Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Ester Maria Silva Rosendo (UFS)

Minicurrículo

    Mestranda em Cinema e narrativas sociais pela Universidade Federal de Sergipe. Pesquisa som e cinema paraibano, com ênfase na filmografia de Torquato Joel.
    Atua como técnica de som direto e editora de som para cinema e audiovisual.
    Autora da análise “A queima: vozes e ruídos na construção de um mito” (Revista digital de cinema documentário (Doc on-line) n. 22).

Ficha do Trabalho

Título

    Sonoridades do documentário experimental “Estes”

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho analisa como o som contribui com a estética e construção simbólica do documentário experimental “Estes”, de Torquato Joel.
    Imagens minimalistas, abstratas, com poucos movimentos e informações se unem às vozes manipuladas, músicas e ruídos e desenvolvem um estilo particular. Como essas sonoridades, diante de tamanha rarefação visual, podem trazer complexidades e novas camadas de sentidos para o filme?

Resumo expandido

    Este trabalho fará uma análise fílmica dos sons, vozes, músicas e ruídos do documentário experimental “Estes” (2010, PB), de Torquato Joel. Como a narrativa e estilo sonoro, junto às imagens rarefeitas, criam sentidos e estéticas particulares? Como esses sentidos constroem discursos e elementos de identidade e decolonialidade no filme?
    “Estes” é um documentário experimental, formado por Imagens minimalistas, abstratas, com poucos movimentos e informações, sobrepostas por vozes, músicas e ruídos. A história tem como temas centrais o poder, a política, organização e popular, a colonização e seus reflexos no interior da Paraíba.
    Serão aplicados conceitos desenvolvidos para o cinema por Chion (2011), conceitos como o contrato audiovisual, valor agregado, servirão de guia tanto das reflexões teóricas, quanto formas de metodologias de análise do som nos filmes. Outra referência é o trabalho da autora Claudia Gorbman (1987), no seu estudo sobre as funções da música na narrativa cinematográfica.
    “Estes” se localiza no cinema periférico, artesanal, atravessados pelo hibridismo, pelo caráter local e global, de forma temática e estética. Na sua parte musical essa dimensão escalar da parte pelo todo, local e universal está presente não só na temática do filme, que parte do poder e chega no empoderamento coletivo de uma comunidade periférica, mas na utilização de instrumentos populares africanos e indígenas, mixado com músicas de orquestra, clássica, inclusive dentro de uma mesma música.
    As vozes são de cinco narradores, enquanto vemos texturas modulantes que correspondem a cada um, as vozes são manipuladas com ecos, por vezes são mascaradas por outros sons, se tornando ininteligíveis, e o sentido completo do filme é revelado muito aos poucos por cada um e pelos outros sons, se trata de uma brincadeira, que virou mobilização política de moradores da periferia de Bananeiras, interior paraibano, que se organizaram coletivamente e realizam eleições na própria rua e conseguem através do poder público da cidade ações efetivas de melhorias para a rua deles, a Rua do Vento.
    O uso da música é recorrente, há uma música instrumental de ritmo africano regular, com timbres orquestrais, que só desaparece nos créditos finais. Outras presentes na parte final do filme aparecem pontualmente, os hinos dos times de futebol cariocas Vasco da Gama e o Flamengo e por fim uma canção religiosa católica “Prova de amor maior não há”, que parece ser cantada por uma das entrevistadas.
    Uma espécie de bricolagem de ruídos, vento, tesoura, máquina de costura, pinceladas, riscadas de lápis, sons por horas se sucedem e em outros momentos se cruzam e que estão relacionados a cada uma das personagens, trazendo marcas identitárias das mesmas.
    As músicas e ruídos antes dos créditos finais estão vinculados a uma textura, da fachada das casas dos entrevistados, também a um morador da Rua do Vento e outras imagens de objetos que entende-se ser deles, como a camisa do Vasco da Gama, tesoura, livros, escrituras. Na cena em que escutamos o hino do Vasco em composição com uma textura, ouvimos um apito, vemos a silhueta de um policial, que dá lugar a uma camisa do Vasco e sons de torcida, volta o ruído de apito, agora ressignificado, em seguida aparece a silhueta de um homem, talvez o entrevistado morador da casa que vemos a fachada. Corta, próxima textura, ouvimos agora o hino do Flamengo e vemos traços de outro homem. Ao trazer esses hinos junto às outras sonoridades e imagens mais abstratas, o filme representa traços de identidade dessas pessoas, descrever suas predileções, que gosta de futebol, que torce para o Flamengo, ou Vasco e fazendo esse uso da música o filme traz ícones da cultura brasileira, que tem o poder de unificar e reforçar a ideia de uma identidade nacional.

Bibliografia

    CHION, Michel. A Audiovisão: Som e imagem no cinema. Lisboa: Edições Texto e Grafia,
    2008.
    GORBMAN, Cláudia. Unheard Melodies: Narrative Film Music. Bloomington: Indiana
    University Press. 1987.