Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Suzana Reck Miranda (UFSCar)

Minicurrículo

    Bacharel em música (piano) pela UFSM, mestre e doutora em Multimeios (cinema) pela UNICAMP. Professora Associada do Departamento de Artes e Comunicação (DAC) e do Programa de Pós-Graduação de Imagem e Som (PPGIS), ambos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É pesquisadora e autora de vários textos (artigos e capítulos de livros) sobre som e música no cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Uma compositora em “O Filme da Minha Vida”: percursos e percalços

Seminário

    Cinemas mundiais entre mulheres: feminismos contemporâneos em perspectiva

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta pesquisa investiga a presença de mulheres na autoria de trilhas musicais no cinema brasileiro e pretende dar visibilidade aos poucos nomes existentes – que praticamente permanecem apagados na bibliografia sobre música e cinema no Brasil. O recorte desta comunicação é sobre a trilha musical que Monique Aragão compôs para “O Filme da Minha Vida” (1991), de Alvarina Souza Silva, filme cujos rastros documentam as agruras de uma mulher pobre e periférica na realização de seu primeiro longa.

Resumo expandido

    “O Filme da Minha Vida” (1991), primeiro longa de Alvarina Souza Silva, conta a singular história de sua realizadora: uma menina pobre, nascida em Ceres – interior de Goiás, que sonha em fazer filmes. Aos 18, ela foge para o Rio de Janeiro e consegue trabalhar como doméstica na casa de Luiz Carlos e Lucy Barreto. Aos poucos, com a ajuda dos patrões, Alvarina adentra sets de filmagem e tenta fazer de tudo: de servir café a pequenas assistências. Insiste em sua paixão e começa a integrar a equipe de produção de alguns curtas-metragens e longas. A jovem consegue realizar seu primeiro curta, “Alice na Cidade Maravilhosa”, em 1987, e o segundo, “Retratos Rasgados”, em 1988. Paralelamente, assina a produção e/ou produção executiva de várias produções pequenas e, em 1990, atua como assistente de produção no longa “Boca de Ouro”, de Walter Avancini.

    É neste mesmo ano que o autobiográfico “O Filme de Minha Vida” começa a ser rodado. Nele, Dira Paes interpreta Alvarina, que faz ‘’das tripas coração para fazer seu longa, filma com sobras de negativos, usa negativos velados, esbraveja (…)” (SHILD, 1991). A verdadeira Alvarina, de fato, utilizou material reaproveitado, e contou com a colaboração de técnicos que foi conhecendo nos sets nos quais trabalhou. Em condições altamente precárias, ao longo de 11 meses (com inúmeras interrupções), ela insistiu em seu projeto e, sem condições de terminá-lo, inseriu na montagem seus curtas – para inteirar os 80 minutos necessários. A obra, que na ficção e em sua realidade retrata a sofrida empreitada de uma mulher pobre e periférica ao fazer um longa no Brasil, sobretudo no ano em que a Embrafilme foi extinta, foi selecionada e exibida nos Festivais de Cinema de Gramado e de Havana (Cuba), não sem motivar polêmicas.

    Monique Aragão, pianista e compositora carioca, é a autora da trilha musical original do filme. Foi o diretor de fotografia Nonato Estrela quem a indicou para Alvarina – ao ter ciência de que ela toparia compor a música de graça. A realizadora goiana conseguiu arcar com os custos da gravação e assim nasce a única trilha que Monique fez para o cinema, embora tenha uma carreira sólida como compositora, inclusive para peças de teatro e dança. Alvarina reaproveitou os temas de Monique em outros dois longas que dirigiu: a ficção” Cartas de Amor São Ridículas” (2016) e o recente documentário “O Filme de Minha Vida” (2020), exibido na 15a Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP), no qual ela reflete sobre o seu primeiro longa homônimo, num processo de reviver sua própria biografia.

    No intuito de problematizar a baixa presença de mulheres na autoria de trilhas musicais no cinema brasileiro e de dar visibilidade aos poucos nomes existentes – que praticamente permanecem apagados na bibliografia sobre música e cinema no Brasil – esta comunicação resgata como foi o processo de criação de Monique Aragão para o filme de Alvarina, bem como sobre um projeto que ela recentemente colocou em prática – junto ao festival de Cinema de Alter do Chão (Fest Alter). Trata-se de uma premiação especial para mulheres que estão iniciando na composição de trilhas para filmes.

Bibliografia

    ARAGÃO, Monique. Entrevista concedida a MIRANDA, Suzana Reck. Rio de Janeiro, 03 de maio de 2022.

    MIRANDA, Suzana Reck e TAÑO, Debora Regina. “Nas Trilhas das Mulheres: compositoras e cinema no Brasil”. In: TEDESCO, Marina C. (org.) Trabalhadoras do Cinema Brasileiro: mulheres muito além da direção (1a Ed.). Rio de Janeiro, Nau, 2021, p. 123-142.

    NETO, Antônio Leão da Silva. Dicionário De Filmes Brasileiros (1a Ed.) São Paulo: Futuro Mundo, 2002.

    SILVA, Alvarina Souza. Entrevista concedida ao site Mulheres do Cinema Brasileiro. Belo Horizonte, 05/07/2020. [disponível em: , acesso em 04/03/2022].

    SHILD, Susana. “Gramado entre palmas e vaias: público começa a esquentar mesmo com filmes fracos”. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 09/08/1991. Caderno B, p. 7.