Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Carla Italiano (UFMG)

Minicurrículo

    Doutoranda em Comunicação Social pelo PPGCOM-UFMG. É pesquisadora em cinema e programadora de mostras e festivais. Uma das organizadoras do grupo de pesquisa Poéticas femininas, políticas feministas (CNPq-UFMG). Foi curadora das mostras Mulheres Mágicas – reinvenções da bruxa no cinema (CCBB, 2022) e Retrospectiva Helena Solberg (CCBB, 2018), entre outras, além de integrar a organização do festival forumdoc.bh. É natural de Recife e residente em Belo Horizonte.

Ficha do Trabalho

Título

    (Re)construções de família em três filmes de Su Friedrich

Formato

    Remoto

Resumo

    A filmografia da cineasta estadunidense Su Friedrich transita entre diferentes regimes, carregando as marcas de uma criação ensaística, do cinema documental e de uma postura experimental. Um de seus tropos recorrentes concerne os diferentes retratos de membros de sua família em filme. Assim, esta comunicação propõe analisar os modos de (re)construção de laços familiares em três de seus trabalhos: “The ties that bind” (1984), “Sink or Swim” (1990) e “I cannot tell you how I feel” (2016).

Resumo expandido

    A cineasta estadunidense Su Friedrich é detentora de uma carreira consolidada, composta por vinte e cinco filmes de diferentes durações e formatos realizados ao longo de mais de quatro décadas. Atuando também como fotógrafa, montadora e roteirista de quase todos os seus trabalhos, que adquirem um caráter de criação artesanal, Friedrich desenvolveu um conjunto de obras que assume sua dimensão pessoal, trazendo para o tecido fílmico fatos e afetos que marcaram sua história de vida. Sua filmografia transita entre diferentes regimes cinematográficos, carregando as marcas de uma criação ensaística, do cinema documental e da própria autobiografia, além de uma notável influência tanto de tradições do chamado cinema experimental, quanto de pensamentos feministas em relação às imagens, em particular das autorias e figurações lésbicas no cinema. Tais categorizações, ainda que nos permitam depreender instigantes frentes de entrada às obras, são questionadas pela diretora ao se referir ao seu trabalho por seu caráter restritivo.

    Suas obras convocam certos tropos que são retomados com o passar dos anos, como infância, lesbiandade, desejo sexual, opressão, papéis de gênero, envelhecer. Um desses temas nos parece central: as diferentes construções de família em suas obras. Três de seus trabalhos lidam de maneira direta com integrantes de seu próprio núcleo familiar. A começar com “The ties that bind” (1984), captado em 16mm, que tece um sensível retrato de sua mãe, Lore, nascida na Alemanha e uma testemunha ocular da Segunda Guerra Mundial; o segundo é o média-metragem “Sink or Swim” (1990), também captado em película, em que as memórias da diretora sobre seu pai, Paul, constituem a estrutura da obra; e “I cannot tell you how I feel” (2016), longa realizado já no formato digital mais de trinta anos após a primeira parte da tríade, que retoma a figura da mãe, agora com 94 anos, às voltas com a mudança para uma casa de repouso. Nessas espécies de etnografias domésticas (RENOV, 1999), é imperativo um caráter de “(co)implicação” entre quem filma e quem é filmado, em relações carregadas de tensões afetivas nas quais se elabora um complexo autorretrato refratado através de um “outro” familiar.

    Assim, esta comunicação propõe analisar os modos de (re)construção de laços familiares nos três filmes da diretora acima listados. O conjunto dos três filmes lança mão de uma gama de procedimentos de linguagem, chegando a resultados que reverberam nas demais obras, ainda que cada trabalho permaneça estéticamente singular. Alguns gestos serão investigados: por exemplo, como a dimensão de auto-inscrição se apresenta de formas distintas, com mudanças no uso de recursos expressivos a fim de enunciar um “eu”; como cada obra elabora a intimidade, instituindo filmicamente tanto uma proximidade quanto uma necessária distância frente à pessoa retratada, a fim de que o filme exista. Por fim, quais ideias de família resultam de cada obra e o que revelam as diferenças entre elas no arco de três décadas. Com a intenção de traçar o percurso dessa investigação, propomos convocar uma abordagem teórica dupla que coloque em diálogo teorias dos campos feministas e dos estudos em cinema, em particular autobiográfico e experimental.

Bibliografia

    BRANDÃO, Alessandra; LIRA, Ramayana. A in/visibilidade lésbica no cinema. In: HOLANDA, Karla (org.). Mulheres de Cinema. Rio de Janeiro: Numa Editora, 2019.

    BUTLER, Alison. Performing authorship: self-inscription in women’s experimental cinema. In: Women’s Cinema: the contested screen. Londres: Wallflower Press, 2002.

    CORRIGAN, Timothy. O filme-ensaio: desde Montaigne e depois de Marker. Campinas: Papirus, 2015.

    MISRA, Sonia; SAMER, Rox. Su Friedrich: Interviews (conversations with filmmakers series). Mississippi: University Press of Mississippi, 2022.

    RENOV, Michael. Domestic Ethnography and the Construction of the “Other” Self. In: Collecting Visible Evidence. Minnesota: University of Minnesota Press, 1999, p. 140-155.

    RICH, Adrienne. Heterossexualidade compulsória e existência lésbica. Bagoas, n. 05, 2010, p. 17-44.

    VEIGA, Roberta. Imagens que sei delas: ensaio e feminismo no cinema de Varda, Akerman e Kawase. In: HOLANDA, Karla (org.). Mulheres de Cinema. Rio de Janeiro: Numa