Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia de Oliveira Iuva (UFSC)

Minicurrículo

    Professora adjunta do Curso de Cinema, na UFSC. Integra os grupos de Pesquisa GPESC/UFRGS (Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação – CNPq) e GEIST/UFSC. Coordena e desenvolve o projeto de pesquisa “Dos gestos de criação aos gestos paratextuais na linguagem audiovisual: assinatura, performance e acontecimento”. Também coordena o Projeto de Extensão “EXTRA [CINE]: atrás e além das câmeras”, que tem por objetivo a realização de making ofs de produções de alunes do Cinema UFSC.

Ficha do Trabalho

Título

    Entre biografias e a história: o cinema de Margarethe Von Trotta

Seminário

    Teoria de Cineastas

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho discute os gestos de criação no cinema de Margarethe Von Trotta através de entrevistas da cineasta e dos filmes Rosa Luxemburgo (1986) e Hannah Arendt (2012). Conjugamos um pensamento semiótico, com elementos da crítica de processo e da teoria de cineastas, no intuito de desvelar a cine-escritura de Von Trotta como um ato teórico diagramático que evidencia uma fronteira estética e discursiva entre o biográfico e o histórico, ou seja, filmes que articulam memórias de vida e históricas.

Resumo expandido

    Este trabalho propõe questionamentos que buscam colocar em diálogo aspectos históricos e biográficos no cinema a partir das obras da cineasta alemã Margarethe Von Trotta, mais especificamente os filmes Rosa Luxemburgo (1986) e Hannah Arendt (2012). Os pressupostos teórico-metodológicos percorrem pistas que entrecruzam um pensamento semiótico diagramático (MACHADO, 2013) com os apontamentos da crítica de processo (SALLES, 2006) e proposições da teoria de cineastas (AUMONT, 2012), de modo que a investigação se concentra em refletir sobre os gestos de criação que circundam o processo cinematográfico de Von Trotta.
    Compreendemos que o lugar assumido por Margarethe Von Trotta em ambos os filmes, assinando a direção e o roteiro, localizam a cineasta no centro de um espaço de criação estética e discursiva, do qual reverberam uma série de questionamentos que nos instigam a refletir acerca de determinados gestos criativos e possíveis atos teóricos. Intuímos que no cinema de Von Trotta há rastros que nos possibilitam tensionar aspectos de um fazer cinematográfico que busca dar conta de acontecimentos e/ou personalidades históricas (como é o caso de Rosa Luxemburgo e Hannah Arendt) – um lugar entre a biografia e a história.
    A busca pelos gestos de criação de Margarethe Von Trotta parte, portanto, de inquietações sobre como o seu cinema representa personagens cujas biografias repercutiram em conjunto com acontecimentos históricos e políticos expressivos na Alemanha (e no mundo). Trata-se de indagar sobre as relações de sentido processadas entre linguagens e sistemas de signos culturais, a fim de compreendermos a singularização de um procedimento estético e discursivo. Como afirma Machado “É como comunicação que códigos, linguagens, sistemas de signos interagem e autorregulam os movimentos da continuidade e da renovação fundamental para a geração de informação nova, que pode ser, agora, entendida num gradiente que vai do amplo processo de significação, à singularidade da interpretação e à explosividade do sentido” (2013, p.8).
    Diante disso, vislumbramos um potencial problema de pesquisa que busque dar conta de compreender a cine-escritura de Von Trotta como um ato teórico diagramático que evidencia uma fronteira semiótica entre o biográfico e o histórico, ou seja, filmes que conjugam memórias de vida, bem como uma memória histórica. Ou seja, a criação cinematográfica dos filmes de Margarethe Von Trotta, contaminada pela memória dos textos culturais, sejam eles da esfera pública e de ordem política, ou da esfera privada e de ordem pessoal, pode produzir teoria. Tal tessitura configura-se numa espécie de um diagrama que desvela atos teóricos de uma cineasta que reflete não somente a vida íntima, a atuação política e a sobrevivência de personalidades históricas femininas, mas reinventa um modo de construí-las em conjunto com a história política da Alemanha ocidental.
    Para fins de análise, nos debruçamos sobre os filmes, mas também sobre diferentes paratextos que podem operar no sentido de evidenciar as processualidades, uma tessitura de inferências, referências, anotações, etc. Assim, o corpus é formado pelas obras cinematográficas e por uma série de entrevistas concedidas por Von Trotta para a crítica especializada e/ou para revistas acadêmicas.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2012.
    BAKHTIN,Mikhail. Os gêneros do discurso. Sao Paulo: Editora 34, 2016.
    FLUSSER, Vilém. Gestos. São Paulo: Annablume, 2014.
    LOTMAN, Iuri. La Semiosfera I: Semiótica de la Cultura e del Texto. Madri: Ediciones Cátedra, 1996
    MACHADO, Irene. Diagrama como problema semiótico: a atividade do Grupo de Pesquisa Semiótica da Comunicação. Revista Semeiosis, Vol. 1. São Paulo, 2013.
    SALLES, Cecília Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. Vinhedo-SP: Editora Horizonte, 2006.