Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    VINICIOS KABRAL RIBEIRO (UFRJ)

Minicurrículo

    Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em Comunicação e Cultura, pela Escola de Comunicação da UFRJ. Líder do grupo de pesquisa “Formas de Habitar o Presente”.

Ficha do Trabalho

Título

    “Eu me escondo, se você também se esconder”

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Formato

    Presencial

Resumo

    Reparação e um possível arquivo de pessoas LGBTIA+? A proposta é pensar os dois conceitos e suas implicações para a produção e recepção de cinemas em dissidência, que habitam as periferias da história e da historiografia do cinema. a apresentação buscará articular reparação, cura e a potência de amar nas/pelas imagens do cinema, sob o prisma da espectatorialidade, especificamente nos filmes GAY USA (1978) e Buddies (1985), de Arthur J. Bressan Jr. (1978).

Resumo expandido

    Reparação e um possível arquivo de pessoas LGBTIA+? A proposta é pensar os dois conceitos e suas implicações para a produção e recepção de cinemas em dissidência, que habitam as periferias da história e da historiografia do cinema. A primeira é uma palavra que evoca o gesto de restaurar, restituir um prejuízo ou reconhecer o dano (que nos foi) causado. Leituras reparativas (Sedgwick, 1999) conclamam a potência de olhar para imagens, sons e palavras mergulhados neste movimento de ação; assim como nos coloca a possibilidade de um olhar amoroso, que cura e repara. Se a esperança é, para Eve Sedgwick, uma forma de organizar nossos fragmentos e traumas. E, para bell hooks, “nossa recuperação está no ato e na arte de amar (2010)”, a apresentação buscará articular reparação, cura e a potência de amar nas/pelas imagens do cinema, sob o prisma da espectatorialidade, especificamente nos filmes GAY USA (1978) e Buddies (1985), de Arthur J. Bressan Jr. (1978).
    Buddies é considerado o primeiro filme a abordar a pandemia causada pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. A história é centrada na amizade de um homem gay jovem com outro rapaz que está hospitalizado em decorrência da Aids. Pensar a importância deste filme para pessoas LGBTIA+ é relembrar, como sublinhou Susan Sontag, que “toda uma política da “vontade”. — de intolerância, de paranóia, de medo da fraqueza política — se aproveitou dessa doença (2007)”.
    Já Gay USA é um documentário que acompanhou diversas marchas do orgulho, em cidades dos Estados Unidos, no dia 26 de junho de 1977. Afirmação, orgulho, medos, anseios, são afetos impregnados nas falas das pessoas entrevistadas. A leitura de um poema é a inspiração para a nomeação desta comunicação. A poeta, uma mulher negra, tece uma crítica ao que a imaginação cis-heterossexual nomeia de comportamentos “chamativos” e que pessoas LGBTIA+ não poderiam assim ser. Ao nomear inúmeros comportamentos “chamativos” da heterossexualidade, ela arremata: “portanto, heterossexuais, digo eu: eu me escondo, se você também se esconder, mas sou educada, portanto, vá primeiro”.
    O interesse inicial nestes dois filmes se dá na possibilidade de pensar a palavra, a imagem, o falar de si e a constituição de memórias como exercícios reparativos. Ou como o pesquisador Fábio Ramalho teoriza, como uma “apropriação inventiva de repertórios (2018)”. Além disso, buscarei uma aproximação com a reflexão de Gayle Rubin, com a necessidade de empreendermos um exercício geológico para pensar estudos, pesquisas, memórias de gêneros e sexualidades. Rubin é enfática: “quanto mais exploro esses conhecimentos queer, mais descubro o quanto já esquecemos, redescobrimos e prontamente esquecemos de novo (2016)”.
    Assim, olhar para o arquivo, repositório ou fragmentos de imagens feitas por, com, sobre pessoas LGBTIA+, é uma maneira de nos unirmos aos esforços de Rubin. Ou seja, escavar imagens, histórias e olhar com amorosidade, é uma prática de curiosidade e vitalidade para o longo percurso traçado em busca da vida e da liberdade, sobretudo das minorias em dissidência. Em concordância com as reflexões de Diana Taylor: “nós aprendemos e transmitimos o conhecimento por meio da ação incorporada, da agência cultural e das escolhas que se fazem (2013)”. Incorporarmos repertórios afetivos e sua transmissão pode configurar uma poderosa epistemologia de cura e reparação. Acessar as margens, bordas e periferias das nossas imagens é, sobretudo, um desafio para compreender o que sustenta e possibilita nossas existências impossíveis. Como sentenciado por Jota Mombaça “Não sabem que nossas vidas impossíveis se manifestam umas nas outras. Sim, eles nos despedaçarão, porque não sabem que, uma vez aos pedaços, nós nos espalharemos. Não como povo, mas como peste: no cerne mesmo do mundo, e contra ele (2017).”

Bibliografia

    HOOKS, B. Vivendo de amor. In: Geledes, 2010, s/p.
    MOMBAÇA, Jota. O mundo é meu trauma. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 11, página 20 – 25, 2017.
    RAMALHO, Fabio. Para habitar um mundo de imagens e sons: práticas minoritárias no audiovisual. Imagofagia, no. 17 (diciembre 12, 2021): 499–521.
    RUBIN, Gayle. “Geologias dos estudos queer: um déjà vu mais uma vez”. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 19, n. 2, p. 117-125, jul./dez 2016.
    SEDGWICK, E. K.; RUGGIERI, M.; NOGUEIRA, C.; ROMÃO, L.; SALDANHA, F.; NATALI, M.; MELO, R. Leitura paranoica e leitura reparadora, ou, você é tão paranoico que provavelmente pensa que este ensaio é sobre você. Remate de Males, Campinas, SP, v. 40, n. 1, p. 389–421, 2020
    TAYLOR, Diana. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.