Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Letícia Moreira de Oliveira (UNICAMP)

Minicurrículo

    Mestranda em Multimeios (Instituto de Artes – UNICAMP), com orientação da profa. dra. Karla Bessa, e bacharel em Comunicação Social – Produção Cultural (UFBA). Membro do Elviras: Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema; Editora do site Mais Que Sétima Arte. Experiência com Comunicação, Produção Audiovisual, Edição de Vídeo, Atuação para Cinema e Facilitação Pedagógica para EAD. Pesquisadora com ênfase nos Estudos de Recepção, Teorias Feministas de Cinema, Estudos de Gênero e Estudos Decoloniais.

Ficha do Trabalho

Título

    Super-Heroínas da Marvel:Gênero, Colonialidade e Retóricas Neoliberais

Formato

    Presencial

Resumo

    Ancorada nas noções de Colonialidade de Gênero (Lugones, 2020), Representação (hooks, 2019) e nos trabalhos sobre Feminismos Neoliberais e as Economias de Visibilidade (Fraser, 2019; Banet-Weiser, 2015), proponho analisar traços da construção das super-heroínas protagonistas de filmes recentes da Marvel (Homem Formiga e a Vespa, 2018; Capitã Marvel, 2019; Viúva Negra, 2021), observando como e em quais dimensões a retórica neoliberal e a colonialidade atravessam o gênero nos discursos fílmicos.

Resumo expandido

    Desde Mulher Maravilha (2017, DC Films), a indústria blockbuster de super-heróis ensaia ampliar brechas às personagens femininas, esforço que acompanha uma tímida inserção de mulheres nas esferas de criação e pós-produção. Tal movimento dialoga com uma expansão de iniciativas que investigam as relações entre gênero, mulheres e cinema, dentro e fora das telas. No contexto do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), a estreia de Capitã Marvel (2019), primeiro filme com protagonismo feminino do estúdio, inaugura uma nova fase para as suas heroínas, dentre as quais a mais famosa só teve seu filme solo recentemente, o Viúva Negra (2021).

    Falar de super-heroísmos suscita pensar sobre um tipo de sujeito ou, em alguma instância, de uma humanidade que, por seu caráter “super”, estaria além do que seria seu contraponto inevitável – um “humano padrão”. Pressupõe-se, assim, uma hierarquização e classificação social dos corpos. Isso encentra no debate a discussão sobre quais corporalidades e subjetividades são autorizadas, nos enunciados fílmicos do mainstream globalizado, a representar esse status privilegiado em uma concepção de mundo diegético que reverbera as bases dos sistemas-modernos-coloniais-patriarcais.

    Quando María Lugones (2020) toma o gênero como categoria moderno-colonial, ela amplia e complexifica as dimensões políticas e econômicas que atravessam a representação dos corpos e suas performances. Banet-Weiser (2015) afirma que nas imagens midiáticas contemporâneas prevalece uma “economia de visibilidade” na qual o principal produto é o corpo feminino, abrindo pistas para observarmos como as elaborações discursivas nestes produtos parecem alinhar-se a uma tendência de enfraquecimento do teor político da representação. Nos universos Marvel, nota-se como as personagens tensionam padrões hegemônicos imbricados na colonialidade, como a domesticidade e separação de papéis sexuais, ao passo em que negociam com estruturas moderno-coloniais, como a noção de poder atrelada à lógica belicista, à branquitude, à heteronormatividade binarista, à racialização dos povos e aos espaços capitalistas, privilegiando uma noção de empoderamento individual filiada a uma sensibilidade neoliberal. É patente ainda o predomínio da violência, manipulação e dominação das personagens femininas em suas relações com personagens masculinos. Estes traços aparecem ainda como motor nas jornadas e subjetivações femininas.

    “Eu quero que você seja sua melhor versão”, frase repetida por um vilão à Capitã Marvel, carrega uma série de percepções atuais sobre “empoderamento feminino” e seus usos políticos e midiáticos. Parto dessa expressão rumo à tentativa de, com este trabalho, entender quais são as “melhores versões de si mesmas” encarnadas pelas super-heroínas. Proponho, portanto, uma discussão ancorada nas noções de Colonialidade de Gênero (Lugones, 2020), de representação (hooks, 2019), e nos trabalhos sobre feminismos neoliberais (Fraser, 2016) e sobre as Economias de Visibilidade (Banet-Weiser, 2015) para analisar traços da construção das super-heroínas em filmes recentes do UCM com mulheres protagonistas, sendo eles Homem Formiga e a Vespa (2018); Capitã Marvel (2019) e Viúva Negra (2021), notando como e em quais dimensões a retórica neoliberal e a colonialidade atravessam o gênero nos discursos fílmicos.

    Proponho uma metodologia híbrida que une perspectivas e ferramentas dos estudos feministas do cinema, em especial as análises de representação, e alguns conceitos mobilizados nos feminismos decoloniais, de modo a abrir horizontes e perspectivas feministas pluriversais. Como hipóteses iniciais, penso que esses produtos tensionam representações normativas de grupos minoritários em negociação direta com as noções de “visibilidade” e “empoderamento” mas sem desestabilizar, propriamente, as bases do sistema capitalista e colonial que justamente concebe e mantém as opressões. Tendo em conta a evidente amplitude das questões, as discussões não serão esgotadas.

Bibliografia

    BANET-WEISER, Sarah. Keynote address: media, markets, gender: economies of visibility in a neoliberal moment. The Communication Review, Charlottesville, v. 18, n. 1, p. 53-70, 2015.

    BERTH, Joice. Empoderamento. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

    FRASER, Nancy. O feminismo, o capitalismo e a astúcia da história. Mediações. V. 14, nº 22, 2019.

    HOOKS, bell. Olhares Negros: Raça e Representação. São Paulo: Elefante, 2019.

    LUGONES, María. Colonialidade e Gênero. In: BUARQUE, H. de H (Org.). Pensamento Feminista Hoje: Perspectivas Decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. p. 53-83.

    LUGONES, María. Heterosexualism and the Colonial/Modern Gender System. Hypatia. V. 22, nº 1, p. 186 – 219.

    ROELOFS, Monique. Navigating Frames of Address: María Lugones on Language, Bodies, Things, and Places. Hypatia. Vol. 31, nº 2, 2016.

    VERGÈS, Françoise. Um Feminismo Decolonial. São Paulo: Ubu Editora, 2020.