Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernanda Aguiar Carneiro Martins (UFRB)

Minicurrículo

    Docente do Colegiado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, coordena o LACIS – Laboratório de Análise e Criação em Imagem e Som (UFRB). Integra o grupo de pesquisa AVAL – Antropologia Visual em Alagoas (UFAL) e a ARPIA – Association de Recherche et Production d´Images en Anthropologie et Art (Paris). Possui Pós-Doutorado em Artes pela Universidade Paris I – Panthéon-Sorbonne (2019).

Ficha do Trabalho

Título

    Ousadias Femininas: o Cinema de Alice Guy

Formato

    Remoto

Resumo

    Injustiçada pelos historiadores do cinema ao longo de quase toda a sua vida, Alice Guy-Blaché (1873-1968) esteve presente nas primeiras projeções dos irmãos Lumière em 1895, a serviço de Léon Gaumont. Desde então um série de pioneirismos marca a trajetória dessa cineasta francesa tão prolífica, cuja produção compreende desde os primórdios do cinema até 1920. Cabe estudar suas personagens femininas, cujo protagonismo merece uma atenção toda especial formando um conjunto de imagens inéditas.

Resumo expandido

    Inicialmente secretária do Comptoir général de la photographie em 1894, Alice Guy (1873-1968) assistiu às primeiras projeções dos irmãos Lumière em 1895, em companhia do seu chefe Léon Gaumont. Em 1902, é designada supervisora de produção das vistas animadas. Em cinco anos, realizará mais de duzentos curtas-metragens, dos quais uma centena de fonocenas, os primeiros filmes sonoros sincronizando um filme mudo a um aparelho chamado cronofone, considerados os primeiros clips da história do cinema. Em 1907, viaja para os Estados Unidos com seu marido Herbert Blaché e funda seu próprio estúdio Solax, o maior antes de Hollywood. Em geral, exerceu as atividades de roteirista, diretora, chefe de produção, fazendo uso de efeitos especiais, split screen, uso da cor. Na entrada de sua sala no estúdio, o anúncio “Seja Natural” servira de orientação para o trabalho de interpretação.

    Em vinte e quatro anos, desfrutou de muito sucesso, à frente de mais de mil filmes, dos quais restam apenas trezentos e cinquenta, sendo vinte e dois longas-metragens. Entre seus títulos, há Um Louco e seu Dinheiro (A Fool and his Money, 1912) integrando o conjunto dos então chamados race movies com elenco inteiramente negro. Sua obra envolve vários gêneros cinematográficos tais como comédia, drama, inclusive ficção científica.

    No presente estudo, propomo-nos a analisar as figuras femininas, adultas e crianças, cujo protagonismo é digno de nota. Desde A Fada do Repolho (La Fée aux Choux, 1896) até A Órfã do Oceano ( Ocean Waif, 1916), passando por As Consequências do Feminismo (Les Résultats du Féminisme, 1906), Desejos de Madame (Madame a des Envies, 1907), Uma Heroína de Quatro Anos (Une Héroine de Quatre Ans,1907), Começando Algo (Starting Something, 1911), O Cair das Folhas (Falling Leaves, 1912), A Garota na Poltrona (The Girl in the Armchair,1912), Uma Casa Dividida (A House Divided,1913) e Casamento às Pressas (Matrimony´s Speed Limit, 1916), observa-se a criação de personagens femininas incríveis por vezes capazes de enfrentar desafios os mais difíceis. Entre estes, há a “heroína de quatro anos” ao se deparar com os mais variados perigos tal como assalto e iminência de atropelamento, em passeio durante o qual a babá adormece sentada em banco de praça. Acrescente-se a isso a morte iminente da irmã doente em O Cair das Folhas, cuja iniciativa desesperada e inusitada da jovem Trixie termina por a salvar, graças ao conhecimento de médico especialista. Se em A Fada do Repolho a magia e o fantástico têm lugar, graças à presença dessa protagonista, responsável pela concepção de bebês em repolhos; em Desejos de Senhora, eis a vez da comédia com a protagonista cuja condição de grávida lhe permite realizar uma série de peripécias como, por exemplo, furtar doce, bebida alcoólica, comida e cachimbo. As Consequências do Feminismo e Começando Algo ensejam igualmente o riso, mas neles o tema da inversão de papéis entre homens e de mulheres e da sufragista, respectivamente, ganham ares de seriedade, suscitando uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, desde os afazeres domésticos até a função de presidente. Se A Garota na Poltrona e A Órfã do Oceano manifestam o tema da conquista amorosa, em A Órfã a ação se complica à medida que abarca um trio. Por sua vez, Uma Casa Dividida e Casamento às Pressas envolvem relações entre casais cujo deslanchar de problemas requerem soluções improváveis.

    Face aos temas abordados, de modo a valorizar as personagens femininas, todas dotadas de iniciativa e de vida própria, cabe reconhecer os preâmbulos do female gaze na obra cinematográfica de Alice Guy. Eis o caso de repertoriar e conferir um conjunto de imagens criadas em sua produção, indo além do reparo historiográfico ainda tão necessário quanto às profissionais da sétima arte. Sob essa perspectiva, @naeradofemalegaze no Instagram busca oferecer uma seleção de imagens, fruto de estudos do Cinema Francês e do Feminismo.

Bibliografia

    ACKER, A. Reel Women – Pioneers of the Cinema, 1896 to the present, New York: Continnum Company, 1991.

    FLITTERMAN-LEWIS, S. To Desire Differently – Feminism and the French Cinema, New York: Columbia University Press, 1996.

    GREEN, P. B. Be Natural: The Untold Story of Alice Guy-Blaché, Estados Unidos, 105 min, 2018.

    GUY-BLACHÉ, A. et al. Les Pionnières du cinéma, 4 DVDs/ 9h/ encarte, Paris: Lobster Films.

    HOLANDA, K. (org.). Mulheres de Cinema, Rio de Janeiro: Numa, 2019.

    JANSEN, C.. Girl on Girl – Art and Photography in the Age of the Female Gaze, Hong Kong: Laurence King Publishing, 2021.

    MULVEY, L. “Prazer Visual e Cinema Narrativo” In. XAVIER, Ismail (org.). A Experiência do Cinema – uma Antologia, 4ª ed., Rio de Janeiro: Graal, 2008.

    PERROT, M.; DUBY, G. História das Mulheres – Vol. 5: Século XX, trad. Maria Helena Coelho et al., Porto: Afrontamento, 1991.

    SIETY, E. La Plan, au commencement du cinéma, Paris : Cahiers du Cinéma/les petits cahiers/ CNPD, 2001.