Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    LUCAS FURTADO ESTEVES (UFRGS)

Minicurrículo

    Lucas Furtado é formado em Realização Audiovisual pela Unisinos (2015), Mestre em Letras pela UFRGS (2018) e doutorando em comunicação pela UFRGS. Pesquisa construção narrativa, as formas do roteiro cinematográfico e as relações entre cinema e literatura. Compõe o grupo de pesquisa ARTIS – Estética e Processos Audiovisuais, coordenado pela professora Miriam Rossini.

Ficha do Trabalho

Título

    As temporalidades narrativas em Palace II e Cidade de Deus

Seminário

    Montagem Audiovisual: Reflexões e Experiências

Formato

    Presencial

Resumo

    Quais as diferenças da manipulação do tempo em um longa e em um curta-metragem? Embora sejam obras de duração diferentes, o tempo interno de suas narrativas pode construir conflitos densos à sua maneira? Esse trabalho pretende investigar como o tempo narrativo é construido nos filmes Palace II (2001), de Fernando Meirelles, e Cidade de Deus (2002), do mesmo diretor. Para isso, observaremos a montagem dos filmes e a maneira como a narrativa se arquiteta nas duas obras.

Resumo expandido

    O curta-metragem é um gênero muito menos difundido que o longa. Em termos comerciais, por não estrearem nas salas e não venderem ingressos, os curtas não geram lucro para aqueles que os produzem e, portanto, não recebem atenção dos investidores e nem dispõem de orçamentos elevados. Na pesquisa acadêmica que investiga obras cinematográficas, embora haja alguma exploração desse campo, o longa-metragem é também muito mais valorizado. Há nisso uma grande perda. Os curtas-metragens exercem total influência sobre a produção de cinema como um todo, uma vez que são o espaço ideal para a experimentação de novas linguagens.
    Em função de pesquisas de maior fôlego não investigarem a construção de curtas-metragens, nota-se que há um déficit de bibliografias a respeito desse formato. Embora haja uma série de artigos, monografias, dissertações e teses que têm como objeto de pesquisa os filmes curtos, não existem discussões teóricas mais amplas que busquem compreender quais as especificidades narrativas de um curta-metragem e no que elas se diferem dos longas. Ou seja, enquanto os principais livros que discutem a linguagem cinematográfica dão foco aos filmes de longa-metragem, é raro encontrar reflexões que pensem sobre as dinâmicas específicas do curta. Nesse sentido, torna-se fundamental que uma investigação mais ampla a respeito das estruturas narrativas do curta-metragem seja realizada.
    O apontamento mais comum a ser feito a respeito da diferença entre curtas e longas-metragens é a respeito de sua duração. Enquanto o longa-metragem costuma possuir entre uma hora e meia e duas de duração, o curta raramente ultrapassa os vinte e cinco minutos. Mas quando falamos da diferença de temporalidade entre os dois formatos, o que exatamente essa diferença significa?
    Ao fazer apontamentos sobre a fenomenologia da narração, Christian Metz (2019), afirma que toda narração possui um início e um fim, o que indica que ela é, então, uma sequência temporal. O autor ainda define que, quando observamos uma narrativa cinematográfica, podemos dividi-la em duas temporalidades distantes. Há o tempo da coisa-contada e o tempo da narrativa. Ou seja, há o tempo do significado e o tempo do significante. E é essa a dualidade que torna possível realizar distorções temporais, como mostrar anos da vida de um personagem em duas cenas ou fazer com que um segundo, dure longo tempo. Nesse sentido, é possível afirmar que a diferença mais evidente entre o curta o longa metragem diz respeito a duração da obra, ou seja, o tempo de significante. Mas, no que diz respeito às possibilidades de se distorcer o tempo do significado, a partir de elipses temporais e idas e voltas no tempo, há alguma diferença entre ambos? E, um questionamento ainda mais importante, uma vez que o tempo de significante é muito mais reduzido em uma obra de curta-metragem, é possível construir conflitos complexos e personagens densos nesse formato cinematográfico?
    Para responder essas perguntas, esse trabalho pretende comparar a construção narrativa do curta-metragem Palace II (2001), de Fernando Meirelles, com o longa-metragem Cidade de Deus (2002), do mesmo diretor, de modo a compreender como a temporalidade de significado se constrói em ambas as obras. Como se sabe, o curta deu origem ao filme, já explorando em sua história aspectos que seriam utilizados na construção do curta-metragem. Nesse sentido, justifica-se uma comparação entre ambos, uma vez que, em diferentes formatos, um mesmo universo se constrói.
    Com o intuito de observar a construção temporal, investigaremos, acima de tudo, a montagem dos filmes, mobilizando textos como O sentido do filme (1990), de Sergei Eiseinstein e Estética da Montagem (2010), de Vincent Amiel. Ademais, para observar aspectos da temporalidade narrativa no cinema, além do livro de Christian Metz (2019), utilizaremos as reflexões de Jost e Gaudreault em A Narrativa Cinematográfica (2009) e as considerações a respeito de tempo na narrativa de Gerard Genette (2017).

Bibliografia

    AMIEL, V. Estética da Montagem. Lisboa: Texto&Grafia, 2010

    EISENTEIN, S.M. O Sentido do Cinema. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.

    GAUDREAULT, A.; JOST, F. A narrativa cinematográfica. 1.ed. Brasília: Editora Universitária de Brasília, 2009.

    GENETTE, G. Figuras III. São Paulo: Estação Liberdade, 2017

    METZ, C . A significação no cinema. São Paulo: Perspectiva, 2019.