Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Kauffmann (USP)

Minicurrículo

    Formada em Audiovisual pela ECA-USP em 2017, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais, ECA-USP. Integrou a equipe do Laboratório de Imagem e Som da Cinemateca Brasileira entre 2016 e 2020.

Ficha do Trabalho

Título

    O som sintético artesanal de Norman McLaren

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Norman McLaren tem uma obra marcada por experimentações com o aparato do cinema. Nesta apresentação, será enfocado seu trabalho com trilhas sonoras de som sintético, desenvolvidas entre as décadas de 1940 e 1970. Buscamos apresentar o funcionamento geral da técnica de síntese sonora em película e suas sonoridades, detalhar os procedimentos utilizados em seus filmes e apresentar ferramentas de análise destas trilhas sonoras a partir de um sistema de notação gráfica.

Resumo expandido

    O cineasta escocês-canadense Norman McLaren é um dos realizadores mais influentes do cinema de animação e é reconhecido por sua obra diversa e heterogênea, marcada por experimentações com o aparato cinematográfico. Sua carreira foi dedicada à pesquisa, desenvolvimento e aprimoramento de diferentes técnicas de realização. Nesta apresentação, será enfocado seu trabalho com trilhas sonoras de som sintético, desenvolvidas entre as décadas de 1940 e 1970. Esta sonorização foi utilizada em ao menos doze filmes ao longo de sua carreira e, na maioria das vezes, era composta e executada pelo próprio McLaren. O cineasta considerava a composição destas trilhas uma maneira de se ver livre da frustração por não saber tocar um instrumento musical (MCLAREN in COLLINS, 1976, p. 76).

    A técnica utilizada pelo cineasta para a confecção destas trilhas é baseada na manipulação de pistas de som ótico. No rolo de filme, a pista de som ótico é uma estreita faixa inscrita com padrões gráficos e posicionada entre os fotogramas e as perfurações. Durante a projeção de um filme, estes padrões provocam variações de luminosidade na cabeça de som do projetor que são traduzidos em sinais elétricos e, posteriormente, ondas sonoras. A manipulação destes padrões gráficos permite ao cineasta a geração de sons artificiais, ou seja, que não foram emitidos previamente e capturados na natureza.

    A síntese sonora a partir de intervenção em pistas de som ótico foi abordada por uma série de experimentos feitos nas primeiras décadas do século XX em diferentes países da Europa. Na Alemanha da década de 1930, os animadores Rudolph Pfenninger e Oskar Fischinger desenvolveram técnicas distintas a partir da fotografia de cartões (LEVIN, 2003). Na mesma época na União Soviética, o compositor Arseny Avraamov gerava trilhas a partir de ornamentos feitos à mão para filmes de diferentes estúdios (SMIRNOV, 2013). McLaren teve contato estas experiências pregressas em sua época de estudante e escreveu sobre elas conforme desenvolvia seus próprios métodos (MCLAREN, 1976).

    Para a análise da obra de McLaren, dividimos seus métodos de síntese sonora em três, a partir do suporte utilizado: o Som Desenhado, utilizado em Dots e Loops (ambos de 1940), baseado no desenho da pista de som à tinta diretamente na película transparente; o Som Riscado, que pode ser ouvido em Blinkity Blank (1955) e Mosaic (1965), obtido através de riscos feitos com uma ponta afiada na película totalmente exposta; e o Som Animado, presente em Neighbours (1952) e Synchromy (1971), executado através da fotografia de cartões com padrões gráficos previamente estabelecidos. Com o último, o cineasta conseguia gerar escalas de notas musicais, enquanto com os dois primeiros obtinha sonoridades de caráter mais ruidoso e percussivo.

    Desenvolvemos um sistema de notação gráfica para melhor distinguir as sonoridades recorrentes na trilha destes filmes. Este processo teve início a partir do contato com métodos de análise de obras eletroacústicas, principalmente a espectromorfologia de Smalley (1997) e a adaptação de Thoresen (2007) da tipomorfologia de Pierre Schaeffer em seu Tratado dos Objetos Musicais. A partir disto, desenvolvemos um sistema de notação simplificado para servir de apoio à análise fílmica, buscando criar símbolos que remetessem aos objetos sonoros mas também às suas possíveis formas visuais.

    Esta apresentação é baseada em dissertação de mestrado desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA-ECA-USP). A partir dos escritos e notas técnicas do cineasta, buscamos demonstrar o funcionamento geral da técnica de síntese sonora em película e suas sonoridades, detalhar os procedimentos utilizados por Norman McLaren em seus filmes e apresentar ferramentas de análise destas trilhas sonoras a partir de um sistema de notação gráfica.

Bibliografia

    COLLINS, Maynard. Norman McLaren. Ottawa: Canadian Film Institute, 1976.

    LEVIN, Thomas Y. Tones from out of Nowhere: Rudolph Pfenninger and the Archaeology of Synthetic Sound. Grey Room, 12, pp. 32–79, Grey Room, Inc. e Massachusetts Institute of Technology, 2003.

    MCLAREN, Norman. Animated Sound on Film. In: RUSSET, R.; STARR, C. (Org.) Experimental Animation: An Illustrated Anthology. Nova York: Van Nostrand Reinhold, 1976. p.166-169.
    SMALLEY, Denis. Spectromorphology: explaining sound-shapes. In: Organised Sound 2(2), p.107–126. 1997.

    SMIRNOV, Andrey. Sound in Z: Experiments in Sound and Electronic Music in Early 20th Century Russia. Colônia: Verlag de Buchhandlung Walther Konig, 2013

    THORESEN, Lasse. Spectromorphological analysis of sound objects: an adaptation of Pierre Schaeffer’s typomorphology. In: Organised Sound 12(2): 129–141. Cambridge University Press,2007