Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Liniane Haag Brum (UNICAMP)

Minicurrículo

    Pesquisadora bolsista da FAPESP: Pós-doutoranda na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no âmbito do Núcleo de Estudos da Criatividade (Nudecri)/ Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor). Doutora em Teoria e História Literária (UNICAMP), com intercâmbio na Université Sorbonne Paris 1- Panthéon , no Centro de Estudos e de Pesquisa sobre a história e a estética do cinema (CERHEC). Mestre em Literatura e Crítica Literária (PUC/SP). Graduada em Comunicação Social.

Ficha do Trabalho

Título

    CONTRA O APAGAMENTO: O CINEMA DE NÃO-FICÇÃO DE UGO GIORGETTI

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação apresentará o resultado processual da pesquisa de pós-doutorado “Contra o apagamento, o cinema de não-ficççao de Ugo Giorgetti”, – toma-se a série O Cinema Sonhado (2019) como marco diacrônico e ponto de partida. Trata-se de estabelecer articulações e interesecções entre produções documentais de Giorgetti, rumo a uma lógica sitematizadora da obra de não ficção, em que se privilegia a questão do não apagamento da memória social e do arquivamento como gesto primevo do documentarista.

Resumo expandido

    A comunicação apresentará o resultado processual da pesquisa de pós-doutorado “Contra o apagamento, o cinema de não-ficççao de Ugo Giorgetti”. A investigação focaliza a obra documentária do cineasta paulistano a partir do conceito de arquivo (Derrida, 1995) e de arquivamento (Derrida, 1995; Mondzain, 2017). Sabe-se que a produção de Giorgetti tem sido lida e abordada, tanto no espectro acadêmico, quanto no jornalístico, como discurso sobre a capital paulista. Fala-se em pontos de vista do cineasta sobre São Paulo, em elegia da cidade decaída ou sobre a vedete (São Paulo) mais festejada da obra do realizador. O próprio diretor, no discurso público sobre sua obra, admite que sua verve criadora é movida por São Paulo.

    A partir da hipótese de que a produção do cineasta paulista perfaz um conjunto filmográfico sensível que lega ao presente uma memória cinematográfica do futuro, que advém do passado que o cinema retém e pode atualizar, um vislumbre das transformações de um organismo vivo, de um coletivo de dicções humanas e de paisagens arquiteturais e modos de vida se distingui, alargando, também, o discurso sobre o que seja uma cidade ou um cinema que se relaciona com ela.

    Com a dificuldade de habitar a metrópole moldada pelas consequências da pandemia de coronavírus, além da recessão e até mesmo depressão econômica que essa situação enseja (Birman, 2020), a pesquisa lança luz não apenas sobre as questões do presente de São Paulo, mas também em relação ao seu futuro (e de outras metrópoles ao redor do globo, por contiguidade). Não se pode negar, como ressalta Joel Birman em recente avaliação sobre o trauma da pandemia do coronavírus, que estamos experimentando “práticas anticivilizatórias e de franca barbárie” (2020, p. 84); ao que se poderia acrescentar: práticas que já têm como efeitos primordiais o desaparecimento da vida humana e suas diversas formas, além do efeito traumático em larga escala. A não-ficção de Ugo Giorgetti, lida sob o prisma da “memória do futuro” , antevê isso (a sua nuança melancólica ecoa isso?)? Se sim, como e por quê? Na obra, a relação cidade/homem/subjetividade é o mote a partir do qual se lança – e é lançado – o olhar que enquadra o real?

    Pretende-se, assim, ao apresentar possíveis respostas a essas questões, mostrar as articulações e as interssecões entre as produções não-ficcionais de Giorgetti, no tocante à questão do arquivamento, tal como entendido por Jacques Derrida (1995). Trata-se, finalmente, de estabelecer os pontos de ancoragem discursivos dos objetos de pesquisa, rumo a uma lógica organizativa e sitematizadora da obra fimográfica de não ficção, em que se privilegia a questão do não apagamento da memória social e do arquivamento como gesto.

    Toma-se o penúltimo trabalho de não-ficção do cineasta, a série O Cinema Sonhado (2019), não somente como ponto de partida para análise, mas como marco diacrônico de sua produção artística e cultural de não-ficção. Tendo em vista os objetivos aqui explicitados, segue um elenco das obras a serem abordadas – de modo não exaustivo – pela apresentação: Bairro dos Campos Elíseos; Rua São Bento, 405, Prédio Martinelli; Quebrando a Cara: Uma Outra Cidade; 2004: Variações sobre um Quarteto de Cordas; Pizza; Em Busca da Pátria Perdida; Santana em Santana; México 1968 – A Última Olimpíada Livre ; Cinema por quem o faz; Comercial F.C. – a equipe fantasma.

Bibliografia

    DERRIDA, Jacques. Mal de Arquivo: uma impressão freudiana. Tradução: Claudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: RelumeDumará, 2001.
    DERRIDA, Jacques. Jacques Derrida. Trace et archive, image et art. Paris: Institut National du Audiovisuel, 2014
    DERRIDA, Jacques. Mal d’archive: une impression freudienne.Paris: Galilée, 1995.
    GROYS, Boris. Art workers: Between utopia and the archive. e-flux journal, v. 45, 2013. Disponível em https://www.e-flux.com/journal/45/60134/art-workers-between-utopia-and-the-archive/.
    LINDEPERG, Sylvie. La Voie dês Images. Paris: ÉditionsVerdier, 2013b.
    SELIGMANN-SILVA, Márcio. Sobre o anarquivamento – um encadeamento a partir de Walter Benjamin. Revista Poiésis, n. 24, p. 35-58, dez. 2014b. Disponível em: http://www.poiesis.uff.br/p24/pdf/p24-dossie-3-marcio-seligmann-silva.pdf.
    TRIGO, Maria Ilda; DE SOUZA OLIVEIRA, Fernanda. Imagens em trânsito, poderes e arquivos. Revista Poiésis, v. 23, n. 39, p. 187-204, 2022. Disponível em https://periodicos.uff.br/poiesis/