Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Yanara Cavalcanti Galvão (UFS)

Minicurrículo

    Educadora audiovisual e cineclubista. Atualmente, professora substituta da graduação em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Sergipe e participo do Núcleo Interdisciplinar em Cinema e Educação (NICE/ UFS). Entre as disciplinas que facilito está a optativa Cinema, Educação e Direitos Humanos, que nesses dois últimos semestres concluímos com uma ação de extensão que inclui a prática cineclubista com a curadoria realizada por discentes e aberta ao público externo.

Ficha do Trabalho

Título

    Por uma pedagogia engajada para a (re)invenção de futuros no cinema

Seminário

    Cinema e Educação

Formato

    Presencial

Resumo

    Neste trabalho, inspiro-me nas propostas de pedagogia engajada e atitude revolucionária, pensadas por bell hooks (2013;2019), para então aproximá-las das nossas práticas que articulam o cinema e educação na contemporaneidade. Para tanto, parto de um relato de experiência.

Resumo expandido

    No presente trabalho partilho da minha experiência inicial com o cinema e educação. Encontro este, mediado pelo cinema e possibilitado por ações descentralizadoras de políticas públicas em nível federal, que viabilizaram a interlocução entre a cultura (no nosso caso a cinematográfica) e os espaços educacionais. O que aconteceu, desde os contextos escolares aos comunitários com ou sem vínculos institucionais. Nesse sentido, apresento um relato de experiência com cinema e educação, oriundo da parceria entre dois projetos aprovados, ambos localizados no bairro Alto do Moura em Caruaru, Pernambuco. Por fim, inspirada no pensamento de bell hooks (2013; 2019), proponho refletir nosso lugar da experiência com o cinema e educação a partir do que a autora chama de “pedagogia engajada” e “atitude revolucionária”.

    No ano de 2009, submetemos e aprovamos o projeto cineclubista “Cine Alto do Moura”, junto à Associação dos Artesãos em Barro e Moradores do Alto do Moura (ABMAM). O projeto concorreu no primeiro edital do Cine Mais Cultura, ação vinculada ao Programa Mais Cultura do Ministério da Cultura, Governo Federal. A sua proposta foi promover cinema sem fins lucrativos às localidades periféricas pouco beneficiadas por serviços e equipamentos culturais. Somente entidades sem fins lucrativos com inscrição como pessoa jurídica (CNPJ), que podiam participar do edital. Quando contemplado, o ponto de exibição recebeu, sob cessão de direitos, equipamento multimídia de projeção e som, acervo de filmes do projeto de difusão Programadora Brasil (Sav/MinC) e oficina de formação cineclubista. Durante os primeiros 24 meses o projeto foi acompanhado pela equipe do Cine Mais Cultura (MinC/ RJ), através de relatórios com descrição e registro das sessões. Somente após 24 meses que o equipamento esteve habilitado a fazer parte em definitivo da entidade contemplada.

    Logo no primeiro ano de sessões semanais, que aconteciam aos sábados, iniciamos a parceria com a Escola Municipal Mestre Vitalino, localizada no bairro e a poucos minutos do cineclube. Desde o primeiro momento, tivemos como publico frequentador, estudantes da escola Mestre Vitalino. Não somente o público infantil e infantojuvenil, como também de estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos), o que nos desafiou no exercício da curadoria e programação das sessões. Com essa mobilização promovida pelas sessões e ações formativas do Cine Alto do Moura, fui convidada enquanto agente cultural no bairro para elaborar junto à Escola Mestre Vitalino, um projeto que concorreu e foi contemplado pelo edital federal do Programa Mais Cultura nas Escolas, uma ação interministerial do Ministério da Cultura (MinC) com o Ministério da Educação (MEC), em 2014. Vale ressaltar que éramos uma equipe fixa muito pequena no cineclube, composta por ceramistas e eu como única profissional do audiovisual, comunicação e cultura a atuar nesses projetos.

    Essa relação, dentro e fora da escola, propiciou práticas pedagógicas mediadas pelo cinema e só foi possível a partir da interlocução de ações de políticas públicas no âmbito dos Ministérios da Cultura e Educação. Algumas dessas vivências resultaram nos curtas documentais realizados com estudantes: Somos do Alto do Moura (direção coletiva, 2011) e A Arte do Barro no Alto do Moura e Vitalino (direção coletiva, 2016).

    Provocada pelo tema deste XXV Encontro da SOCINE, “Invenção de Futuros”, parto desse lugar da experiência que proporcionou o meu encontro com a docência. Para então, propor que nossas práticas na interface cinema e educação possam ajudar a fundar novos regimes de visibilidade numa perspectiva tanto estética quanto ética e política. Que outros horizontes epistemológicos nos guiem numa direção mais afro-latino-americana. Nesse sentido, a partir do pensamento de bell hooks (2019; 2013), tanto desenvolvendo uma “atitude revolucionária” como indo ao encontro de uma “pedagogia engajada”, ao nos envolvermos em um contínuo processo de aprendizagens.

Bibliografia

    FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
    FRESQUET, Adriana. Cinema e educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
    GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Editora Schwarcz-S.A, 2020.
    hooks, bell et al. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013.
    hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. Elefante Editora, 2019.
    RANCIÈRE, Jacques. O Espectador Emancipado. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2012.

    Documentários

    A Arte do Barro no Alto do Moura e Vitalino (direção coletiva, doc, 2016, PE). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=szBzJRRp93A

    Somos do Alto do Moura (direção coletiva, doc, 2011, PE). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TaMzyYXq7l4 (parte 1) e https://www.youtube.com/watch?v=TaMzyYXq7l4 (parte 2)