Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabio Silvestre Cardoso (UAM)

Minicurrículo

    Doutor em América Latina pela Universidade de São Paulo, mestre em Comunicação Contemporânea pela Universidade Anhembi Morumbi, jornalista de formação pela Universidade Anhembi Morumbi. Autor do livro “Capanema” (Record, 2019). No mestrado, estudou a obra do cineasta Sergio Bianchi; no doutorado, o conceito de periferia, segundo os autores Beatriz Sarlo e Roberto Schwarz.

Ficha do Trabalho

Título

    Entre o passado e o futuro: o cinema de Adam Curtis

Formato

    Presencial

Resumo

    Doutor em América Latina pela Universidade de São Paulo, mestre em Comunicação Contemporânea pela Universidade Anhembi Morumbi, jornalista de formação pela Universidade Anhembi Morumbi. Autor do livro “Capanema” (Record, 2019). No mestrado, estudou a obra do cineasta Sergio Bianchi; no doutorado, o conceito de periferia, segundo os autores Beatriz Sarlo e Roberto Schwarz.

Resumo expandido

    “Can’t get out of my head” é um documentário dividido em seis partes assinado pelo cineasta Adam Curtis. De proposta ambiciosa, o filme se notabiliza por apresentar uma leitura que explora as razões para que o mundo tivesse alcançado o atual estado de coisas. Desse modo, Curtis resgata e comenta a história política e a história das ideias de parte do século XX (da China aos Estados Unidos, passando pela Europa, além de citar os conflitos no continente africano); faz a crônica das mudanças comportamentais e culturais vividas pelo Ocidente (com ênfase na Europa e nos Estados Unidos); além de discutir os efeitos das crises econômicas recentes (com destaque para o ano de 2008). Este verdadeiro tour de force está no centro das atenções deste trabalho não somente para analisar a proposta do referido diretor, mas essencialmente para observar quais são os recursos adotados por Adam Curtis para construir essa narrativa, uma vez o documentarista apela para um conjunto de imagens disponíveis no vasto acervo da BBC, bem como elabora o documentário com uma perspectiva romanesco-ensaística, tal como um escritor literário que concebe uma narrativa que pactua um consenso com o seu público à medida que a série avança.

    Nesse sentido, de um lado, o presente trabalho se estrutura a partir das referências teóricas relacionadas ao cinema documentário; e, de outro, articula elementos da teoria literária e do gênero “ensaio” para identificar quais são as possíveis marcas autorais de Adam Curtis que tomam como referência elementos da prosa textual.

    Para tanto, o trabalho se vale de textos teóricos sobre o gênero documentário (“Mas, afinal, o que é mesmo documentário?”, de Fernão Pessoa Ramos; “Introdução ao Documentário”, de Bill Nichols); uma coletânea de artigos que reflete a intersecção entre história e o gênero documentário (“História e Documentário”, organizado por Eduardo Moretin, Marcos Napolitano e Mônica Kornis); e livros que apresentam o gênero romance enquanto forma (“Anatomia da Crítica”, de Northop Frye; “A arte do romance”, de Milan Kundera; e “As estruturas narrativas”, de Tzvetan Todorov).

    Ainda a propósito do formato, este trabalho problematiza a construção de uma narrativa totalizante no contexto da pós-modernidade. Será que Adam Curtis se vale de uma abordagem moderna, aquela dos grandes relatos, para discutir um fenômeno pós-moderno (ou da modernidade tardia)? Para responder a essa pergunta, toma-se como referências as obras de Bruno Latour (“Jamais fomos modernos”) e Jean-François Lyotard (“A condição pós-moderna”), buscando identificar, ainda, qual é a filiação da interpretação de Curtis. Já do ponto de vista da História como disciplina, este trabalho busca conexões entre as referências de Eric Hobsbawm (“A era dos Extremos”); Tony Judt (“Pós-Guerra”); e Jill Lepore (Estas verdades”). A escolha dessas obras se justifica porque os três autores, para além do fato de pertencerem ao edifício “anglo-saxão” (dialogando, portanto, com a origem de Adam Curtis), também escrevem relatos abrangentes da história, cobrindo, por assim dizer, boa parte do século XX.

    Como documentário, “Can’t get out of my head” propõe uma leitura interdisciplinar, tomando como eixo grandes acontecimentos em diversas áreas, buscando no passado o sentido para o tempo presente. Este trabalho pretende analisar quais os elementos centrais utilizados para documentar a história.

Bibliografia

    FRYE, Northop. “Anatomia da crítica”. São Paulo: É Realizações, 2014.

    HOBSBAWM, Eric. “A era dos extremos”. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

    JUDT, Tony. “Pos-Guerra”. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

    KUNDERA, Milan. “A arte do romance”. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

    KORNIS, MORETIN e NAPOLITANO (org.) “História e documentário”. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.

    LATOUR, Bruno. “Jamais fomos modernos”. São Paulo: Ed. 34, 2019

    LEPORE, Jill. “Estas verdades”. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

    LLYOTARD, Jean-François. “A condição pós-moderna”. Rio de Janeiro: José Olympio, 2021.

    NICHOLS, Bill. “Introdução ao documentário”. Campinas: Papirus Editora, 2016.

    RAMOS, Fernão Pessoa. “Mas, afinal, o que é mesmo documentário?” São Paulo: SENAC, 2008.

    TODOROV, Tzvetan. “As estruturas narrativas”. São Paulo: Perspectiva, 2011.