Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Francieli Rebelatto (UNILA)

Minicurrículo

    Fran Rebelatto é doutora em Cinema e Audiovisual pela UFF. Professora de Cinema e Audiovisual na Unila, atuando na área de direção de fotografia e América Latina no Cinema e Audiovisual. Integra o Grupo de pesquisa “Cinematografia, expressão e Pensamento”. Atua como diretora, roteirista e fotógrafa, tendo realizado, entre outros filmes, “Pasajeras’ (2021), ‘Fronteira-mulher: um ensaio’ (2019), ‘3 retratos’ (2016) e ‘Do amor: pequenas coisas’ (2015).

Ficha do Trabalho

Título

    Paisagem e personagem no quadro cinematográfico:novas sínteses visuais

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    Este ensaio se propõe a analisar filmes realizados na fronteira entre a Argentina, Brasil e Paraguai que acionam em suas narrativas a centralidade da relação entre natureza e personagem nesses territórios. É no quadro cinematográfico e, a partir da expressão criativa da direção de fotografia, que a palheta de cores marcada pelo verde da Selva Missioneira, a presença dos grandes rios e a terra vermelha convoca as personagens a diversas travessias afetivas.

Resumo expandido

    A região da fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai é caracterizada por uma paisagem natural marcada pela presença da terra vermelha/roja, da presença marcante dos grandes rios e do verde da Mata Atlântica que na Argentina é conhecida como Selva Misionera. Essa relação entre natureza e homem se expressa em diferentas travessias e deslocamentos pelos espaços urbanos e rurais da região. Filmes como Pasajeras (2021), Pela Janela (2017) e Del Lados de los Frágiles (2019) acionam em suas puestas-em-escena essa relação da paisagem que, não é somente pano de fundo para a ação das personagens, se não que também, corrobora para mudanças afetivas de diversos tipos de personagens em seus mais diversos conflitos sociais e psicológicos.
    Temos nos dedicado nestes últimos anos a nos aproximarmos destas filmografias realizadas nos territórios ao Sul do continente latino-americano (Rebelatto, 2020; 2021) destacando a relação entre território de fronteiras, o debate da relação entre o cinema e a paisagem, em especial, por meio da consciência do trabalho criativo e decisivo da direção de fotografia nessas histórias. Ainda, chamando atenção para a centralidade das personagens mulheres e seus deslocamentos afetivos neste conjunto de filmes contemporâneos.
    Neste ensaio propomos-nos a avançar nesta aproximação, pois, ao mesmo tempo em que, buscamos ler, desde outras perspectivas os longas-metragens Pasajeras (2021, de nossa autoria) e Pela Janela (2017, de Caroline Leone), analisamos o curta-metragem Del Lado de los fragiles (2019, de Guilherme Rovira). Os três textos fílmicos realizados na região de Misiones tem em suas características paisagísticas a força da palheta de cores marcadamente registrada por meio da terra vermelha, do verde da mata atlântica e do azul contrastado do céu que se reflete também nas águas dos grandes rios.
    Nosso interesse é perceber como a exuberância e a presença marcante das características desta paisagem corroboram no trabalho criativo dos (as) diretores (as) de fotografia que, nesta região, são desafiados a imprimir no quadro cinematográfico essa relação afetiva construída entre personagem e natureza. O trabalho criativo da direção de fotografia aciona a produção de novas sínteses visuais e, com isso, novas formas de nos aproximarmos, por meio do cinema, da realidade dessas regiões, historicamente caracterizadas à margem.
    Alain Baudiou (2015), ao entender o cinema como uma arte impura, que demanda a depuração dos materiais da realidade, entende que a arte cinematográfica parte do material dado da realidade, daquilo que pode ser chamado de “repertório contemporâneo das imagens”, reelaborando-o e criando novas sínteses. Conforme o autor, cabe ao cinema e aos cineastas aceitarem a complexidade infinita deste acúmulo de matéria-prima e tirar alguma pureza disso para a produção de novas sínteses. Para produzir essas novas sínteses no cinema, a partir da depuração dos materiais da realidade, as condições de fabricação são muitas e inteiramente singulares. Mobilizam-se recursos técnicos e materiais complexos e heterogêneos. Conforme descreve Baidou (2015), “são necessários locações, cenários naturais ou construídos, espaços. Um texto, um roteiro, diálogos, ideias abstratas. E preciso dispor de corpos de atores e, num estágio posterior, de uma química e de um sistema eficiente e coordenado de aparelhos de montagem” (Badiou, 2015, p.67).
    O intento deste ensaio, portanto, é entender o processo de depuração da matéria-prima que os (as) diretores (as) de fotografia tem ao seu dispor a partir desta relação entre natureza/paisagem e personagens e, com isso, como acionam, em seus processos de criação, a elaboração de novas sínteses cinematográficas que tratem dos territórios e suas paisagens, em diálogo com a história de personagens e seus deslocamentos afetivos.

Bibliografia

    BADIOU, Alain. O Cinema como experimentação filosófica. In: YOEL, Gerardo (org). Pensar o Cinema. São Paulo: Imagem, Ética e Filosofia, 2015.

    REBELATTO, Fran. Fronteiras no cinema: deslocamentos territoriais, de gênero e cinematográficos em filmes produzidos na Argentina e no Paraguai. In: Trânsitos e subjetividades latino-americanas no cinema/ Eduardo Dias Fonseca (Org.); Fábio Allan Mendes Ramalho (Org.). Foz do Iguaçu: EDUNILA, 2020.
    __________________. Cinema e fronteiras: territórios, paisagens e mulheres no quadro cinematográfico de filmes latino-americanos realizados entre argentina, brasil, paraguai e uruguai. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual na UFF, 2021.