Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    RODRIGO CORREA DA FONSECA (PPGCINE)

Minicurrículo

    Formado em Letras (Português/Inglês), pela Universidade Federal Fluminense. Mestre em Cinema e Audiovisual pelo PPGCINE (UFF) e possui outro mestrado em andamento em Literaturas no programa de Pós-graduação em Letras da UFF. Principais interesses.

Ficha do Trabalho

Título

    A construção de um Espaço edênico em “Me chame pelo seu nome”

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente trabalho tem como objetivo investigar a construção de um Espaço edênico no longa Me chame pelo seu nome (2017). Situando-o dentro do campo do estudos de presença, difundidos por Hans Ulrich Gumbrecht, como uma alternativa às práticas hermeneuticas, buscamos pensar o Espaço enquanto uma experiência sensorial que envolve o corpo do espectador durante o espaço-tempo do filme. Assim, o Espaço edênico é uma zona de conforto e liberdade através de um contato “corpo a corpo” com o mundo.

Resumo expandido

    O presente trabalho tem como objetivo investigar a construção de um Espaço edênico na adaptação cinematográfica do romance Me chame pelo seu nome (2012), dirigida pelo cineasta italiano Luca Guadagnino. O filme conta a história de um amor de verão entre dois rapazes em uma pequena cidade da Itália na década de 1980. Elio, dezessete anos, é lançado à amizade com um outro rapaz, alguns anos mais velho, que passará seis semanas em sua casa de verão para trabalhar em sua tese junto do pai do adolescente, o professor Pelrman. Construindo-se em torno do olhar de seu protagonista enquanto movido por uma curiosidade e desejo pelo rapaz estrangeiro, o longa abre mão de grandes arcos narrativos e aproxima-se, de algum modo, de uma estética de fluxo ( ao privilegiar os aspectos sensoriais da experiência fílmica. Além disso, ao centrar-se no desejo de um protagonista que não depara-se com impedimentos à realização de tal desejo, o filme abre-se ao espectador como uma zona de liberdade, fruição e conforto – assim, um espécie de Éden.

    Situamos nosso trabalho dentro do campo dos estudos de presença, muito difundidos pelo filósofo alemão Hans Ulrich Gumbrecht como uma alternativa às práticas hermenêuticas tão comuns nas Humanidades. Para o autor, como sujeitos daquilo que chamamos “mundo moderno”, somos, em certa medida, excêntricos ao mundo, uma vez que o experienciamos à distância, como que para interpretá-lo – aquilo que o escritor alemão chama de paradigma cartesiano do sujeito/objeto. Diante do caráter avassalador da hermenêutica enquanto campo de práticas das Humanidades, aquilo que não está além da superfície, aquilo que não é o metafísico, ou seja, o que é puramente corpóreo, ou material, é relegado ao esquecimento e à desimportância. Como uma espécie de crítica a esse modelo, o teórico alemão propõe o conceito de produção de presença.

    Parte, assim, deste raciocínio: se em toda interação entre os corpos há, por um lado, inevitavelmente, construção de sentido, também há, por outro, produção de presença. Essa, no entanto, como pode-se de imediato pensar, não refere-se a uma relação temporal, mas espacial entre os sujeitos. Um corpo está presente para o outro quando está acessível espacialmente – não há presença sem tangibilidade. Como afirma o autor: “uma coisa presente deve ser tangível por mãos humanas – o que implica, inversamente, que pode ter impacto imediato em corpos humanos. “ (GUMBRECHT, 2009, p.13) Dessa maneira, pensar a produção de presença corresponde a pensar de que modo, por exemplo, um objeto artístico atua materialmente sobre os corpos dos sujeitos com os quais mantém contato.

    Tendo como base o pensamento de Gumbrecht, buscamos pensar o espaço no cinema, a partir do longa estudado, enquanto uma experiência sinestésica que envolve o corpo do espectador no contato com o filme. Para tanto, aproximamos seus pensamentos de teorias do cinema enquanto experiência sensorial, através da leitura de autores como Laura Marks, Jennifer Barker, Steven Shaviro, Inês Gil, Erly Vieira Jr e Susan Sobchack. Além disso, convocamos as noções de paisagem sonora, de Murray Schaffer, de imagem-espaço, do francês Antoine Gaudin, e de Epifania, do próprio Gumbrecht, para auxiliar-nos na construção do pensamento sobre o espaço enquanto experiência sensível.

    Em suma, o que aqui buscamos chamar de um Espaço edênico no longa-metragem Me chame pelo seu nome, apresenta-se como uma zona de liberdade, fruição e proteção em que um contato mais “pele a pele” com o mundo é ofertado ao espectador no espaço-tempo da experiência fílmica.

Bibliografia

    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de Presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009