Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Tetê Mattos (Maria Teresa Mattos de Moraes) (UFF)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação (UERJ/2018) e professora do Departamento de Arte da UFF desde 1998.
    Dirigiu documentários premiados “Era Araribóia um Astronauta?” (1998), “A Maldita” (2007), “Fantasias de Papel” (2015) e “A Maldita” (longa, 2019). “O mambo da Cantareira”, (em produção).
    Dirigiu o Araribóia Cine – Festival de Niterói. Exerce atividades de curadoria, consultoria e júri em festivais audiovisuais.
    Integra grupo de pesquisa Festivais de cinema e audiovisual: histórias, políticas e prática.

Ficha do Trabalho

Título

    PREMIAÇÃO EM FESTIVAIS AUDIOVISUAIS NO BRASIL: PRÁTICAS E SENTIDOS

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação buscará refletir sobre a cultura de premiação nos festivais de cinema e audiovisual no Brasil, analisando as estratégias políticas e de sentido de suas práticas. É de nosso interesse pensar os festivais e seus sistemas de premiação [júri, categorias de prêmios, troféus, cerimônias, protocolos] como instâncias de poder e legitimação, e as múltiplas relações culturais, sociais e políticas que estes estabelecem com os cineastas, os públicos, a mídia, os patrocinadores, e a crítica.

Resumo expandido

    Em “Fostering art, adding value, cultivating taste” [Promovendo a arte, agregando valor, cultivando o gosto], Marijke De Valck parte da abordagem sociológica baseada nos conceitos de “campo”, “capital” e “habitus” do sociólogo francês Pierre Bourdieu para elucidar as estruturas e princípios que fundamentam a existência de um circuito de festivais de cinema. O ensaio é conduzido pela pergunta: o que diferencia a exibição de filmes nos festivais de cinema da exibição de filmes em salas de cinema comercial?
    De forma bastante sintética, podemos observar que, no que tange ao campo, a exibição dos filmes em festivais de cinema se baseia na ênfase no caráter artístico/estético da obra. A autonomia que caracteriza esses eventos em relação à exibição comercial (preocupada com a rentabilidade do produto cultural impulsionado pelas receitas de bilheteria) faz os festivais incorporarem normas artísticas e princípios de avaliação como seu principal modelo. A programação dos festivais de cinema se apoia em princípios da história do cinema e na qualidade estética dos filmes. De Valck observa:
    “O principal capital nestes nichos é o simbólico: prestígio, honra e reconhecimento. (…) Devido a tal ênfase em critérios de seleção festivais de cinema são capazes de oferecer o que é chamado de legitimação cultural; seleção para um festival traz reconhecimento cultural para o filme e seus criadores porque serve como marca de qualidade” (DE VALCK, 2016, p.105).
    Assim, os filmes exibidos num festival de cinema são incorporados num rico contexto discursivo que promove o filme: o espaço na programação do festival (mostra competitiva, mostra homenagem, mostra retrospectiva, entre outras), a presença dos diretores e equipe para apresentar o filme e debatê-lo, a produção escrita sobre o filme (textos no catálogo, crítica especializada, entrevistas), a presença da imprensa credenciada e especialmente a concessão de prêmios. De Valck aponta:
    “Prêmio ou condecoração é a forma mais tangível de capital simbólico. Além disso, competições e suas premiações têm valor de notícias necessárias para atrair os críticos de cinema que vão escrever matérias, resenhas, críticas sobre a programação do festival de uma posição de autoridade e qualificada que podem amplificar a legitimação cultural que é oferecida pela seleção do festival”. (DE VALCK, 2016, p.106).

    Nesta comunicação buscaremos refletir sobre a cultura de premiação nos festivais de cinema e audiovisual no Brasil, analisando as estratégias políticas e de sentido de suas práticas. É de nosso interesse pensar os festivais e seus sistemas de premiação [júri, categorias de prêmios, troféus, cerimônias, protocolos] como instâncias de poder e legitimação, e as múltiplas relações culturais, sociais e políticas que estes estabelecem com os cineastas, os públicos, a mídia, os patrocinadores, a crítica e outros atores da cultura cinematográfica.
    Boa parte dos festivais de cinema no Brasil segue uma lógica de premiação baseada em modelos de competição de festivais internacionais generalistas. Porém, alguns outros eventos renunciam a estes modelos – símbolos de opulência e prestígio que reforçam a hierarquia e distinção entre os filmes / cineastas – para propor uma outra configuração e estrutura de organização baseada na não-competição e na valorização de práticas não-hegemônicas, de certa forma descolonizadoras, e mais condizentes com o contexto cinematográfico brasileiro e o perfil do festival em questão.
    O nosso interesse aqui é, através de um percurso histórico-temporal, analisar alguns momentos onde o tema da estruturação da premiação ganhou centralidade e relevância nos debates dos festivais. Quais sentidos das premiações na legitimação dos filmes? Como espectadores se relacionam com práticas de prêmios de público em contextos marcadamente cinéfilos? Quais valores estão expressos no artefato troféu? Quais sentidos de estruturação de um festival não-competitivo?

Bibliografia

    BOURDIEU, A distinção – Crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2011.

    DE VALCK, Marijke. “Fostering art, adding value, cultivating taste: film festivals as sites of cultural legitimization”. In: DE VALCK, Marijke, KREDELL, Brendan & LOIST, Skadi. Film Festival – History, theory, method, practice. London and New York: Routledge, 2016.

    ELSAESSER, Thomas. “Film Festival Network: The New Topographies of Cinema in Europe”. In: European Cinema: Face to Face with Hollywood. Amsterdam: Amesterdam University Press, 2005. P. 82-107.

    MATTOS, Tetê. O Festival do Rio e as configurações da cidade do Rio de Janeiro. 2018. Tese (Doutorado em Comnicação) Programa de Pós Graduação em Comunicação, Faculdade de Comunicação Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

    VALLEJO, Aida (2020): Rethinking the canon: the role of film festivals in shaping film history, Studies in European Cinema, DOI: 10.1080/17411548.2020.1765631