Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Janaína Oliveira (IFRJ – FICINE)

Minicurrículo

    Pesquisadora e curadora independente, Janaína Oliveira é doutora em História, professora no IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro), e foi Fulbright Scholar no Centro de Estudos Africanos na Universidade de Howard, em Washington D.C., nos EUA. Desde 2009, desenvolve pesquisa sobre as cinematografias negras e africanas. É idealizadora e coordenadora do FICINE, Fórum Itinerante de Cinema Negro (www.ficine.org) e foi a programadora do Flaherty Film Seminar (Nova York) em Julho de 2021.

Ficha do Trabalho

Título

    Sobre Opacidade, Curadoria e Cultura Fílmica

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    Em julho de 2021 fiz a curadoria da 66ª edição do Robert Flaherty Film Seminar que acontece anualmente no estaod de Nova York. A partir das reflexões de Édouard Glissant sobre noção de “Opacidade”, elaborei proposta curatorial envolvendo as obras de dezesseis artistas de sete países. Para este trabalho me proponho a explorar algumas questões que permeiam o campo contemporâneo da curadoria em cinema e um debate sobre culturas fílmicas, a partir da experiência no Seminário e do tema da opacidade.

Resumo expandido

    Em julho de 2021 fiz a curadoria da 66ª edição do Robert Flaherty Film Seminar. Previsto inicialmente para meados de 2020, a edição do Seminário foi adiada por um ano em virtude da pandemia mundial de COVID-19 e aconteceu de forma online pela primeira vez em sua história. Foi a primeira vez também que o Seminário teve uma curadora brasileira responsável pela programação. Fui a sexta latino-americana a realizar esta tarefa. Inspirando-se nas reflexões do escritor e poeta martiniquense Édouard Glissant, fiz da noção de “Opacidade” o tema da sua programação. Para este trabalho me proponho a explorar algumas questões que permeiam o campo contemporâneo da curadoria em cinema, a partir da experiência no Seminário e do tema da opacidade.

    É curioso olhar retrospectivamente um processo de criação de uma curadoria. Ainda mais um processo cuja elaboração se estendeu por dois anos, ao ter sido atravessado por uma pandemia mundial e que, por conta disso, fez de um evento baseado na presença uma atividade virtual. Logo de início, descarto aqui qualquer intenção de localizar o começo, ou um momento em que tudo teria começado e se desenvolvido na proposta curatorial Opacidade. Isto porque, e eis aqui uma das reflexões fundamentais presentes na noção de opacidade tal como formulada pelo escritor martinicano Édouard Glissant, a busca genealógica pela unidade está fora de questão. Aqui a opção é pela floresta ao invés da árvore, pelas múltiplas encruzilhadas ao invés da estrada sinalizada, pelas tramas que compõe a tessitura ao invés do fio único, pela errância em lugar da fixidez.

    Trazida para o universo da cultura fílmica, a noção de Opacidade serviu como um prompt, como diz Katherine Mckittric, o tal convite ao deslocamento dos modos hegemônicos de experienciar as obras, seja com respeitos às suas proposições estéticas e narrativas, seja em relação às posicionalidades geográficas . Na proposta curatorial era a exploração de percepções e reflexões não lineares, buscando também tirar máximo proveito do fato do Seminário acontecer on-line, fora de seu ambiente familiar em uma sala de cinema. Opacidade funcionou como linhas espirais que teciam as conexões entre os filmes, mas também entre os programas, refletindo e fabulando sobre presentes, passados e futuridades, no tensionamento constante das relações entre cetro e margens.

    E aqui é importante o destaque da imagem da espiral, pois ela é movimento que manifesta tanto a recusa epistemológica de um modo de entendimento que têm na transparência ou na decodificação sua premissa, assim como justaposição das temporalidades e das territorialidades presentes nos filmes. Com uma tessitura narrativa em forma de espiral, isto é, repetição em forma de gesto, mas diferente em cada uma das 18 sessões (se incluirmos a abertura de Tina Campt), a programação de Opacidade reafirmou as singularidades irredutíveis das obras e dos artistas convidados, na experiência de encontro com o público que foi outro elemento fundamental nesse olhar retrospectivo.

    A presente apresentação pretende refletir sobre questões que permeiam o campo contemporâneo da curadoria em cinema aliada ao debate sobre culturas fílmicas não hegemônicas, a partir da experiência no Seminário e do tema da opacidade tal como utilizada na programação no Flaherty Film Seminar em 2021.

Bibliografia

    GLISSANT, Édouard. “Para a Opacidade”. Poética da Relação. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021, pp. 219-225
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