Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Haroldo Ferreira Lima (USP)

Minicurrículo

    Haroldo Lima realiza pesquisa de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA-USP. É mestre em Psicologia Institucional e bacharel em Comunicação Social pela UFES. Desenvolve pesquisa sobre processos autorrepresentativos no documentário queer.

Ficha do Trabalho

Título

    A sensibilidade queer de Blackstar – autobiography of a close friend

Formato

    Presencial

Resumo

    A apresentação toma as estratégias enunciativas do documentário autobiográfico Blackstar – autobiography of a close friend (Tom Joslin, 1977), em especial o comentário autoirônico das cartelas e sua trilha musical, para deixar ver como o filme traça uma sensibilidade queer comprometida com a construção da identidade gay entre o dissenso familiar e a nova possibilidade de viver a dois fora do armário.

Resumo expandido

    Parte da atmosfera documentária pós-Stonewall (Waugh, 2011), Blackstar: autobiography of a close friend (Tom Joslin, 1977) é um autorretrato precursor do documentário autobiográfico queer. O filme reúne arquivos domésticos, entrevistas com familiares e autoencenações para traçar a biografia do realizador, sua saída do armário e, com a discussão centrada no ambiente doméstico, os termos políticos em que as lutas por reconhecimento e direitos disputaram sentidos entre as famílias brancas estadunidenses de classe média. Acompanhando pelo companheiro Mark Massi, Joslin compõe um retrato das forças históricas e das implicações subjetivas que rodearam os processos constitutivos das identidades gays contemporâneas, entre a política liberacionista e a cultura popular.
    Em Blackstar, a autoinscrição do realizador é produzida a partir do relato das personagens e das performances encenadas deixando ver o comprometimento do filme com a humanização das experiências de personagens queers cara aos filmes do período (Waugh, 2011; Rich, 2015) e, especulo, com uma normalização aparente das identidades majoritárias. A ausência da voz over verticalizada dá espaço para o comentário autoirônico do realizador na montagem através de cartelas endereçam e convidam o espectador a se posicionar frente a conversa estabelecida pelo filme. O comentário funciona também de outras maneiras, seja com a colagem de desenhos do Mickey ou o texto do drama teatral Quem Tem Medo de Virgínia Woolf (Edward Albee, 1963) em sobreposições. Embora tão importante quanto o que dizem sobre o realizador e seus comentários é o uso de sucessos radiofônicos e textos dramáticos para a constituição da enunciação sexualizada do filme. A trilha erige a ambiência musical em que as relações mostradas estiveram imersas e funciona como uma cronologia paralela à coleção de imagens. Além da aparente significação da cultura popular para traçar os laços afetivos entre a família nuclear e o casal gay, as músicas estabelecem uma ponte entre a ambiência contracultural da década de 1960 e 1970 e a dimensão inventiva que a relação do casal precisa ganhar entre a vida e o corpo fílmico para se descolar dos modos vida heterocentrados e mesmo suas enunciações.
    A partir de uma exposição comentada de um precursor ainda pouco conhecido do documentário queer, vamos contextualizá-lo em relação a uma safra fílmica implicada com constituição das identidades sexuais (Waugh, 2011), integrante de uma subjetividade social (Renov, 2021) redimensionada pela lutas sociais minoritárias com a politização do pessoal nos filmes autorrepresentativos e, por fim, mostrar como Blackstar parece realizar não só o retrato de Joslin ante as forças normativas da família, mas também o da relação que precisa inventar com Mark.

Bibliografia

    RENOV, Michael. Novas subjetividades: documentário e autorrepresentação no período pós-verité, trad. Haroldo Lima e de Rafael Abreu. Revista Movimento XVII, Setembro de 2021.

    RICH, Ruby. New Queer Cinema: The director’s cut. Durham & London: Duke University Press, 2013.

    WAUGH, Thomas. The right to play oneself: looking back on documentary film. Minneapolis: Minnesota University Press, 2011.