Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Archangelo (ECA/USP)

Minicurrículo

    Doutor em História Social pela FFLCH-USP; Pós-doutorando em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP; Pesquisador do Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira. É autor do livro Um bandeirante na tela: o discurso adhemarista em cinejornais (São Paulo: Alameda: Cinemateca Brasileira: FAPESP: LEER-USP, 2015); Participante do Grupo de Pesquisa CNPq História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação.

Ficha do Trabalho

Título

    Cultura cinematográfica em cinejornais: História, Política, Cinemateca

Mesa

    Cultura Cinematográfica: Historiografia, Crítica, Política

Formato

    Presencial

Resumo

    Quantos cinejornais têm num cinejornal? A pergunta evoca camadas da relação História e Cinema para o entendimento dessa imprensa projetada nas filmografias nacionais, cinematecas e arquivos. Na Cinemateca Brasileira os fundos Canal 100 e Atlântida expõem essas historicidades: o papel dessa mídia em 1961/1962 para o cinema e a democracia; suas representações e ressignificações verificadas pela catalogação e análise fílmica; e as culturas políticas que os inserem em nossa cultura cinematográfica.

Resumo expandido

    Essa comunicação é parte da nossa pesquisa de pós-doutorado sobre o papel da imprensa projetada na soleira dos anos 1960, e a cultura política emanada pelos cinejornais do Fundo Atlântida e do Fundo Canal 100 do acervo da Cinemateca Brasileira. Os anos de 1961 e 1962 dessas séries produzidas, respectivamente, pelo Grupo Severiano Ribeiro e pela Produção Carlos Niemeyer Filmes, trazem importantes redirecionamentos políticos na sua pauta de notícias. Estes que eram os maiores cinejornais privados daqueles anos, são observados no conjunto da nossa filmografia brasileira, a começar pelas historicidades (HARTOG 2015) da esfera pública desse “subproduto” do campo cinematográfico (ELSAESSER 2018) e as dimensões do tempo histórico nas suas edições e segmentos de notícias. Neste percurso investigativo, consideramos o caráter híbrido com a imprensa escrita e o rádio que essa mídia informativa levava aos cinemas – sobretudo num contexto de obsolescência diante do telejornal; a condição de objeto que transita entre a pesquisa sobre o cinema e a história política brasileira; e a sua dimensão de patrimônio cinematográfico cultural e histórico neste século (BILTEREYST et.al 2012).

    Esse último aspecto tem especial relevância em 2022 – sobretudo com a retomada da Cinemateca Brasileira após sofrer o deliberado fechamento por 16 meses – e ele também é o foco da nossa comunicação, que se baseia na prática preservacionista lapidada nesta imprescindível instituição de salvaguarda do patrimônio audiovisual nacional. A abordagem que apresentamos para os cinejornais dialoga com estudos históricos de contextos nacionais (SAINATI, 2001), internacionais (CHAMBERS et.al 2018) e com um lastro em nossa historiografia do cinema brasileiro (GOMES [1974] 1986; GALVÃO 1975; SOUZA 2003) que vem norteando a preservação de cinejornais na Cinemateca, bem como a maior parte dos estudos dessas obras seriadas no Brasil.

    A partir do mapeamento censitário de cinejornais em nosso maior repositório de informações sobre a produção audiovisual nacional no século XX – a base de dados Filmografia Brasileira – e de um ferramental metodológico que perpassa a catalogação audiovisual, a análise fílmica e a recuperação da película para o digital, desenredamos camadas dessa imprensa audiovisual tais como: as trajetórias e as conexões do acervo ao qual pertencem essas obras seriadas; as periodicidades, o reuso e as ressignificações das suas edições, segmentos de notícias e trechos de imagens; e os contextos de circulação e modos de produção interligados a diferentes núcleos decisórios da sociedade brasileira. E, num outro nível investigativo, descortinamos certas dimensões do tempo histórico e da memória social nos cinejornais, buscando as representações da nação e do povo brasileiro, bem como a expressão social das culturas políticas que inseriram (e inserem) esses filmes em nossa cultura cinematográfica.

Bibliografia

    BILTEREYST, D. et.al. 2012. “A Newsreel of Our Own”: the culture and commerce of local filmed news, In: Historical Journal of Film, Radio and Television v.32, n.3.

    CHAMBERS, C. et.al. 2018. Researching Newsreels: local, national and transnational case studies. Cham: P. Macmillan.

    ELSAESSER, T. 2018. Cinema como arqueologia das mídias. Edições Sesc SP.

    GALVÃO, M.R. 1975. Crônica do cinema paulistano. SP: Ática.

    GOMES, P.E.S. [1974]1986. A expressão social dos filmes documentais no cinema mudo brasileiro. In: CALIL, C.A. (org.) Paulo Emílio: um intelectual na linha de frente. SP: Brasiliense.

    HARTOG, F. 2015. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. B.Horizonte: Autêntica.

    SAINATI, A. 2001. La Settimana Incom, cinegiornali e informazione negli anni ’50. Torino: Lindau.

    SOUZA, J.I.M. 2003. Trabalhando com Cinejornais: relato de uma experiência. In História: Questões & Debates, v.20, n.38, p.43-62.