Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Julia de Almeida Maciel Levy Tavares (UFF)

Minicurrículo

    Atua há mais de vinte anos no audiovisual brasileiro em diferentes funções e projetos. Doutoranda em economia, pesquisa de forma interdisciplinar a expansão do sistema capitalista e suas influências na formação e ação do Estado brasileiro, e na área audiovisual. Integra o ELVIRAS – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema, o Laboratório de Estudos Marxistas do Instituto de Economia da UFRJ e o Grupo de Estudos e Pesquisa em Ontologia Crítica (GEPOC-UFF).

Ficha do Trabalho

Título

    Descaminhos audiovisuais entre o Estado e o capitalismo digital

Formato

    Remoto

Resumo

    O trabalho apresenta parte dos resultados alcançados na pesquisa de mestrado onde analisamos os impasses da regulação do video sob demanda no Brasil. Através de um panorama interdisciplinar apoiado na crítica da economia política, na história do pensamento social brasileiro e na historiografia do audiovisual brasileiro, analisamos como o capitalismo se desenvolveu no Brasil forjando a natureza do Estado brasileiro e as políticas públicas, principalmente no que toca o audiovisual brasileiro.

Resumo expandido

    Este trabalho apresenta parte dos resultados alcançados na pesquisa de mestrado, onde analisamos os impasses da regulação do video sob demanda no Brasil. Por meio de um panorama histórico interdisciplinar, apoiado na crítica da economia política, na história do pensamento social brasileiro e na historiografia do audiovisual brasileiro, principalmente no que tange a regulação audiovisual no Brasil, nosso trabalho parte de fins do século XIX quando o cinema é criado, transita pelo século XX e chega às primeiras décadas do século XXI diante do capitalismo digital.

    No nosso entendimento, a história do desenvolvimento da indústria audiovisual pode ser lida enquanto forma fenomênica da expansão crescente da acumulação capitalista. A todo momento novas tecnologias surgem e são incorporadas, impactando a produção, as relações de trabalho, as formas de se relacionar com um público (também em constante expansão). A própria invenção do cinema, nascido entre tantas invenções da segunda revolução industrial, em fins do século XIX, evidencia esse processo. E, se em seu primeiro século o cinema, rádio, televisão, imprensa, se constituíram em instâncias paralelas, embora relacionadas, com as transformações tecnológicas informacionais e das telecomunicações, se fundiram societariamente em grandes conglomerados ao mesmo tempo em que se fragmentam cada vez mais em espaços virtuais e possibilidades de interação entre mais empresas, objetos e seres humanos.

    Para o audiovisual brasileiro a questão que vem se apresentando ao longo das décadas é como regular todos esses espaços, e outros mercados que poderão vir a existir, e garantir a presença brasileira, crítica e independente, proporcionando ganhos não apenas para a área, mas para a sociedade brasileira como um todo. Mas como dar conta e regular algo em infinita e veloz expansão sem nos questionarmos sobre o que nos leva a esse paradoxo, ou seja, sem entender o próprio sistema que cria e expande infinitamente esse desejado locus? Por que as políticas públicas brasileiras da área sempre estão aquém de suas necessidades? Por que algumas áreas como a preservação e memória audiovisual são preteridas por essas políticas mesmo nos momentos de maior pujança institucional da área?

    Para responder a essas perguntas, nosso trabalho se debruçou em pesquisas audiovisuais, mas também em autores brasileiros que tentaram entender os problemas estruturais do Brasil. Com Celso Furtado, Florestan Fernandes, entre outros, entendemos que subdesenvolvimento, dependência cultural, desigualdades sociais, são partes inerente da forma como a inserção brasileira no mercado internacional se deu. E tal feito influenciou diretamente a formação do Estado brasileiro (com traços autoritários), as políticas públicas por ele desenvolvidas, assim como o desenvolvimento da área audiovisual.

    Além disso, o panorama histórico traçado também possibilitou perceber que as ausências da regulação estatal para o audiovisual coincidiram com períodos de crise e ampliações do sistema para novos mercados/setores. E que os recuos da esfera estatal seguiram padrões que só podem ser explicados quando analisados dialeticamente através das características internas da formação do Estado brasileiro, e externas, levando em conta os fluxos do sistema a nível global.

    Por fim, observamos que essa contínua expansão do sistema além de criar formas cada vez mais abstratas e sofisticadas de organização e determinações sociais, vai desorganizado antigas questões do audiovisual brasileiro, obrigando-o a repensar suas estratégias de sobrevivência dentro do seu próprio país, ao longo da história.

Bibliografia

    AUTRAN, A. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec, 2013.
    BAHIA, L. Discursos, políticas e ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural: Iluminuras, 2012.
    BERNARDET, J. C. Cinema Brasileiro: proposta para uma história. São Paulo: Cia. das Letras, 2009.
    BRASIL. Lei de nº. 14.173 de 2021.
    FERNANDES, F. A revolução burguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
    FURTADO, C. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.
    IASI, M. L. Política, Estado e Ideologia na trama conjuntural. São Paulo: ICP, 2017.
    IKEDA, M. Utopia da autossustentabilidade: impasses, desafios e conquistas da Ancine. Porto Alegre: Sulina, 2021.
    LUCA, L. G. A. A hora do cinema digital: democratização e globalização do audiovisual. São Paulo: Imprensa Oficial, SP, 2009.
    MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013.
    SIMIS, A. Estado e cinema no Brasil. São Paulo: Ed. Unesp, 2015