o caráter de “reviravolta performática”, cujo o efeito é uma perturbação na distância segura entre filme e espectador.

    O objetivo central dessa comunicação, portanto, é compreender de que modo o uso do primeiro plano frontal pode ser compreendido enquanto estratégia de mobilização do espectador a partir da análise de trechos de Ralé, A Moça do Calendário, A Família do Barulho e A Mulher de Todos. Para tanto, além dos autores supracitados, acionaremos o trabalho de Jacques Aumont (1992) acerca do rosto no cinema e o conceito de imagem-afecção conforme proposto por Gilles Deleuze (1985).

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. Du Visage au Cinéma. Paris: Cahiers du Cinéma, 1992.

    DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento. São Paulo: Brasiliense, p. 1972-1990, 1985.

    ELSAESSER, Thomas; HAGENER, Malte. Teoria do cinema: Uma introdução através dos sentidos. Campinas, SP: Papirus Editora, 2018.

    GUIMARÃES, Pedro; DE OLIVEIRA, Sandro. Helena Ignez: atriz experimental. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2021.

    RAMOS, Fernão Pessoa. Cinema Marginal (1968-1973): a representação em seu limite. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.

    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo e cinema marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2012.